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Brasiliense encara o desafio de nadar por 24h no Lago Paranoá

Sem poder se apoiar em momento algum, Tiago Sato terá de se virar para comer e "enganar" o frio

postado em 04/07/2015 09:40

Maíra Nunes

Minervino Junior/CB/DA Press


Para muitos atletas, principalmente aqueles que dividem o esporte com outra profissão, o horário de ir dormir é, geralmente, bem cedo. Virar a noite na rua, então, se torna quase impensável. Pois a exceção será neste fim de semana, no Lago Paranoá, onde mais de 100 competidores vão se reunir para nadar madrugada adentro, no Revezamento 24h de natação em águas abertas.

Enquanto alguns participantes até poderão tirar um cochilo, se conseguirem, o brasiliense Tiago Sato, 32 anos, estará mais acordado do que nunca. Ele é o único que planeja completar o desafio sozinho — os demais se revezarão em equipes.

Frio, fome e sono. Tudo isso espera por eles a partir do meio-dia de hoje e os acompanhará longas horas até o mesmo horário de domingo. Ao menos aquelas roupas de neoprene — que surfista também usa — ajudam a amenizar a temperatura baixa da água. O recurso poderá ser utilizado pela maioria, mas não servirá para Tiago Sato. Isso porque o evento candango será uma prévia de uma meta mais ousada. O brasiliense está em preparação para encarar um dos maiores desafios de maratona em águas abertas do mundo, daqui a um ano: ir e voltar pelo Canal da Mancha.

No local que separa a Inglaterra da França, o desafio vale apenas se não lançar mão de nenhuma vestimenta especial. “Só pode usar sunga, touca e óculos de natação”, diz Sato. E depois de tanto tempo dentro d’água, nem as braçadas e as pernadas são capazes de esquentar o corpo. “O frio não passa, sinto sempre, em todo o percurso. Para lidar com ele, o jeito é estar consciente e confiante”, assume o brasiliense. Nesta semana, a temperatura do lago durante a tarde rondava a casa dos 20°C. Já no Canal da Mancha, varia entre 14°C e 18°C.

Além de colocarem em prova a parte emocional, os competidores testam os limites do corpo ao se exporem a situações extremamente desgastantes como essa. Mesmo tratando-se de uma longa jornada de natação, não há espaço — nem tempo — para descanso. Sato terá de passar 24 horas sem pisar no fundo do lago ou apoiar as mãos em qualquer outro lugar. E como faz para comer nessas condições? Embarcações acompanham os participantes no trajeto para dar todo tipo de apoio, entre eles, fornecer a alimentação.

Para repor as energias durante a prova, o brasiliense pretende comer a cada 20 minutos. Com a ajuda de um nutricionista, montou uma planilha recheada de isotônicos, suplementos, carboidrato em gel, pêssego em calda e demais alimentos de alto teor glicêmico e rápida digestão. Mais ligeira ainda é a alimentação durante a maratona. “São segundos para comer. Se gastar 30 segundos é muito”, conta Sato.

Há cinco anos, o nadador se tornou o primeiro brasiliense e o 20º do país a atravessar o Canal da Mancha. Desta vez, “mais experiente e confiante”, como ele próprio ressalta, não ficará satisfeito em percorrer os cerca de 36km que separam a margem inglesa da francesa. O atleta pretende dobrar a distância vencida em 9 horas e 51 minutos, e fazer a ida e volta do canal. A expectativa dele é gastar em torno de 20 horas para concluir a nova aventura.

Na extensão do Oceano Atlântico, as condições serão, claro, bastante diferentes das que está acostumado no Lago Paranoá, a começar por se tratar de uma rota comercial. “Lá, passa muito transatlântico, então, faz muito barulho. Além de todas as adaptações quando se passa da água doce para a salgada”, comenta. No evento “preparatório” para o desafio do Canal da Mancha, em Brasília, Sato e os demais competidores vão dar voltas em torno de uma área de 1.000m², delimitada por boias.

O evento ocorrerá na altura da QL 13 do Lago Norte — ao lado do Hospital Sarah Kubitschek. O local, conhecido como “Quebrada da 13”, está ganhando carimbo dos adeptos da natação em águas abertas. É lá que Tiago Sato se reveza entre as aulas que ministra da modalidade e os treinos.