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COLUNA DO JAECI

País doente. Futebol na lama

Como dissociar as coisas erradas do país das do futebol? É tudo uma lama só. Nossa galinha dos ovos de ouro já foi morta há tempos

postado em 02/10/2014 11:00 / atualizado em 02/10/2014 08:59

Jaeci Carvalho /Estado de Minas

O América escalou o lateral Eduardo, que já havia atuado por dois times na temporada, e perdeu 21 pontos no STJD. O Corinthians lançou Petros irregularmente e nada aconteceu. Aliás, esse jogador deu empurrão proposital no árbitro, pegou seis meses de gancho, mas os recursos do clube o liberaram e ele já voltou a jogar. Se no país do faz de conta tudo pode, por que haveria de não poder no futebol?

Felizmente, as TVs abertas passam jogos da Liga dos Campeões da Europa e o telespectador que não tinha TV a cabo tem condições de constatar o que falo há anos: é a melhor e mais organizada competição do planeta bola. Melhor até do que a Copa do Mundo. Fairplay dos jogadores, árbitros errando menos, gramados impecáveis, estádios lotados de gente do bem – marginais não têm espaço –, técnica apurada, com equipes que mais parecem seleções.

Estamos anos-luz atrasados em todos os aspectos. Falar de educação, saúde e segurança é chover no molhado. Por isso, digo que o futebol é apenas reflexo de uma sociedade entregue. Com o advento das câmeras nos estádios, ficou um pouco mais complicado para os árbitros venais meterem a mão no futebol mineiro. Eles já nos tiraram títulos valiosos. Como Armando Marques e José de Assis Aragão. Como hoje são mais de 20 câmeras mostrando até o “DNA” do jogador, esses juízes, com vergonha e medo de ser punidos, acabam não metendo a mão. Não fosse isso, iríamos ficar na fila ainda por muito tempo, diante dos privilégios concedidos a times de Rio e São Paulo.

Basta lembrar os vergonhosos rebaixamentos do Fluminense não cumpridos. Estava na Série C em 1999 e, em vez de disputar a B, entrou na Copa João Havelange em 2000. Caiu em 2013, mas joga o atual Brasileiro. Que vergonha! Se eu fosse torcedor do Flu, teria vergonha de acompanhar um time que deveria estar na Série B, mas se manteve na A por meio da caneta, e por duas vezes.

Como dissociar as coisas erradas do país das do futebol? É tudo uma lama só. Nossa galinha dos ovos de ouro já foi morta há tempos. Desde que dirigentes incompetentes deixaram de investir nas divisões de base. Por que o Ministério Público não abre investigação para ver como determinados cartolas enriqueceram? Alguns se fingem de santos, mas estão cheios de dinheiro em contas no exterior, normalmente em paraísos fiscais. Eles dividem comissões com empresários na venda de jogadores. Algo imoral sob qualquer ponto de vista, mas não ilegal aos olhos da lei, uma vez que não roubam o que cabe ao clube, mas dividem comissões com empresários. Para quem enriquece ilicitamente, não é nada. Vai ter vergonha de quê?

Este futebol brasileiro, que já teve gente honesta, que tirava dinheiro do próprio bolso para pagar dívidas dos clubes, anda maltratado, sem credibilidade e com os dias contados. Sim, com os dias contados. Estamos morrendo lentamente e ninguém enxerga. Não temos mais craques, não temos técnicos decentes, com raras exceções, não temos mais nada.

O país que um dia foi do futebol e nos enchia de orgulho no campo esportivo nem isso é mais. Virou o país da falcatrua, da violência exacerbada, da corrupção, da roubalheira. O futebol, com dirigentes desonestos, tomou mesmo um caminho sem volta e precisará ser reinventado por gente séria, como Gilvan de Pinho Tavares, dirigente com “D” maiúsculo, honesto, transparente, que põe seu clube em primeiro lugar e dá a seus torcedores um grande time, campeoníssimo, de dar inveja e servindo de referência para o restante do país.

Pena ver o futebol brasileiro tão doente. A última forma de lazer do pobre nem isso é mais. Virou esporte para ricos, donos de camarotes, bebedores da champanhe que nem sabem que o homem de amarelo é o árbitro. Outro dia uma mulher perguntou ao marido, no camarote do Mineirão, por que o homem de amarelo não tocava na bola. É mesmo o fim.

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