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Além dos adversários, Colômbia tem que derrotar o preconceito fora de campo

Repercussão internacional da boa campanha traz à tona piadas sobre o narcotráfico

postado em 01/07/2014 20:12 / atualizado em 01/07/2014 20:39

Redação /Superesportes

Internet/Reprodução

Há 16 anos sem participar da Copa do Mundo, a Colômbia do craque James Rodríguez, que se destacou como um dos maiores goleadores da competição, vive a glória dentro dos gramados e um drama fora deles. É que nem mesmo a beleza das jogadas e dos gols marcados pela seleção - um deles anotado pelo próprio James, na partida que eliminou o Uruguai, e que está entre os mais bonitos do Mundial - conseguem apagar a história que muitos colombianos querem deixar para trás: o narcotráfico no país.

A situação dramática envolvendo o tráfico de drogas, que até 2012 respondeu pelo deslocamento interno de mais de 3,9 milhões de colombianos e pela saída de 395 mil pessoas do país, segundo dados da Acnur, agência da ONU para Refugiados, mesmo no momento do Mundial, se torna o centro de piadas de humoristas, cartunistas e personalidades, em veículos de comunicação e nas redes sociais.

E não é de hoje que a referência à história incomoda os colombianos. Em 2008, a cantora Carla Bruni mobilizou o ministro dos negócios estrangeiros, que se sentiu ofendido com a letra da música Tu es ma came, ou Você é meu vício, que tem na letra a passagem: “você é meu vício, mais mortal que a heroína afegã, mais perigoso que a cocaína colombiana.”

Dessa vez, em meio a uma Copa do Mundo onde a Seleção Colombiana tem chamado a atenção do resto do mundo, a última polêmica foi a publicação de uma caricatura exibida por uma rede de TV belga antes do jogo contra o Uruguai, que dizia “a Colômbia respira confiança” e exibia três jogadores cheirando cocaína em pleno campo. A brincadeira pegou tão mal que o embaixador colombiano em Bruxelas, Rodrigo Rivera, informou que enviaria uma carta de protesto pela caricatura.

Antes disso, a atriz holandesa Nicolette Van Dam, que tinha o cargo de embaixadora da boa vontade na Unicef, cometeu uma gafe ao publicar no Twitter uma montagem em que os jogadores Falcão García e James Rodriguez apareciam cheirando cocaína em campo. Logo depois da confusão, Nicolette pediu demissão do cargo.

A emissora australiana Triple M também associou o país à cocaína e provocou o envio de uma queixa formal pela chancelaria da Colômbia no país. Na véspera da partida entre Colômbia e Costa do Marfim, em 18 de junho, os apresentadores Matt Tilley e Joe Hildebrand disseram que o país “é mais conhecido pela cocaína que pelo café”. “A equipe da Colômbia foi descrita como a de um país de cafeicultores, mas, eu me pergunto, será que são reconhecidos pelo café? Parece que quando alguém menciona a Colômbia a primeira coisa que as pessoas lembram é da cocaína”, comentaram durante o programa The One Percenters. Na carta enviada aos diretores da emissora, a chancelaria destacou que esses comentários "ofendem seriamente uma nação como a Colômbia, líder na luta contra o problema mundial das drogas, flagelo que causou um grande sofrimento ao país".

Uma piada feita pelo humorista brasileiro Léo Lins, no programa “The Noite”, de Danilo Gentilli, também irritou os colombianos. O comediante ironizou o fato de nenhum jogador ter sido pego no exame de doping. “Muita gente achou surpresa a Colômbia ficar em primeiro. Para mim, a surpresa foi nenhum jogador colombiano ser pego no doping. E Urguai e Colômbia é um jogo perfeito: uma fabrica a droga e a outra legalizou. Então, agora está ótimo. Eu acho que, independente do resultado do jogo, o vitorioso será o tráfico”, disse o humorista.

Twitter/Reprodução

 

Saiba mais sobre o narcotráfico na Colômbia

O tráfico de drogas ilícitas na Colômbia remonta à década de 1960, quando o país aumentou sua produção de maconha com fins comerciais. Mas foi na década seguinte, com a produção de cocaína em grande escala e o surgimento de grandes cartéis, que a imagem do país passou a ser associada ao narcotráfico. O fato de ser, durante décadas, o maior produtor de cocaína do mundo fez com que o comércio de droga se infiltrasse na vida social e política do país. Desde a década de 1960, grupos guerrilheiros de esquerda e, posteriormente, paramilitares de extrema-direita atuam no país.

Com a prorrogação do conflito até os dias de hoje, esses grupos consolidaram uma relação com grandes cartéis e redes de tráfico internacional para financiar suas campanhas. A Colômbia, historicamente, mantém grande proximidade com os Estados Unidos e desenvolveram uma parceria militar com forte influência na política local. A produção e o comércio da droga não são exclusivos da guerrilha, mas se estendem com grande influência na esfera política e judicial, alimentando a corrupção e perpetuando problemas crônicos como a concentração de terras, a desigualdade de renda, o enorme número de refugiados e a violência.