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CAMISA 10

Futebol brasileiro se ressente de jogadores habilidosos e criativos na armação

Especialistas tentam explicar escassez de camisas 10 no país

postado em 18/01/2017 12:01

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

Famoso pela qualidade de craques como Ronaldinho Gaúcho, Zico, Marcelinho Carioca, Rivelino, Alex, Zenon, Ademir da Guia, Dirceu Lopes e Marcelo Oliveira, entre outros, o futebol brasileiro sofre, atualmente, com a escassez de armadores. Poucos clubes dispõem daquele jogador clássico, que dita o ritmo do time, usa a criatividade para sair de situação adversa, tira um lance genial da cartola quando a retranca adversária parece intransponível, desmonta sistemas defensivos com um passe teoricamente simples – mas que poucos são capazes de executar.

A carência é tanta que muitos treinadores têm optado por adotar esquemas em que fiquem menos dependentes do talento do tradicional camisa 10. Alguns escalam três volantes e três atacantes ou dois volantes e três homens mais à frente com características ofensivas, ou ainda uma linha de quatro no meio para segurar os adversários.

Mas por que os tradicionais camisas 10 estão em extinção? Alguns dos gênios da posição reconhecem a crise pelo qual o setor passa e têm suas próprias explicações para essa carência.

“Alguns fatores colaboraram para isso. Primeiro, a falta de campos de pelada, que era onde os meninos podiam exercer a criatividade. Outro dificultador foi a evolução absurda do preparo físico, obrigando o armador a ser mais dinâmico, participar mais da marcação”, argumenta o técnico Marcelo Oliveira, bicampeão brasileiro com o Cruzeiro em 2013 e 2014 e campeão da Copa do Brasil com o Palmeiras em 2015.

Para ele, há também a questão financeira: “Quando um bom armador se destaca ele é logo vendido para outro mercado, que vai lhe pagar muito mais. Aí, ficamos com essa carência aqui”.

Pensamento similar tem o também craque Dirceu Lopes. Para ele, a partir da Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, o futebol brasileiro se desviou um pouco de suas características, ainda que grandes nomes tenham surgido. “Houve uma ‘europeização’ do futebol brasileiro. Há uns 40 anos não há muito espaço para jogadores baixos, mesmo que eles tenham qualidade. Querem jogadores altos, que cumpram funções táticas. Uma marca do nosso futebol sempre foi a malícia, a improvisação, mas os profissionais preferem o obediente. Essa estratégia resultou nos 7 a 1 para a Alemanha”, diz o “Baixinho”, como era chamado quando integrava a fantástica equipe do Cruzeiro nas décadas de 1960 e 1970.

Apesar de estar na bronca, Dirceu Lopes vê uma luz no fim do túnel. E um dos responsáveis para isso seria o técnico da Seleção Brasileira, Tite. “O que ele fez de diferente do Dunga? Deixou o pessoal jogar. Os jogadores são praticamente os mesmos, mas ele deu a liberdade para que cada um exerça sua criatividade.”

POUCAS OPÇÕES Apesar de raros, ainda há armadores clássicos no Brasil. O Cruzeiro acaba de repatriar um deles, Thiago Neves, na esperança de recuperar a cadência, uma das características históricas de suas equipes. Diego, do Flamengo, é uma das poucas unanimidades quando se fala em camisa 10. O Santos tem Lucas Lima, ainda que muitos o considerem prático demais, sem o “algo a mais” que o idealizado craque precisa ter.

Já Douglas, do Grêmio, reúne as características desejadas em um armador, porém, há quem o critique pela falta de participação nos jogos. Argumentos com os quais não concorda o técnico Renato Gaúcho, que o dirigiu na reta final da temporada passada e em 2010, quando atingiu o ápice, chegando à Seleção Brasileira: “O Douglas é diferenciado, pensa e faz o time jogar. Se tenho um jogador assim, não posso colocá-lo para correr atrás de adversário. Tenho de tirar o melhor do craque, que é fazer o time jogar, decidir partidas e deixar os companheiros na cara do gol”.

Por falar em Atlético, o clube está em busca de um camisa 10, do qual se ressente desde o ano passado. Além de gringos, Cazares e Otero estão longe de ser o sonho de consumo dos torcedores.

Trunfos de um bom camisa 10

O que deve ter um armador clássico

Boa finalização
Capacidade de antever as jogadas
Capacidade de improvisação
Habilidade
Leitura do jogo
Espírito de liderança
Noção apurada de tempo e espaço
Saber ditar o ritmo do time
Ótima condição técnica
Visão de jogo

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