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O Thomaz Bellucci que o Brasil precisa conhecer

Em Genebra, Brasileiro superou seu histórico de apagões e faturou o título

postado em 23/05/2015 13:54 / atualizado em 23/05/2015 16:04

Fred Figueiroa /Diario de Pernambuco

Divulgação/ATP World Tour
Caso você não acompanhe o tênis de perto, corre o risco do pouco que você já leu ou ouviu falar sobre Thomaz Bellucci ter tido uma conotação negativa ou, simplesmente, irônica. E esta leitura sobre o maior tenista brasileiro na atualidade, apesar de injusta, não é fruto do acaso. Desde a ascensão de Thomaz, a partir de 2009, havia uma expectativa grande em torno do seu futuro e, parte dela, foi frustrada - algumas vezes por "apagões" dentro de jogos-chave para a consolidação da sua carreira. As críticas, xingamentos em redes sociais e até vaias (em um episódio lamentável do Brasil Open de 2013) formam apenas um dos lados da realidade sobre Bellucci. Existe outro menos perceptível para o grande público. O de um tenista extremamente técnico, com um perfil de jogo agressivo e acima - muito acima - da média nacional. É este "outro Bellucci" que conquistou, neste sábado, em Genebra, na Suíça, o 4º título da carreira na elite do tênis mundial.

Parece pouco? Comparado aos 20 torneios (sendo três Roland Garros e um ATP Finals) vencidos por Gustavo Kuerten, talvez até seja. Mas o ponto de partida para qualquer análise sobre o tênis brasileiro é entender que Guga é um fenômeno. Um ET. Países muito mais tradicionais no esporte, como França e Argentina, nunca tiveram um número 1 do mundo. O Brasil teve. Quem viu, viu. Quem viveu, viveu. Fenômenos não se constroem. Eles nascem. Aos "humanos", resta a construção dia após dia. Ano após ano. Degrau por degrau. E este é o caminho de Thomaz. Não será número 1 do mundo, mas é capaz de enfrentar o número 1 em condições de igualdade. Foi assim, aliás, contra Djokovic nas oitavas de final do Masters 1.000 de Roma, semana passada. O brasileiro ganhou o 1º set com autoridade impressionante. Perdeu o jogo. Como todos os outros do circuito perderiam. E perderam. O sérvio ganhou todas as partidas em 2015 dentro de Masters 1.000 e Grand Slam.

Para dimensionar Bellucci, é inevitável comparar com os outros "humanos" da história do tênis nacional. Fernando Meligeni (argentino de sangue, brasileiro de corpo, alma e coração), por exemplo, conquistou três títulos na ATP e atingiu a 24ª posição no ranking mundial. Thomaz alcançou em Genebra o 4º título e, na sua trajetória (todos do nível ATP 250), já chegou a ser 21º do mundo. Apenas Guga teve um ranking melhor em sua carreira. Na contagem de títulos, Bellucci é o 3º do país, atrás de Luiz Mattar, com 7 troféus. Fundamental, no entanto, considerar que eram outros tempos. Dos 7 títulos de Mattar, seis foram no Brasil, em competições com uma presença de estrangeiros e nomes de peso do circuito muito menor.  Em toda a história, apenas sete brasileiros venceram torneios de simples na elite da ATP. Além dos quatro aqui citados, completam a lista Tomas Koch, Jayme Oncins e Ricardo Mello.

A campanha no ATP de Genebra - torneio que contou com dois top 10: Wawrinka e Cilic - coroa não apenas a semana "perfeita" no saibro suíço, mas o desempenho nos últimos cinco torneios disputados. Antes ele passou pelo ATP de Istambul, ATP 500 de Barcelona, Masters 1.000 de Madri e Masters 1.000 de Roma. Nesta gira do saibro europeu, somou nada menos que 500 pontos no ranking (14 vitórias em 19 jogos) - saltando da 80ª posição para voltar ao top 40.  No saibro suíço, Bellucci se impôs em todos os jogos, passando por raros (mas perigosos) momentos de apagão. Os mais críticos foram nas quartas de final contra o espanhol Albert Ramos (levou um 6/1 no 2º set depois de ter emplacado um 6/0 no primeiro) e, na grande final, quando colocou o 1º set em risco diante do português João Sousa. Thomaz dominava o jogo e tinha 5/4 e 40/0 quando perdeu 10 pontos consecutivos, levou a virada e precisou sacar em 6/5 e 40/40. Drama que se agravou no tiebreak, onde saiu perdendo por 0-3.

Na estante de Bellucci, a taça de Genebra fará companha às duas taças conquistadas em Gstaad (2009 e 2012), também na Suíça, e ao título do ATP de Santiago, no Chile, em 2011. O brasileiro ainda tem no currículo as finais perdidas no Brasil Open de 2009 e no ATP de Moscou em 2012.  Da Suíça, Thomaz segue viagem para Paris onde estreia em Roland Garros na segunda-feira, contra o australiano Matosevic. A perspectiva de uma grande campanha no Grand Slam francês passa diretamente pelo possível duelo contra o japonês Kei Nishikori, número 5 do mundo, logo na 2ª rodada.