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ENTREVISTA

De contestado a referência: Marcos Rocha supera Nelinho e marca nome na história do Atlético

Com uma caminhada de 11 anos cheia de obstáculos e superações, atleta se torna o lateral-direito com mais jogos com a camisa do clube alvinegro

postado em 28/04/2017 06:30 / atualizado em 28/04/2017 15:44

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

Marcos Luis Rocha Aquino. Em 109 anos de Atlético, nenhum outro jogador defendeu mais vezes a lateral direita do time do que esse mineiro de Sete Lagoas. Quarta-feira, contra o Libertad (PAR), pela Copa Libertadores, Marcos Rocha completou 275 jogos com a camisa do Galo. Frente aos paraguaios, o lateral bateu a marca histórica de Nelinho, que, entre 1983 e 1988, vestiu a camisa do clube por 274 vezes.

Daquele 7 de fevereiro de 2009, quando, aos 20 anos, estreou contra o Social, até a última quarta-feira, não faltaram obstáculos, resistências, críticas até Marcos Rocha colocar seu nome na história atleticana com um currículo cheio de conquistas, como Copa Libertadores, Copa do Brasil, Recopa Sul-Americana, Campeonatos Mineiros.

Os mais de 100 quilômetros enfrentados de ônibus, ida e volta, entre Sete Lagoas e a Cidade do Galo foram as primeiras dificuldades para o lateral alcançar o sucesso profissional. "Era pesado. Os treinos do Leão na época eram até mais tarde. Eu não conseguia pegar ônibus na porta da Cidade do Galo. Tinha que ir até o Centro para pegar ônibus para Sete Lagoas. No outro dia era treino de manhã, tinha que acordar de madrugada e voltar. Mas isso tudo foi me fortalecendo, foi me estruturando como pessoa e como profissional, para que eu viesse a dar valor em todo o meu esforço dentro de campo, para que meus sonhos e os sonhos da minha família se realizassem. Só agradecer a Deus mesmo por ter me abençoado. Era um momento difícil, que muitos desistem. Eu continuei batalhando e correndo atrás dos meus sonhos", conta, em entrevista exclusiva ao Superesportes.

Jorge Gontijo/EM/D.A Press
Marcos Rocha, hoje com 28 anos, precisou superar ainda a desconfiança no início da carreira. De torcedores, ouviu cobranças. "O início é sempre muito difícil, principalmente quando se sobe da base. Já sobe com uma certa pressão. Com muita paciência e trabalho, consegui superar todas as dificuldades, os momentos ruins do começo. O momento do Atlético não era dos melhores. A cobrança dobrava".

Do técnico Vanderlei Luxemburgo, sofreu o julgamento: "Em 2010, quando o Luxemburgo chegou, foram criadas muitas expectativas, principalmente para a gente da base. Achamos que ele iria dar oportunidades para nós jogadores, mas ele não deu. Ele disse que eu era muito ‘respondão’, criticava bastante. Ele disse que não contava mais comigo dentro do elenco, chegou a falar que eu não iria virar jogador. Mas eu sempre acreditei no meu futebol, no que outras pessoas me passavam para eu continuar sonhando. Não ficou mágoa nenhuma não. Ele continuou a carreira dele. Está bem de vida, milionário, e eu estou correndo atrás ainda."

Marcos Rocha precisou desviar o caminho. Foi emprestado a Ponte Preta e América. Em 2011, foi eleito o melhor lateral-direito da Série B do Campeonato Brasileiro. Começava a redenção. No ano seguinte, foi reintegrado ao elenco do Atlético. Com perseverança, dedicação e paciência não demorou para Marcos Rocha alcançar o reconhecimento do torcedor. Desde então, virou o dono da camisa 2.

“A saída foi muito boa. Eu precisava de sequência, de jogar. Tentei isso na Ponte Preta. Não conquistamos a classificação no Paulistão e os jogadores que estavam de empréstimo foram todos liberados. Vim para o América e fiquei um ano e meio no clube. Sou muito grato a todos que me deixaram jogar no América, me deram essa sequência que eu precisava. Essa saída foi fundamental para que eu ganhasse amadurecimento e voltasse ao Atlético.”

