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ATLETAS OLÍMPICOS

Seis meses após a Olimpíada no Rio, atletas mineiros vivem quadro de instabilidade

Corte de bolsa do governo federal e fuga de patrocínio preocupam

postado em 27/02/2017 12:19 / atualizado em 27/02/2017 12:29

Divulgação
No Brasil, é comum a corrida pelos atletas quando uma competição importante como a Olimpíada se aproxima. Uma chuva de patrocinadores em disputa, com a hipótese de ter sua marca levada ao pódio. Encerrado o ciclo de competições de alto nível, o desafio é sobreviver num mercado sem tanta tradição em atletismo. Seis meses depois dos Jogos do Rio’2016, a situação de atletas mineiros vai aos dois extremos. Parte está desamparada e terá de conviver com fantasmas do passado, o que implica conseguir um emprego convencional e treinar nas horas vagas, o que pode comprometer a carreira. Há, porém, os que foram integrados a programas de longo prazo, como o projeto das Forças Armadas, que engajaram competidores primeiramente para representar o país nos Jogos Mundiais Militares e acabaram ‘adotados’ profissionalmente. Exército, Marinha e Aeronáutica bancam atletas de diferentes modalidades, o que lhes permite receber salário mensal. Já alguns poucos conseguiram patrocinadores particulares ou estão ligados a clubes que lhes garantem o essencial, como centro de treinamento, alimentação, moradia e suporte para seguir com chance de vencer.

Depois da medalha, um passo atrás


Medalhista também sofre. O exemplo maior é o ganhador do bronze no tae kwondo do Rio’2016, considerado a maior zebra verde-amarela do evento. Ninguém apostava em Maicon Andrade, de 24 anos, primeiro mineiro medalhista individual da história. Mas a situação de sua modalidade no Brasil o deixa apreensivo. A começar pelo fato de a confederação estar sob intervenção.

Ele treina em São Caetano do Sul, onde estão abrigados outros esportes, como atletismo e ainda a ginástica olímpica, onde está Arthur Zanetti. “As atenções são divididas. Em janeiro, houve a troca de prefeito e até hoje não temos qualquer definição sobre o que acontecerá com o esporte.”

Ele diz que vive uma situação intermediária. “Me resta o patrocínio da FAB, pois sou militar. Mas só isso não dá. O esporte precisa de apoio, mas não estou vendo grandes perspectivas. Espero que isso aconteça logo, sob pena de perdermos o que conquistamos nos últimos anos.”

Maicon enfrentou problemas depois da Olimpíada. “Cada atleta olímpico tinha direito a um prêmio de RS 12.500, mas só consegui receber esse dinheiro em dezembro. Além disso, houve uma viagem que tive de fazer, e como as passagens não apareciam, eu mesmo banquei. Era obrigação do patrocinador. Só recebi o dinheiro em dezembro, com ajuda da confederação. Além do mais, cortaram o bolsa-atleta”.

O futuro, segundo ele, está condicionado à maior organização do esporte. “Espero que o interventor da confederação ou o presidente que for eleito fixe regras para a seleção. Ainda não sei quando vou competir nesta temporada, pois não existe um calendário no Brasil. A perda do atleta é enorme.”

Uma barra pesada


Está no levantamento de peso uma das mais difíceis situações para atletas brasileiros. Mateus Felipe, de 23 anos, e Wellisson Rosa, de 33, ambos de Viçosa, não têm ideia do que ocorrerá com suas carreiras. Estão desamparados. Perderam a única ajuda de que dispunham até os Jogos: o patrocínio da Petrobras. Mateus conta que não sabe o que fazer e que só lhe resta uma opção: “Do jeito que está, vou ter de arrumar um emprego qualquer para continuar sobrevivendo, pois está difícil me manter. Hoje, recebo uma ajuda da minha namorada, Rosane dos Reis Santos, que também é pesista.”

Reprodução Facebook
Sem patrocinador, conta que tinha suporte financeiro da Confederação Brasileira de Levantamento de Peso e da Petrobras. “Mas foi só acabar a Olimpíada que o dinheiro desse patrocínio sumiu. Da confederação, desde dezembro a gente não recebe nada. Está difícil, muito difícil. ”

Mas ele acredita que nem tudo está perdido. “Em março, teremos eleição na confederação. Espero que quem for eleito olhe o lado do atleta. Preciso, assim como os demais, continuar a treinar”. Um dos apoios é do Pinheiros, seu clube. “Faço academia lá. Eles me dão também uma pequena ajuda de custo, como alojamento e alimentação. Mas preciso sobreviver.”

Wellisson também reclama. “Não está fácil. Não recebo nada da confederação já há três meses. Sobrevivia com R$ 1.400 do bolsa-atleta, cortado recentemente. A verdade é que acaba a Olimpíada, acaba tudo.” Ele é outro que treina no Pinheiros.

Sua maior esperança é a revitalização do bolsa-atleta. “Com essa bolsa e a ajuda do Pinheiros posso continuar treinando e competindo para representar o Brasil.”

ENQUANTO ISSO...

Pedalando no vazio
No ciclismo, mais especificamente no mountain bike, a situação crítica se repete. Rubens Donizete Valeriano, o “Rubinho”, de 38 anos, perdeu o bolsa-atleta e espera poder reaver o repasse, que considera essencial e que o ajudou rumo às duas últimas edições olímpicas. “Tive bolsa-atleta na preparação para Londres’2012 e Rio’2016. Mas, passada a Olimpíada do Rio, foi cortada, numa decisão política, como tudo o que acontece no Brasil. Mas eu não desisto. Tornei a me inscrever e espero que meu pedido seja aprovado, pois é fundamental na minha preparação. Preciso disso para competir.” Rubinho tem patrocinadores particulares, da LM, de Lagoa da Prata, para peças da bicicleta; da Fense, que dá a bike; e da Specialize e Fense Factor Race, que garantem peças e uniformes. Para ele, não existe diferença do quadro pós-olímpico com o anterior. “Não mudou nada. Começa uma temporada e a gente tem de sair procurando ajuda. Na verdade, não sabemos se a Olimpíada no país ajudou ou não o esporte de modo geral.”

Tags: rio2016 jogos Olímpicos