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DA ARQUIBANCADA

O cliente sempre tem razão

Ainda temos muito tempo, mas, como cliente, estou começando a ficar desconfiado de que comprei gato por lebre

postado em 29/07/2015 11:00 / atualizado em 29/07/2015 08:18

Marcello Zambrana/Light Press/Cruzeiro
É muito difícil entender o que faz uma pessoa gostar de um time de futebol. Quando o time é vencedor como o nosso, fica fácil. Por que torcer por um time que ficou quase 40 anos sem um título significativo? Não existe explicação para tanto sofrimento. Não escolhemos por quem nos apaixonamos e, muito menos, sabemos explicar por que, às vezes, ficamos sem comer ou sem dormir. E ainda assim continuamos torcendo.

Se clubes de futebol fossem produtos, seríamos um cliente fiel, que nunca muda de marca. Nunca fazemos pesquisa de preço. Mas somos consumidores exigentes, nosso call center para reclamações é o estádio. Apesar de tanta fidelidade, sinto que temos pouca força quanto a decisões importantes.

Somos influentes de forma indireta, às vezes por meio de enquetes da imprensa. Hoje em dia, as redes sociais são um bom termômetro e deveriam ser mais respeitadas.

Talvez num futuro próximo, ser sócio-torcedor seja o acesso para votar na eleição para presidente do clube. Isst sim, seria participar das decisões, respeitar quem te financia e que nunca muda de produto. A transparência de um clube no Brasil é muito pequena. Vendemos meio time e só muito tempo depois ficamos sabendo que boa parte do dinheiro não foi para os nossos cofres. Para a maioria dos torcedores, é muito difícil entender por que pioramos tanto.

A primeira impressão é de que deixamos sair o que tínhamos de melhor. O discurso no Cruzeiro, de que este ano precisamos pagar a conta pelos títulos conquistados, faz sentido, mas precisava piorar tanto? Em 2011, quase saímos do seleto grupo de times que nunca caíram para a Série B. Dois anos depois, fomos campeões. Conquistamos um bicampeonato e agora estamos dando a impressão de que vamos sofrer o ano todo. Não gosto de montanha-russa nem no parque de diversão, muito menos no futebol.

Quando vejo o nosso time em campo sinto que até os jogadores não estão entendendo o que está acontecendo. Esta oscilação tão grande deixa a impressão de que os títulos conquistados foram muito mais sorte do que competência. Somente uma boa colocação no fim do campeonato mudará isso. Ainda temos muito tempo, mas, como cliente, estou começando a ficar desconfiado de que comprei gato por lebre.

Carlos Drummond de Andrade escreveu que “a bola é a mesma, forma sacra, para craques e pernas de pau”. Não acredito que os nossos jogadores que atuaram tão bem no ano passado se esqueceram como se deve fazer. Esta crise de confiança uma hora vai terminar, e os resultados aparecerão. Mas será que isso acontecerá a tempo?

A frase o cliente tem sempre razão não está valendo neste momento. Se fosse verdade, mudanças já teriam ocorrido. O pior desta oscilação é o descrédito, o desgaste de uma paixão, a quebra do sonho. Mas, estaremos aqui sempre, pois somos clientes eternamente apaixonados por um produto que escolhemos na infância, e nunca o trocaremos, até o fim dos nossos dias.

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