Velocidade
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Independência ou moto

Mais tradicional prova do motociclismo brasileiro chega aos 30 anos. Pilotos largam do Parque das Mangabeiras para o primeiro dia de trilhas

postado em 05/09/2012 08:38 / atualizado em 05/09/2012 08:40

Chegou a hora. E parece que foi ontem que os precursores do trail e do enduro de regularidade, esporte 100% brasileiro com raízes mineiras, resolveram criar uma prova que percorresse os caminhos usados por dom Pedro e sua corte rumo às Minas Gerais, no século 19, passando por trechos da Estrada Real. Tempos em que as motos eram modelos à venda nas concessionárias, como as saudosas Honda XLX 250 e Yamaha DT180, com algumas adaptações para encarar a dureza das trilhas. A navegação era feita com calculadoras científicas e a passagem pelos postos de controle aferida por voluntários que encaravam poeira, frio e chuva.

O motociclismo fora de estrada se desenvolveu no país, com o surgimento das provas de rali, cross-country e enduro FIM (velocidade), o mercado se abriu para as máquinas importadas de última geração, próprias para a prática do esporte, e o GPS se encarrega de aferir resultados antes apurados manualmente. O fascínio do Enduro da Independência, no entanto, se mantém intacto. Uma prova desafiadora tanto para profissionais quanto para os treieiros de fim de semana, que aproveitam o feriado para encarar percursos sempre especiais. Hoje, exatamentre às 9h e 30 segundos, Rodrigo Amaral, de Lagoa da Prata, piloto da categoria Master e dono do jaleco 1, será o primeiro a largar do Parque das Mangabeiras, rumo ao Alphaville, em Nova Lima. Pela frente, ele e os demais 400 inscritos, divididos em 12 categorias, terão muitos sufocos em quatro dias, até a chegada, sábado, em Sabará.

Para marcar a data especial, o presidente do Trail Clube Minas Gerais (TCMG), Gustavo Jacob, o diretor de prova, Ronald Santi, o Roninho, e a equipe da organização resolveram resgatar trilhas que fizeram a história do Independência, como Desaparecida, Boi Bumbá, Siriema, Da Bruxa e Play Station, e prometem um percurso capaz de “separar os homens dos meninos” já neste primeiro dia, que tradicionalmente começava com médias de velocidade mais folgadas, mas desta vez terá “um grau de dificuldade nove em 10”, como garante Roninho.

Nesta quinta-feira serão 190 quilômetros, com vários trechos em altitude e três paradas para abastecimento, com largada e chegada no Alphaville. Mariana será o destino na sexta-feira, com 160 quilômetros – um dia que promete ser o menos complicado dos quatro. A primeira capital do estado será o ponto de largada para a etapa decisiva, que levará os pilotos à Praça Mello Viana, em Sabará. A ideia foi manter o percurso num raio máximo de 200 quilômetros de Belo Horizonte, como em 2011, para reduzir os custos e facilitar a logística das equipes.

Nada menos que cinco campeões da prova estão inscritos na Master: o atual, Mário Vignate, de Santo Antônio do Monte, pilota uma Gas-Gas da equipe oficial da fábrica espanhola e vai enfrentar Dário Júlio, de Lavras, quatro vezes vencedor e de volta do Rali dos Sertões, no qual ficou com o vice-campeonato; o experiente capixaba Sandro Hoffmann (Honda) e Luiz Felipe Braga Bastos, de volta às competições depois de um tempo longe do esporte.

Quem ainda busca sua primeira conquista na categoria apesar de ter começado no enduro de regularidade é Felipe Zanol, campeão do Sertões e de malas prontas para o Japão, onde terá o primeiro contato com o protótipo Honda que comandará no próximo Rali Dacar. A coincidência de datas vai impedir que ele complete a prova, mas não de prestigiar os primeiros dias.

Das antigas Nas categorias Master, Sênior, Júnior, Novato, Over 40, Over 45, Over 50, Over 55, Feminina (com seis inscritas e destaque para Sabrina Katana), Dupla Graduado, Dupla Estreante e Vintage, para motos antigas, é possível encontrar vários pilotos que ajudaram a fazer a história do Independência; precursores e presenças constantes ao longo dessas três décadas. É o caso de Roberto Márcio Ferreira, o Beto Motorauto; Osório Muniz Lopes, o Zoreba; Bruno Falci, Adhemar Euclydes e Hugo Morato. Este ano são 11 estados representados e o Distrito Federal.

MEMÓRIA:
Hegemonia por 15 anos

Criado em 1983, inicialmente com os pilotos divididos em dupla, o Enduro da Independência foi dominado pelos mineiros até a edição de 1998. Entre os destaques nas primeiras edições Romeu Valadão, Helder Rabelo, Beto Motorauto, Ugo Bubani, Áureo Stradioto, Guilherme Campos, Bernardo Magalhães e Luiz Felipe Braga Bastos. O primeiro de outro estado a ficar com o caneco na categoria Master foi o catarinense Dário Schrull, na edição de 1998. Outro “forasteiro” que se destacou em terras mineiras foi o capixaba Sandro Hoffmann.

Soraia Piva