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Joanna Maranhão: "Não represento quem aplaude cegamente Bolsonaro e Cunha"

Em entrevista, nadadora reitera vídeo crítico postado em rede social

postado em 03/07/2015 10:36

Rodrigo Antonelli /Correio Braziliense

Edílson Rodrigues/CB/D.A Press

As entrevistas da nadadora Joanna Maranhão sempre fugiram do lugar-comum ou do discurso pronto de atletas. Por anos, ela criticou a política esportiva do país e deu a cara a tapa contra os mandatários das modalidades nacionais. Na temporada passada, chegou a se aposentar por causa, entre outras coisas, da relação conturbada com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e com o Comitê Olímpico do Brasil (COB). De volta às piscinas, ela está em fase final de preparação para os Jogos Pan-Americanos de Toronto, entre 10 e 26 deste mês, e mostrou que continua com a língua afiada.

A manobra do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para aprovar a redução da maioridade penal, na madrugada desta quinta-feira (2/7), não passou em branco por Joanna. Ela protestou com um vídeo em seu perfil no Facebook, criticando políticos e o discurso de ódio que, segundo ela, “vem crescendo no país”. A atleta disse que vai “defender o Brasil, mas não representar essas pessoas que batem palmas para (Marco) Feliciano, (Jair) Bolsonaro, Eduardo Cunha e (Silas) Malafaia”. Em questão de horas, as palavras dela alcançaram mais de 20 mil compartilhamentos na rede social. Pouco depois, a nadadora atendeu o Correio Braziliense, por telefone, e continuou o desabafo.

Você sempre foi uma atleta de opiniões fortes. Como surgiu a ideia de gravar o vídeo?
Na verdade, nunca deixei de falar o que penso e não acho que isso deva virar polêmica. Sempre gostei de debater, conhecer outros pontos de vista. Acho que isso é muito importante para a sociedade. O que aconteceu foi que eu parei de discutir política esportiva. Meus problemas com a CBDA e com o COB me atrapalharam muito no passado, chegaram até a afetar minha família, e eu não quero mais isso para mim. Mas continuo acreditando que a troca de pensamentos é muito importante.

Mas o que tirou você do sério e a levou a fazer o vídeo?
Sou contra a redução da maioridade penal e achei absurda a manobra do Cunha para aprovar algo que já tinha sido reprovado menos de 24 horas antes. Pensei bastante antes de publicar o vídeo, mas são coisas que não consigo guardar para mim. Foi um desabafo necessário para minha saúde mental. Não posso ir defender as cores do Brasil no Pan, semana que vem, sem deixar claro quem estou representando. Nado com amor e luto por medalhas para o Brasil, mas não represento essas pessoas intolerantes, que não aceitam opiniões diferentes e aplaudem cegamente Bolsonaro, Malafaia, Cunha e outros.

Na semana passada, você começou um diário virtual e, em um dos primeiros posts, abriu espaço para debates políticos atuais...
Gosto muito de escrever e dar opinião, principalmente para gerar debate. Faz com que eu pense e repense nas coisas. Daí, faltava um lugar para fazer isso, para ser minha válvula de escape. Foi então que minha amiga, Carol Moncorvo, me chamou para ter uma seção no blog dela, o YesSwim.com.br. Estou tentando canalizar as coisas que penso ali e abrir um espaço para troca de ideias. Não vou bloquear comentários, todo mundo pode falar o que pensa.

E como tem sido enfrentar a enxurrada de comentários?
Postei pouco, por enquanto, mas está bem legal. Quando você vai manso, o retorno também é manso. Tem que saber debater com educação. Não quero convencer ninguém de nada, só abrir um espaço para discutir mesmo. É um blog da paz, para quem quer pensar. O ódio está muito latente nas redes sociais e temos que filtrar bem as coisas. Não vale a pena dar atenção para aquele pessoal que só quer saber de atacar, xingar. A discussão é importante para trocar ideias.

Essa raiz politizada surgiu de onde? Família, estudo, amigos...
Meu irmão, Luiz Neto, sempre foi muito inteligente e me instigava com questões políticas. Também gosto muito de ler e estudar. Já fiz um curso a distância de ciência política, pensei em ser jornalista, escritora, médica veterinária, mas fiquei mesmo com a educação física. Eu me interesso por muita coisa diferente desde criança, deve ser influência da família.

Você acha que falta esse lado mais político aos atletas brasileiros? Atualmente, são poucos os que têm coragem de vir a público e expor opiniões.
Não gosto de julgar. Cada um vai até onde pode ir. Tem atleta que não gosta de fazer porque acha que atrapalha. Ser um atleta de alto rendimento exige muito e tem gente que não consegue se manter concentrado nos treinos, na rotina, se estiver com outro pensamento. Então, não podemos criticar ou cobrar nada mais. Vai de pessoa para pessoa, não é um defeito.

Em relação à competição, como estão as expectativas para o Pan de Toronto?
Treinei muito bem e estou muito focada desde que me mudei para São Paulo. Estou usando bicicleta para não me estressar com trânsito, meu técnico me dá um apoio grande e estou muito feliz de ir para o meu quarto Pan-Americano. Eu me sinto mais madura do que nas outras vezes (Joanna tem duas pratas e três bronzes na competição continental).

Você chegou a anunciar a aposentadoria no ano passado, mas mudou de ideia pensando no Pan. E com as Olimpíadas do Rio, ano que vem, dá para sonhar?
Claro que dá. Os meses que fiquei aposentada serviram de descanso para minha cabeça. Agora, eu me sinto muito melhor como atleta. Voltei bem melhor, estou evoluindo e sonho poder disputar os Jogos do Rio. O objetivo é fechar o ano entre as cinco melhores do ranking mundial e tenho boas chances para isso este ano, com Pan e Mundial.