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Além dos títulos com o clube, atingiu metas pessoais: três vezes eleito o melhor lateral-direito do Campeonato Brasileiro, chegou à Seleção Brasileira. O menino tímido do começo de carreira se transformou em líder. Não é raro Marcos Rocha cobrar companheiros, criticar o desempenho da equipe, exaltar grandes atuações, convocar a torcida do Atlético.

"Era mais tímido, mais vergonhoso. Não conversava muito com os jogadores mais experientes, acabava o treino e queria correr para casa. Quando tinha aniversário de alguém eu nem participava. Mas já estou brincando com todo mundo hoje, a gente zoa os meninos da base que sobem ao profissional. Hoje é só alegria. Sempre tive referências boas. Hoje a gente tem o Leonardo Silva, o Victor, que são jogadores referências dentro do clube. Isso tudo ajudou no meu amadurecimento, tanto que fui capitão em algumas oportunidades. As cobranças são naturais, amistosas, não são críticas para abalar os companheiros. São jogadores experientes, como Fred, Felipe Santana, tantos outros. Falta um pouquinho a mais e a gente cobra um pouco mais duro. São 11 anos que estou no clube e sei a história do Atlético. A gente quer que, quem está chegando agora, consiga construir uma história bonita."

Até alcançar o patamar de titular absoluto, Marcos Rocha conheceu o lado cruel do futebol. Mesmo nas categorias de base defrontou com a decepção, frustração, falta de perspectiva. Elementos fortes para pensar em abandonar a carreira ainda menino. Mas ali Marcos Rocha já despertava, mesmo sem externar, uma personalidade forte. Resolveu desafiar o destino.

“Minha personalidade é muito forte em relação a isso. A minha mãe (Dona Doca), no começo, viu que eu estava sofrendo e pedia para eu ir embora, largar. O meu pai (Seu Silas) já falava para que eu ficasse. Meu irmão (Matheus) sempre foi bastante presente na minha vida. E minha família. Sempre quis dar uma situação melhor para minha família, realizar nossos sonhos. A base para eu me tornar o Marcos Rocha sempre foi minha família.”

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Hoje, Marcos Rocha ainda convive com cobranças de alguns torcedores. Mas o camisa 2 se sente amadurecido para absorver as críticas. “A gente absorve melhor as críticas e, quando são construtivas, a gente tenta pegar algo bom para acrescentar. Sempre fiz isso na minha carreira. Quando acho que as pessoas não têm razão, prefiro tapar os ouvidos, continuo acreditando no meu ideal, como sempre acreditei. A torcida quer ver o melhor dentro de campo, independentemente do jogador, porque sempre querem o melhor do clube.”

Marcos Rocha curte o presente, mas não deixa de pensar no futuro. Vem aí a decisão do Campeonato Mineiro, que começa neste domingo, contra o Cruzeiro, a luta por mais uma Libertadores, o Campeonato Brasileiro. E sonho de ainda jogar no futebol europeu, um desejo hoje mais bem administrado pelo lateral.

“Espero completar pelo menos 300 jogos com a camisa do Atlético. Tenho a oportunidade de completar neste ano. Mas meu sonho ainda não mudou. Tenho sonho de jogar na Europa. Já tenho 28 anos. É meu melhor momento, de amadurecimento. Acho que já estou muito mais preparado para sair. Mas, como sempre falo ao torcedor. Enquanto estiver vestindo essa camisa, vou deixar minha vida dentro de campo.”

Palavra do especialista: Nelinho elogia Marcos Rocha


Arquivo/EM/D.A Press

"Eu considero ele um ótimo jogador, um jogador que tem recursos técnicos que o qualificam como um grande lateral. Para mim, ele vem se destacando há anos. E tem potencial para apresentar muito mais. Feliz dele que é cobrado por pessoas que sabem que ele pode mostrar mais. Quando ele não atua bem, não acho que é uma questão apenas do jogador. É um problema de conjunto. O time quando não está bem prejudica determinados jogadores, principalmente os de defesa. Acho que ele pode melhorar no posicionamento na bola cruzada do lado direito do adversário no segundo pau, pois o atacante que vem de trás já tem a vantagem de ir de encontro à bola e com impulsão. Ele, de cabeça, tem uma dificuldade. Mas isso se corrige".

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