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ATLETISMO

Deficiente visual, Izabela Campos dribla dificuldades e dá show no atletismo

Destaque no esporte paralímpico, ela se prepara para o Mundial de Londres

postado em 28/05/2017 09:08 / atualizado em 28/05/2017 09:26

Edésio Ferreira/EM/D.A Press
Quem é Izabela Campos, de 36 anos, no esporte? Poucas pessoas devem ter ouvido falar dela. No entanto, essa mineira, portadora de deficiência visual desde os 6 anos, é líder do ranking mundial paralímpico no lançamento de dardo, segunda colocada no lançamento de disco e terceira no arremesso de peso. Medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos Rio’2016, ele acumula ainda um ouro no disco e uma prata no peso no Parapan-Americano de Toronto’2015, um bronze no disco no Mundial do Catar’2014 e outro no peso no Mundial de Lyon’2012. E ela ainda não se dá por satisfeita – de 14 a 23 de julho, ela vai atrás de mais conquistas no Mundial de Londres.

As façanhas de Izabela, que perdeu a visão aos seis anos e se tornou medalhista paralímpica:


Nascida na Vila Oeste e criada no Bairro Serrano, Izabela vive atualmente no Bairro São João Batista. É casada com Anderson Coelho, de 42, que, como ela, não enxerga. Ele é atleta de corrida, especialista em provas de fundo. Apesar das dificuldades, ela se orgulha de sua vida e do marido. Os dois moram sozinhos num apartamento que fica no quarto andar de um prédio sem elevador. Não têm a ajuda de ninguém. Todos os dias, ela se levanta às 7h, limpa a casa, lava e passa as roupas, tendo como companheiros o rádio e a televisão. Pela manhã e à tarde, treina no Centro de Treinamento da UFMG.

E não é só. À noite, ela cursa serviço social, na Faculdade Estácio de Sá, que fica próxima de sua casa. “Todo mundo pensa que ser cega é horrível, mas não é não. A gente aprende a viver, a levar uma vida normal. Escuto os jornais e as novelas todos os dias. Meu marido é vidrado em televisão, filmes. Faço supermercado e vou a açougue, padaria, sempre sozinha. Sempre aparece alguém para ajudar.”

Em entrevista ao Estado de Minas, ela fala sobre os desafios encontrados nas pistas de atletismo e na vida.

Cegueira


“Parei de enxergar aos 6 anos, quando tive sarampo. Tive a doença porque minha mãe relaxou com as vacinas, mas não a culpo. Ela não sabia, ou podia imaginar, que algo assim aconteceria. Na infância e adolescência, fiquei em casa, sendo tratada, minha família não me deixava sair. Isso fez com que eu me tornasse obesa. Cheguei a pesar 160 quilos. Até que com 18 anos fui levada para o Instituto São Rafael, para estudar. E lá fui apresentada ao esporte. Primeiro participava de corridas. Perdi peso, muito. Cheguei aos 60 quilos, mas não gostava, ficava muito cansada. Eu até tinha prazer em correr, mas havia a cobrança por resultados, inclusive de minha parte.”

O esporte


“Ia do Instituto São Rafael para o treino de carona com um dos técnicos, Cássio. Um dia, dentro do carro, peguei numa bola de ferro muito pesada, que me chamou a atenção. Perguntei para ele o que era e ele me disse que era o peso, usado no arremesso. Quis experimentar. Não sabia que havia no atletismo provas além das corridas. Do Instituto São Rafael fui para a Associação dos Deficientes Visuais de Belo Horizonte (Adevibel), para competir. Falei com a treinadora, Ana Camila, sobre meu interesse nas provas de campo e comecei a praticar. Já treinava na pista da PUC, no Dom Cabral, com o Jarbas, um amigo. Ele me apresentou o meu preparador físico, Ivan Bertelli, com quem estou até hoje.”

Dificuldades


Edésio Ferreira/EM/D.A Press
“No início, era muito difícil, pois não havia em BH um lugar como o CT da UFMG, com equipamentos de última geração. Treinava com uma gaiola, onde a gente fica para arremessar disco, que não existia em lugar nenhum mais. Ela era ultrapassada, com a área de saída mais fechada. Então, quando eu chegava nas competições fora, tinha de me adaptar para o lançamento sem qualquer treino. Era muito difícil. Além disso, não tenho condições de levar meu técnico, o Bertelli, o que muito me ajudaria.”

Dia a dia


“Já tive propostas de São Paulo, mas não quis ir. Pra sair de BH seria muito difícil. Aqui já conheço tudo. Vou a lugares e pego ônibus pra tudo quanto é lado. Saio de casa, pego um ônibus até a entrada da UFMG. Outro até lá dentro e nesse último ponto meu treinador me pega e leva para o CT. Antes era pior, pois os treinos eram no Clube dos Oficiais da PM e precisava pegar três ônibus às vezes, assim como na PUC.”

Sonho realizado


“Foi com o Bertelli que comecei a desenvolver as técnicas para competir no dardo, no disco e no peso. Ele é, como diria, meus olhos. Com ele obtive a classificação para os Jogos Paralímpicos de Londres. Não consegui bom resultado, mas estava lá competindo pelo meu país. Quando comecei a treinar, se falassem comigo que eu iria para uma Paralimpíada, para um Mundial, morria de rir. Achava que não tinha qualquer chance. Olha, surpreendi a mim mesma. Quando ganhei minha primeira medalha, no peso, no Mundial de Lyon, não acreditei. Bateu uma emoção muito forte. Chorei como nunca tinha chorado. Foi uma grande vitória.”

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