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RIO-2016

Grande nome do atletismo nacional, Fabiana Murer confessa: "É difícil falar de medalhas"

Atleta tem demonstrado bom desempenho, mas minimiza chance de possível pódio

postado em 25/03/2015 09:53 / atualizado em 25/03/2015 10:04

Jéssica Raphaela /Correio Braziliense

AFP PHOTO / FRANCK FIFE

As Olimpíadas de Londres deixaram um vácuo no desempenho da delegação brasileira. Onde estava, afinal, a habitual medalha do atletismo? Todo esperaram, mas ela não veio, e o país passou em branco nas 46 provas da modalidade. Uma decepção para o esporte que figura em terceiro lugar entre os que mais renderam títulos olímpicos ao Brasil — foram 14 ao longo da história. Em busca de redenção em 2016, no Rio, o atletismo, porém, tem poucas estrelas e muitas incertezas.

A falta de medalha que incomodou os torcedores baqueou ainda mais a maior esperança da época. Campeã mundial indoor e outdoor de salto com vara, Fabiana Murer acertou apenas um salto no Estádio Olímpico de Londres. Os 4,50m não foram suficientes, e a atleta decepcionou ao não passar das eliminatórias. Passados três anos, ela ainda figura como o principal nome do atletismo nacional. “Tive que digerir muito bem aquilo e buscar forças para continuar treinando. Hoje, aquele resultado não me afeta em nada, parece que faz muito tempo”, minimiza a atleta em entrevista ao Correio.

Recuperada, Fabiana tem mostrado bom desempenho no ano pré-olímpico. No mês passado, levou ouro e bateu o próprio recorde sul-americano em competição de pista coberta na França. Segundo ela, o caminho progressivo a aproxima de um resultado expressivo no Rio de Janeiro, mas o alto nível das atletas torna a missão do pódio complicada. “Falar de medalha é sempre muito difícil. Eu quero saltar bem, alto. Se vier uma medalha, vou ficar contente”, diz.

“Loteria”

A posição conservadora da atleta em relação a pódio é compartilhada pela própria Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Segundo o superintendente técnico da entidade, Martinho Santos, os dirigentes ainda não comentam sobre títulos. “Dá um certo medo falar de medalha, porque é uma loteria. Às vezes, o melhor do mundo não tem um bom resultado na competição por fatores externos”, afirma. De acordo com ele, a confederação vai esperar o desempenho no Pan-Americano de Toronto, em julho, e no Mundial, em agosto, para fazer uma previsão mais consistente.

Além de Fabiana Murer, o bicampeão mundial de salto em distância em 2014, Mauro Vinícius da Silva, o Duda, é esperança no atletismo. A medalhista de ouro no salto em distância dos Jogos de Pequim, Maurren Maggie, parada nos últimos dois anos, confirmou que volta a treinar em busca de vaga nas Olimpíadas.

Enquanto o país ainda não se atreve a apontar favoritos, a comissão técnica aguarda os índices mínimos que o competidor tem de alcançar para garantir presença no evento no Rio. Os números devem ser anunciados pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF) no fim de abril. “Assim que forem divulgados os índices, nosso objetivo será alcançá-los o quanto antes para que os atletas parem de se preocupar com isso e fiquem mais focados na preparação às Olimpíadas”, explica Martinho Santos.

Três perguntas para Fabiana Murer

Em fevereiro, você bateu o recorde sul-americano em uma competição de pista coberta na França e foi bronze na Suécia. Já se sente preparada para buscar medalha nos Jogos do Rio?

“Vejo que tenho algumas coisas para melhorar na parte técnica. Não estou treinando tanto como antes, porque minha base está completa. Agora, estou focando mais em qualidade do que em quantidade. E tem dado certo. Falar de medalha é sempre muito difícil. Acho que as medalhistas vão saltar entre 4,58m e 4,90m. Mas eu gosto do Engenhão, é um estádio bom pra saltar. A pista vai estar reformada, vai ser veloz.”

Você sentiu diferença de investimento entre o ciclo olímpico anterior e o atual?
“Sim. Aumentou o investimento em relação a viagens, camping, competição, equipe multidisciplinar. Tudo isso ajuda na preparação, mas é muito difícil ganhar uma medalha. Prever pódio no individual fica complicado porque tem muito detalhe que acaba acontecendo no decorrer da disputa e pode atrapalhar ou ajudar o atleta. Mas dar ao competidor as condições ideais de treino colabora muito.”

O COB tem a meta de colocar o país no Top-10 do quadro de medalha. Você acha esse objetivo possível?
“Pela história, os países sedes têm um aumento significativo no número de medalhas. Acho que o COB tem que ter essa meta, sim. É importante que o investimento seja focado em algumas provas, dando suporte para buscar mais resultados. Vai ser difícil, mas é possível chegarmos ao Top-10.”