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COLUNA DO JAECI

Enganadores continuam em alta

Acho Levir bom técnico, sério, honesto e transparente. Mas seria melhor para ele e para o clube que ambos anunciassem logo se vão renovar o contrato

postado em 25/11/2015 12:00 / atualizado em 25/11/2015 12:18

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Carlo Ancelotti, três vezes vencedor da Liga dos Campeões como jogador do Milan e duas como treinador, uma pelo mesmo clube e outra pelo Real Madrid. Currículo invejável de um técnico desejado pelo mundo inteiro. Mesmo assim, o presidente do clube espanhol, Florentino Pérez, em dezembro de 2014, anunciou que o italiano cumpriria o contrato até maio e sairia. Isso não fez o treinador desistir do trabalho, fazer corpo mole ou algo parecido. Na Europa é assim: anuncia-se o novo treinador até com um ano de antecedência. Já aqui, os dirigentes têm medo de dizer publicamente que não querem mais determinado técnico e não ficarão com ele ao fim da temporada.

O Atlético, por exemplo, está insatisfeito com Levir Culpi. Ele ganhou o Mineiro, com ajuda da arbitragem, que deu gol ilegal de Jô e deixou de marcar pênalti claro para a Caldense, foi eliminado da Libertadores e da Copa do Brasil e perdeu o título brasileiro. Se analisarmos friamente, acumulou fracassos a temporada inteira, mas se manteve por causa da conquista da Copa do Brasil do ano passado.

Acho Levir bom técnico, sério, honesto e transparente. Mas seria melhor para ele e para o clube que ambos anunciassem logo se vão renovar o contrato. Se em agosto o Galo tivesse anunciado que o treinador não ficaria para 2016, ele não deixaria de trabalhar com a seriedade de sempre nem faria nada de errado. Apenas se programaria para chegar a dezembro e assumir outro compromisso. Essa indefinição de uma diretoria que não o quer mais está causando desgaste, mal-estar, e pode influenciar na campanha da próxima temporada, já que o possível substituto é que vai definir o grupo. Em caso de manutenção de Levir, este já deveria estar projetando 2016. O fato de ele criticar publicamente essa demora criou clima ruim. Fica parecendo que força a barra para renovar. Tudo seria evitado se em agosto dirigentes e técnico dessem entrevista informando o desfecho do caso. Funciona na Europa sem problema. Por que não aqui também?

Já antecipei que os dirigentes querem um nome novo, de preferência estrangeiro. Não sendo possível, esperam possível demissão de Marcelo Oliveira pelo Palmeiras, caso perca a Copa do Brasil. O preferido da torcida é Muricy Ramalho. Ele tem quatro títulos brasileiros e história rica no futebol, mas diz que não negocia com clube que tem treinador empregado. Na verdade, todos afirmam isso, mas negociam. Procurados, falam o que desejam e aguardam apenas a saída de quem está no cargo.

Para nós, da imprensa, pouco importa se o técnico vai ser A ou B. Claro que gostamos mais de um do que de outro, mas é problema nosso. Quem vai ganhar os R$ 500 mil não somos nós. Aliás, que disparate neste país da fantasia! Só que, daqui pra frente, o governo não negocia mais nenhuma dívida dos clubes. Quem não pagar o Refis vai sofrer consequências duras. É completa irresponsabilidade pagar mais de R$ 100 mil mensais a um treinador, ainda mais sabendo que a maioria é enganadora. Os esquemas adotados são ultrapassados. Vejam o Corinthians, campeão brasileiro. Tite está sendo exaltado. Realmente, evoluiu, mas seu time joga na retranca e no contra-ataque. Como montou meio-campo de qualidade, com Elias, Jádson e Renato Augusto, a coisa engrenou e ele se destacou. Mas a equipe é apenas superior à maioria medíocre que está aí.

A culpa de os técnicos terem ganhado relevância tão grande é nossa. Inventaram a tal da entrevista coletiva pós jogos e supervalorizaram treinadores. Se fôssemos entrevistar um Ancelotti, um Pep Guardiola, um Cruyff, até que eu concordaria, mas o que vai acrescentar um técnico sem esquema de jogo, sem inovação? Um dos candidatos à presidência do Flamengo já disse que pretende trazer treinador de fora. Daniel Nepomuceno sonhava com o amigo Alejandro Sabella. São Paulo e Inter já apostaram em estrangeiros. Acho que os dirigentes estão acordando para a realidade do nosso futebol, que está no fundo do poço, com enganadores ganhando fortunas, dando prejuízo aos clubes e rodando pra lá e pra cá. Está explicado por que levamos de 7 a 1 da Alemanha.

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