América
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AMÉRICA

Em nome da paixão

Amor pelo futebol une quase duas centenas de torcedores para ver a estreia do novo time feminino do América. Do outro lado, o abnegado Real Caeté, com apenas uma reserva

postado em 03/08/2015 11:00

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A partida, para tristeza de muitos, não chegou a terminar. Aos 32min do segundo tempo, quando o Coelho vencia por 11 a 0, três jogadoras do time da casa se machucaram e outras duas caíram em campo simulando contusão, forçando o árbitro José Alfredo Filho a encerrar o jogo por número insuficiente de atletas em campo. Como não conseguiu regularizar as jogadoras a tempo, o Real tinha apenas uma jogadora no banco de reservas. “Era para o campeonato ser em setembro, mas resolveram antecipar. Nem treinamos direito”, lamentou o técnico Fábio Alves.

O Real conta com atletas de várias cidades vizinhas e do Espírito Santo. Oito delas dividem um cômodo de 30m², com beliches, do outro lado da rua, cedido pelo artesão Roberto Silva Reis, o Beto, que também faz as vezes de cozinheiro e chefe da torcida. A prefeitura ajuda com transporte e as próprias jogadoras correm atrás de patrocínio. A lateral-esquerda da Seleção Brasileira, Tamires, nascida em Caeté, doou uma camisa autografada, que está sendo rifada para comprar alimentos para manter o grupo por três meses.

A camisa 10 do time, a esforçada Samira, cuidou para que tudo ontem saísse como um jogo de gente grande. Vendeu rifa, divulgou a partida e chamou os amigos da Associação Musical Santa Cecília de José Brandão para tocar o Hino Nacional. Precisamente às 15h, os dois times se perfilaram diante dos nove músicos.

“Toca a marcha fúnebre para o América”, provocou um torcedor do Real, enquanto quatro americanos, que dividiram a gasolina para ir de Belo Horizonte a Caeté, estendiam as faixas das organizadas Avacoelhada e Batom Verde. “A gente adorou a iniciativa do América. O Brasil tem uma excelente Seleção e o Coelho acertou em apoiar o futebol feminino”, elogiou a americana Zuzu Leão, ilustre torcedora da Avacoelhada.

SONHO DE VIVER DA BOLA O América apresentou a equipe na quinta-feira, mas as jogadoras já atuam juntas há muito tempo, em clubes tradicionais como Santa Cruz e Ribeirão das Neves. Não recebem salários nem se concentram, apenas treinam e se reúnem mais cedo nos dias de jogos para almoçar e ir para o campo. São estudantes, operadoras de máquinas, frentistas de posto de gasolina e instrutoras de academia que têm como sonho viver apenas do futebol.

“Deve ser a maior torcida do América este ano”, zombou um torcedor quando as jogadoras do Coelho entraram em campo, sob vaias. “Já que a gente não tem hino, puxa um do Galo aí”, sugeriu outro. Mas as americanas não se abalaram e, logo aos 2min, abriram o placar com Rosângela. Até o fim do primeiro tempo foram mais cinco, com Denisinha, Patrícia, Aline Guedes, Thayane e Aninha. No segundo, Rosângela, Thayane (três vezes) e Aline Guedes voltaram a marcar.

“Só de entrar em campo, vocês já são melhores do que muita gente que está criticando vocês”, consolou Roberto, ao fim da partida, tentando animar as desoladas jogadoras. Segundo ele, o mais difícil não será vencer a próxima partida, mas conseguir dinheiro para comprar bife de frango para cozinhar com arroz, feijão e salada no almoço de hoje.