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Ligeirinho, patrimônio alvinegro: com 40 anos de Galo, auxiliar só pensa no título brasileiro

Rubens Pinheiro viveu os anos dourados de Reinaldo e se encanta ao falar de R10

postado em 27/09/2016 10:55 / atualizado em 27/09/2016 11:08

Leandro Couri/EM/D.A Press
Ele conhece o Atlético como poucos e tem o clube no sangue. Já conviveu com vários ídolos do passado e participou ativamente dos momentos de glória do alvinegro. Sem a fama de atletas como Victor, Robinho e Fred, o auxiliar de campo Rubens Pinheiro, de 63 anos, esbanja humildade e simplicidade. No Galo, quase ninguém o conhece pelo nome. Do técnico Marcelo Oliveira, nos anos 1970, o modesto funcionário ganhou o apelido de Ligeirinho, pelo qual ficou conhecido pelos colegas na Cidade do Galo e pela torcida. Em 2016, ele completa quatro décadas de serviços prestados ao clube de Lourdes, com direito a placa de homenagem e gratidão vinda da diretoria.

Mas por que o apelido de Ligeirinho? O próprio explica: “Quando comecei a trabalhar na Vila Olímpica, antigo centro de treinamento do Atlético, saía da minha casa correndo até lá (cerca de 13 quilômetros). Fiz isso por mais de 20 anos. Para mim, era uma coisa normal. Chegava e ainda trabalhava no time profissional. Foi o Marcelo Oliveira quem me colocou esse apelido”. Ligeirinho vive seu dia a dia no CT de Vespasiano ajudando os treinadores na reposição de bolas, na montagem dos campinhos nos treinos e na organização do material. Sua trajetória começou em 1976, quando começou a trabalhar no time juvenil com o técnico Barbatana. Depois, teve passagens por todas as categorias do clube: júnior, profissional, feminino e futsal.

Ligeirinho frequentava o clube de Lourdes desde os 8 anos, por influência do pai, que trabalhava na Vila Olímpica. Ele marcou seu nome no Galo em outra vertente: o atletismo – por isso, o apelido também se encaixou com outra de suas especialidades. Ele já era corredor de rua quando serviu no Exército, no fim dos anos 1960. Depois, tornou-se atleta do Atlético, que foi um dos primeiros em Belo Horizonte a investir na modalidade. “Tínhamos uma equipe de corredores de rua dos melhores do Brasil. O Atlético ajudava com transporte, passagens e hospedagem. Disputei provas em São Paulo, Rio e no resto do Brasil. Participava de todas as categorias, seja ela 5km, 10km ou 40km. Até provas de 100km eu cheguei a correr. Comecei a ter grandes resultados e me dediquei à maratona”, conta o funcionário alvinegro.

Leandro Couri/EM/D.A Press
A preparação do auxiliar era intensa. Todos os dias eram 35 quilômetros percorridos. Tudo isso ao mesmo tempo em que trabalhava no dia a dia de treinos da equipe. Ele lamenta os poucos recursos naquela época: “O atletismo não tinha apoio. Hoje é o contrário, porque um atleta tem patrocínio e corre no mundo inteiro. Eu corria maratona de conga. Não havia investimento. Fazíamos por amor ao esporte e satisfação pessoal”.

Por causa das andanças pelo Brasil nas corridas e por causa do trabalho, Ligeirinho se tornou amigo de todos, inclusive dos grandes ídolos da história do Atlético. “Trabalhei com o Cerezo, com o Reinaldo e com o Éder. Eram jogadores de Seleção Brasileira. Eles gostavam da gente. Nós cobrávamos muito deles nos treinos.” Para Ligeirinho, um outro craque se tornou diferenciado em toda a história. “Um jogador que marcou realmente foi o Ronaldinho. Ele marcou a vida do clube. Eu o conhecia de vista, mas quando ele veio para cá a história mudou. A gente imaginava que ele fosse um ídolo e medalhão. Mas na realidade ele é medalha de lata. Muito simples, humilde e mudou a história do Atlético. Conversava, foi muito bacana. Nenhum funcionário vai se esquecer dele.”

Ligeirinho e Ronaldinho ficaram tão próximos que o camisa 10 o presenteou com o par de chuteiras que ele usou em seu último jogo pelo clube – na conquista do título da Recopa Sul-Americana, contra o Lanús, no Mineirão, em julho de 2014. O presente está guardado num cantinho da sala da casa de Ligeirinho, assim como inúmeras bolas históricas, medalhas, camisas especiais e fotografias. O funcionário presenteou o goleiro Victor com a bola do jogo contra o Tijuana, que se tornou fundamental na conquista da Copa Libertadores de 2013 – o goleiro fez uma defesa de pênalti com o pé aos 47min do segundo tempo, em chute de Riascos, e garantiu a classificação às semifinais.

SONHO DO TÍTULO O auxiliar de campo já passou por momentos épicos no Atlético, mas sustenta um sonho: ver a equipe ser campeã brasileira, o que pode ocorrer em 2016. “O Atlético busca isso há muitos anos e não conseguiu por muitos fatores. Em 1971, eu ainda não era funcionário. Eu vivia dentro do clube, porque meu pai trabalhava lá, mas não trabalhei efetivamente. A realidade é que o Atlético foi muito prejudicado. Se as coisas ocorressem de forma diferente, estaríamos com cinco títulos nacionais. Infelizmente, as coisas extracampo foram problemas. Já temos uma Copa do Brasil e a Copa Libertadores. Merecemos o Brasileiro”, diz Ligeirinho.

Ele vive uma vida longe dos holofotes e da fama. Sempre que tem tempo, vai ao sítio e fica com a família. “A gente vive tantos anos no futebol que não temos mais ilusão. Nós buscamos é resultado no campo. Nunca me importei em ser famoso ou ficar conhecido. Sou um cara que convivi com ídolos e fiz com trabalho, mas nunca me importei com vaidades. Minha vida sempre foi simples e centrada na busca pelo bem- estar dos jogadores”, afirma.