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PARAQUEDISMO

Brasiliense se arrisca ao saltar em penhasco e conquista vice-campeonato mundial

Especialista em wingsuit, Yuri Sasaki Cordeiro voa à 200km/h e chega à final do Mundial da Noruega. Esporte matou 15 atletas em 2013 e é um dos mais perigosos do mundo

postado em 30/07/2014 11:25 / atualizado em 30/07/2014 12:47

Jéssica Raphaela /Correio Braziliense

World Wingsuit Race/Divulgação

Poucas pessoas têm a frieza de se jogar em um abismo a 800 metros de altura do chão. O brasiliense Yuri Sasaki Cordeiro é uma delas. Ele, aliás, é especialista no assunto, já que, no último dia 13, conquistou o vice-campeonato mundial de wingsuit nos fiordes de Gridset, na Noruega. Pela primeira vez, um brasileiro chegou à final da maior competição da modalidade. Feliz com o feito, Yuri, com 39 anos, demonstra tranquilidade ao falar do esporte que é considerado um dos mais perigosos do mundo. “Salto por que acredito que dá para sobreviver.”

Mais do que sobreviver, a cada pulo Yuri experimenta a sensação que muitos seres humanos gostariam de degustar. Com um traje especial, que faz o atleta planar, ele consegue alcançar velocidade de 200km/h no ar. Por isso, os praticantes do wingsuit são chamados de “homens-pássaro”. “É a sensação exata de uma ave. Você sobe até o pico e salta, a asa infla e você começa a voar muito rápido. Tem que ter muito controle, como se a roupa fosse um pedaço de você”, narra o brasiliense que adotou o Rio de Janeiro como lar. “Só não dá para bater as asas”, brinca.

A centenas de metros do chão, Yuri tem um acompanhante fiel, mas silencioso: o medo. É ele que faz o atleta ficar atento, ligado em cada movimento do corpo, em cada vento que passa. Qualquer erro pode ser fatal. “Já não tenho mais aquele medo absurdo quando salto. Ele se transformou num cuidado, num alerta. Eu respeito o esporte e seus riscos, respeito meus limites e respeito as condições da natureza. Preciso planejar até os mínimos detalhes para que não termine em tragédia”, conta o brasiliense.



Para poucos
Na ponta do penhasco, muita concentração. “Não é uma brincadeira, algo que eu possa banalizar”, frisa Yuri. Se necessário, ele até aborta os planos, já que o salto depende de inúmeros fatores, como a condição do tempo, o vento, o perfil da montanha e o estado físico e psicológico do atleta. Lidar tão bem com essas condições a ponto de ser o segundo melhor do mundo neste ano exige maturidade. “Não é um esporte para jovens”, observa o experiente paraquedista e se explica. “É preciso uma maturidade que só se consegue com a idade. Pessoas com 20 e poucos anos não pensam nas consequências e isso é perigoso.”

Os paradoxais instintos de aventura e de sobrevivência convivem em harmonia no dia a dia de Yuri Cordeiro. Piloto de helicóptero, ele transporta pessoas e materiais para as plataformas de petróleo no Rio de Janeiro. Para ter sucesso na arriscada profissão, faz constantemente cursos de gerenciamento de risco e emergência. A experiência, ele agrega ao esporte e se sente mais preparado nos treinamentos na Pedra da Gávea e nas provas pelo mundo. “Por viver nessa rotina de aventura, sou muito controlador. Só faço o que acho seguro. Se sinto insegurança, mudo os planos e fico mais conservador. Administro bem o perigo”, salienta, justificando as escolhas pela rotina de risco.

Asas artificiais
O wingsuit é uma modalidade do paraquedismo que consiste em saltar com um traje especial que possui membranas. Essa roupa faz o atleta planar e alcançar altas velocidades. O esporte tem duas vertentes: o salto de avião e o salto de estruturas fixas, como montanhas e prédios, inspirado no base jump. Para pousar, o praticante aciona o paraquedas e logo retorna ao chão.

Esporte radical
O alto risco do wingsuit faz com que o esporte seja praticado por poucos. Por isso, é pequeno o número de pessoas que conhecem o esporte. No ano passado, no entanto, a modalidade chamou atenção por conta do número de vítimas que morreram durante a prática. Em 2013, foram registradas pelo menos quinze mortes de "homens-pássaro".

Entre as vítimas fatais do ano passado, estão dois renomados atletas. O britânico Mark Sutton bateu em uma colina rochosa nos alpes suíços em agosto, depois de dar um salto de um helicóptero a três mil metros de altura. Ele havia trabalhado na abertura das Olimpíadas de Londres, em 2012, como dublê do agente secreto James Bond em um salto de paraquedas. No mesmo mês, o apresentador de TV e especialista em esportes radiciais, Álvaro Bultó, de Barcelona, morreu em Berna, na Suíça, por conta de uma falha no equipamento de voo.

A modalidade não tem regulamentação no Brasil, o que aumenta os riscos de alguém inexperiente se aventurar no wingsuit. Um dos principais locais usados para a prática é Boituva, em São Paulo. Outros países, como a França e Estados Unidos, cobram pré-requisitos: pode praticar quem tem a partir de 200 saltos de paraqueda. Esse número varia entre os países.