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TIRO LIVRE

A crise segundo o dicionário

Levir voltou a ser alvo dos gritos de 'burro', mas tenho cá minhas dúvidas se algum desses torcedores gostaria de ver o treinador fora do clube

postado em 27/02/2015 08:00

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


No Dicionário Aurélio há 12 significados para a palavra crise. Embora no futebol o termo sempre carregue um sentido bem catastrófico, mais da metade das definições apresentadas no livro de fato encontra eco no momento ruim vivido pelo Atlético neste início de 2015. A terceira derrota seguida na temporada e as atuações ruins do time acenderam o sinal de alerta e fizeram renascer nos torcedores um sentimento que andava esquecido pelos lados da Cidade do Galo depois das conquistas dos últimos anos: a desconfiança. A situação é ruim, mas talvez o quadro não seja tão dramático quanto os resultados fazem supor.

Voltemos ao dicionário, então, para tentar elucidar a questão. A primeira definição para crise que resume bem o momento alvinegro é “manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio”. O Atlético começou 2015 amparado pelo título da Copa do Brasil, a manutenção de boa parte do grupo e contratações, a princípio, aprovadas – dos gringos Lucas Pratto e Cárdenas. Em três jogos, no entanto, a esperança virou frustração. Pratto apareceu bem e logo se machucou. Cárdenas ainda não encontrou seu espaço em campo, o que é compreensível, já que entrosamento demanda tempo. A mudança radical no cenário, no entanto, pegou muita gente de surpresa. E assustou.

Teoria semelhante também aparece em outra interpretação da palavra: “ponto de transição entre um período de prosperidade e outro de depressão”. A distância entre a expectativa e a realidade caiu como uma bomba para a torcida, que ainda vivia sua lua de mel com o troféu da Copa do Brasil. Daí a revolta com as três derrotas consecutivas.

Um conceito que se encaixa diretamente no sentimento dos torcedores é “estado de dúvidas e incertezas”. Jogadores, treinador, dirigente, comissão técnica... Começam os questionamentos. Até quem já mostrou serviço é colocado em dúvida. Jemerson, por exemplo. Tem apresentado falhas, mas ninguém pode negar que ele é uma das melhores revelações da base alvinegra nos últimos tempos. É preciso diferenciar uma coisa da outra.

O Aurélio também cita “fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos fatos, das ideias”. E essa aí vai diretamente na canela do técnico Levir Culpi, face à desorganização tática do time. De novidade nas escalações, apenas Cárdenas, Pratto e Patric. Por isso, era de se esperar um mínimo de sintonia entre os outros jogadores. E isso não ocorreu.

Crise ainda quer dizer “momento perigoso ou decisivo”. No âmbito atleticano, indica que decisões podem ser tomadas precipitadamente e só piorarem o cenário. É necessário entender o momento e, friamente, buscar a solução.

“Tensão, conflito” é outra definição com foco em Levir. Ele voltou a ser alvo dos gritos de “burro”, mas tenho cá minhas dúvidas se algum desses torcedores gostaria de ver o treinador fora do clube.

Um significado que descreve bem a fase atleticana é “deficiência, falta, penúria”. Aqui cabem duas análises. A primeira é física, e nesse quesito o Galo está devendo. Contra Colo Colo, América e Atlas, o time foi engolido, sobretudo no segundo tempo. As lesões musculares em sequência – pior, em titulares importantes, como Douglas Santos, Marcos Rocha e Lucas Pratto (foto), além de Jô e Pedro Botelho – parecem ser apenas consequência. Mas tudo isso é apenas parte de um contexto, ajuda a entender o momento, porém não resume a ópera. Há deficiências táticas e técnicas tão determinantes quanto. Outro tema a ser debatido: jogadores que passaram de dispensados a titulares. Por mais que a necessidade forçasse essa escolha, Jô, Emerson Conceição e André eram cartas fora do baralho, e pouca gente lamentava. Agora, eles reaparecem no time como se nada tivesse acontecido. Difícil não causar estranheza. Algo que nem o Aurélio pode ajudar a explicar.

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