Velocidade

Reforma no autódromo segue parada e arrisca deixar Brasília sem provas em 2015

Capital começou 2015 sonhando com a Indy, mas pode ficar sem nada

postado em 03/07/2015 10:25

Vítor de Moraes /Correio Braziliense

Carlos Vieira/CB/D.A Press

Enquanto a papelada se perde entre os tribunais, a reforma do Autódromo Internacional Nelson Piquet entra no ostracismo. A pista está ao léu, à mercê dos efeitos do tempo. As obras viraram uma novela, agora em um hiato. Em dezembro de 2014, máquinas começaram a trabalhar no asfalto. Um mês depois, tudo parou. A pouco mais de dois meses de uma nova rodada de provas marcadas para Brasília, a inércia permanece. E o circuito se tornou um canteiro de obras com entulho acumulado.

Em fevereiro, o governador Rodrigo Rollemberg visitou o autódromo na companhia do presidente do Tribunal de Contas do DF (TCDF), Renato Rainha. Nada aconteceu desde então. Depois de perder a Fórmula Indy, Brasília ficou sem a segunda etapa da Moto 1000 GP, agendada para 27 de setembro.

Motivo constante de críticas, o asfalto até começou a ser substituído — são 5,4km de pista. Boxes e torres de cronometragem foram mandados abaixo. No entanto, seguindo recomendação do Ministério Público do DF e Territórios, o governo parou a reforma. O crédito suplementar de R$ 20,5 milhões, incorporado ao contrato com a Fórmula Indy, acabou bloqueado. No total, os gastos chegariam a R$ 251 milhões. Técnicos do TCDF encontraram indícios de sobrepreço, falhas no projeto de engenharia e duplicidade de serviços.

O problema tornou-se jurídico. A capital não receberá mais a Indy, porém precisa reconstituir o autódromo. Para setembro, estão agendadas provas da Stock Car, do Brasileiro de Marcas, da Fórmula 3 e da Mercedez-Benz Challenge, no dia 13. A Vicar Promoções Desportivas organiza todas elas. O Correio entrou em contato com a empresa, mas não houve retorno.

Brasília deveria ter recebido uma etapa da Stock em abril. A paralisação das máquinas, entretanto, fez com que a Vicar tirasse as provas do DF um mês e 20 dias antes da data prevista. Haveria também disputas do Campeonato Brasileiro de Marcas e da Fórmula 3. Nova Santa Rita (RS) herdou as corridas. Ainda aconteceu alteração de cidade na Fórmula Truck. A capital do país seria a anfitriã dos caminhões em 12 de abril, mas perdeu a etapa para Campo Grande (MS).

Carlos Vieira/CB/D.A Press
Em nota, a Novacap nada esclareceu. Responsável pela execução da reforma, a empresa disse pretender dar continuidade ao trabalho. “O governo de Brasília procura uma solução jurídica para retomar as obras suspensas. Parte dos recursos está garantida pela Terracap para a reforma. Assim que houver liberação, a Novacap executará a obra”, escreveu ao Correio.

Goiânia?

A demora na resolução do entrave para a reforma do autódromo provocou o cancelamento de todas as provas do ano dos campeonatos locais. Por isso, a Federação de Motociclismo do DF (FMDF) recebeu convite da federação goiana para levar três ou quatro etapas à cidade vizinha.

Os pilotos e o presidente da FMDF, Carlos Senise, no entanto, não parecem muito animados. “Estamos estudando a possibilidade devido aos custos. Como um piloto explica ao patrocinador que a prova será em Goiânia? Tem patrocinador que não se interessa, ele não tem loja lá”, justifica o dirigente.

Senise mantém contato com pessoas da Terracap e da Novacap, além de deputados distritais, como Celina Leão (PDT) e Júlio César Ribeiro (PRB), ex-secretário de Esporte. Nessas conversas, acredita em um desenrolar em dois ou três meses. Os pilotos ensaiaram uma manifestação há três meses, mas foram convocados para uma reunião com o governo. Como não houve avanço, o protesto pode ocorrer em breve.

Classificados

Sem perspectiva de provas em Brasília, um grupo de motociclistas transformou o Facebook em quadro de avisos de corridas em Goiânia e em espaço de classificados. O desânimo tem levado os competidores a se desfazerem das máquinas. “Tem muita gente vendendo as motos”, lamenta o presidente da FMDF, Carlos Senise.

O piloto Marco Bezerra pagou R$ 40 mil por uma BMW exclusiva para as corridas no autódromo, mas já se desfez dela. “Fui obrigado a vendê-la. Não tinha sentido ficar com uma moto de R$ 40 mil parada em casa, já que não podia sair com ela, pois era exclusiva de competição”, explica.

Sem local de treino, pilotos têm recorrido a estradas e outras pistas afastadas. “Parei de andar nas ruas, e, principalmente, em rodovias, depois de perder um amigo quando ia para o Jerivá (BR-060). Mas não ter um autódromo faz com que várias pessoas e até alguns pilotos voltem a correr nas rodovias”, avisa Bezerra.

Dirigentes de federações aguardam um novo passo do GDF. “Demos um voto de confiança, o governo tinha acabado de assumir. Mas, se esperarmos todos os problemas do DF acabarem, não teremos a praça, que é única”, diz Senise.

Carlos Vieira/CB/D.A Press