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COLUNA DO JAECI

Mudança no calendário e na postura

Todos merecem uma segunda chance? Acredito que sim. Desde que seja a pessoa certa no lugar certo

postado em 01/09/2014 14:00 / atualizado em 01/09/2014 08:30

Jaeci Carvalho /Estado de Minas

REUTERS/Ricardo Moraes
Miami – No voo de Confins para os Estados Unidos havia muitos cruzeirenses ávidos por saber o resultado de Cruzeiro x Chapecoense. Como desembarcamos por volta das 19h (20h no Brasil), e levamos mais de uma hora para passar pela imigração, soubemos só mais tarde que o campeão do turno do Brasileirão agora precisará de apenas 10 vitórias para ser tetracampeão brasileiro. Conversei com alguns, que vieram para o jogo da Seleção contra a Colômbia, na sexta-feira, e outros que moram aqui e estavam voltando. Conversei também com nosso amigo José Henrique Salvador, que faz MBA em gestão em Nova York, filho do grande médico Henrique Salvador, do Mater Dei. Ele é neto do doutor José Salvador, dono do Mater Dei, referência em hospital no Brasil. Atleticano roxo, estava feliz pela convocação de Diego Tardelli, mas reticente pela volta de Dunga ao comando técnico do time. Os cruzeirenses também vibraram por saber que seus principais jogadores, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart (artilheiro do Nacional ao lado de Marcelo Moreno), estarão aqui, mas mostraram uma ponta de preocupação pelo fato de o time ficar três jogos sem seus dois melhores atletas.

É justamente aí que quero entrar, para dizer à CBF que se não houver uma mudança de postura com relação ao calendário mundial, nada feito. É inadmissível tirar jogadores importantes de seus clubes, causando-lhes prejuízo, já que o Brasileirão não parou. Há uma tendência de que se corrija isso quando houver competições oficiais, mas é pouco. É preciso fazer o mesmo quando houver amistosos, com uma ou duas semanas de paralisação dos nossos campeonatos. A mudança de postura deve ser total, a começar por investimento pesado na base. É engraçado que se pegarmos o currículo de Alexandre Gallo, de quem gosto como pessoa, vamos perceber que ele fracassou por onde passou após encerrar a carreira de jogador. Rebaixou o Náutico e não conseguiu fazer nem um bom trabalho pelos clubes que dirigiu. Mas caiu no gosto da CBF e hoje é o coordenador das divisões de base. A pergunta que faço é: como vamos revelar grandes atletas, se o currículo de quem comanda a base é ruim?

Aí, chegamos a Dunga, outro que foi um fracasso no comando da Seleção principal, descaracterizando o nosso futebol, jogando-o na lama de forma pobre. Todos merecem uma segunda chance? Acredito que sim. Desde que seja a pessoa certa no lugar certo. O saudoso mestre Telê Santana teve sua segunda chance em 1986, depois de perder o Mundial de 1982, com aquela Seleção que ficou na história pelo belo futebol apresentado. Aí está uma explicação convincente. Ele perdeu, mas mostrou o melhor futebol de todos os tempos. Já Dunga mostrou o contrário, e ganha de presente, caindo em seu colo, esta segunda chance. Ele deve estar pensando que, como ocorreu quando era jogador, ocorre agora de novo. Foi execrado em 1990 e levantou a taça quatro anos depois, nos Estados Unidos. Será que essa coincidência também o anima? Saber que seu novo trabalho, embora com o esquema velho, começa na Terra do Tio Sam... Superstição à parte, não creio nisso. Acho que iniciaremos com um retrocesso absurdo, pois para dirigir o maior patrimônio esportivo do povo brasileiro é preciso ter currículo, história, conquistas. Se futebol é momento, como sempre foi no passado, a hora é de Marcelo Oliveira, disparado o melhor técnico brasileiro. Mas perguntem aos cruzeirenses o que eles acham. Não estão nem aí para a Seleção e querem mais é que seu técnico e seus jogadores fiquem na Toca da Raposa.

É curioso como o nosso futebol anda maltratado, sem perspectiva. Tivemos um grupo que não treinava, aparecia nas redes sociais o tempo todo e que desempenhou o pior papel da nossa história com aquele vexame diante da Alemanha. E a gente olha e percebe que 10 daqueles fracassados chegarão aqui hoje para o começo de um trabalho que visa à Rússia em 2018. Só pode ser brincadeira. O que Maicon e Marcelo podem trazer de novo para a Seleção? Não acredito neles e nem em mais outra dúzia de fracassados. Mudança de postura implica alterar o grupo que errou. Esses jogadores estão em baixa, e, se analisarmos friamente, talvez tenha sido essa última janela a que menos exportamos atletas. Isso é grave. Nossos profissionais estão em baixa no mundo, mas, para Dunga, eles são os melhores. É preciso convocar aqueles baseados em equipes que dão certo. Pegar cinco ou seis do Cruzeiro, três do Inter, dois do Atlético, e assim formar uma base. Porém, com o calendário ajustado para que as competições sejam suspensas no período em que a Seleção joga. Ninguém quer ceder jogador e ter o trabalho do time comprometido.

Já disse que não sou revanchista como Dunga. Estarei aqui trabalhando, representando a minha empresa, e o mínimo que exigimos é o respeito mútuo. Perguntaremos aquilo que é pertinente para nosso leitor, e o técnico responde ou não. Relação estritamente profissional. Dunga não irá à minha casa jantar nem eu irei à dele. Não haverá críticas pessoais, mas muitas restrições ao profissional, pois não é a pessoa certa para o cargo. Porém, como no Brasil os valores estão invertidos, no comando da equipe canarinho não seria mesmo diferente. É com Dunga, Neymar, Maicon e Marcelo que iremos buscar o hexa na Rússia em 2018. Façam suas apostas, pois a minha já está feita, e digo, com quatro anos de antecedência, que não chegaremos como favoritos, e sim como mais um participante. A não ser que no meio do caminho haja uma mudança radical e tenhamos um técnico competente e vencedor no comando da equipe. Por enquanto, porém, vamos de Dunga mesmo.

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