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VÔLEI

Mãe de Paula Pequeno volta a jogar vôlei na escola da filha, após mais de 30 anos parada

postado em 06/07/2015 17:22 / atualizado em 06/07/2015 19:07

Maíra Nunes

Minervino Junior/CB/D.A Press

Paula Pequeno passou mais de 15 anos fora de Brasília. De volta à cidade, onde mora há dois anos, aproveitou para montar uma escolinha de vôlei. O que a jogadora não poderia imaginar é que o projeto traria a mãe dela de volta às quadras depois de mais de três décadas afastada do esporte. Na última vez que disputou uma partida, Gercione Leite Marques estava grávida de oito meses da ponteira que se tornaria bicampeã olímpica. Prestes a completar 60 anos, Dona Gê, como é conhecida, não se intimida em ser a mais velha da turma máster da escola da filha.

“Quando começaram a falar em montar uma turma para os adultos, pensei que, se eu joguei, tenho uma boa noção, por que não recomeçar?”, explica Dona Gê. Ela não chegou a atuar profissionalmente, mas lembra os torneios locais e até nacionais que disputou com a equipe formada pelos colegas do trabalho. Gercione começou no atletismo. Até descobrir o vôlei, passou pelo basquete e handebol. “Comecei além da idade no vôlei. Eu era nova, mas não o suficiente”, lamenta.

A paixão foi transmitida aos descendentes. “Tive o primeiro filho e o levava para me ver treinar e jogar. Sempre tinha aquela vontade de um deles seguir o sonho daquilo que eu não conseguiria mais realizar”, assume.

Gercione estava na ativa quando engravidou pela segunda vez. Mesmo com Paula na barriga, ela seguiu frequentando os treinos no primeiro, segundo… Até passar do quinto mês de gestação. Foi quando o então marido e o diretor do clube se juntaram para não a deixar mais jogar. O campeonato do qual estava participando seguiu para as fases finais com o time desfalcado da atacante, que segundo a própria, se destacava na posição de ponteira -- coincidência ou não, a mesma função exercida por Paula Pequeno. Então, ela passou a assistir aos jogos como torcedora.

O problema único problema foi quando o time dela disparou a perder na final do campeonato. “Eu estava na arquibancada, desesperada sem poder fazer nada”, lembra. Foi quando arrumaram para ela um uniforme do time masculino, que havia jogado antes das meninas. “Tinha que ser um tamanho grande, porque já estava com barrigão”, conta, aos risos. “Infelizmente não ganhamos, mas recebi a medalha de homenagem à mãe esportista do ano”, vangloria-se.

Tempos de improvisos

A cada história, mais lembranças surgem na memória de Dona Gê. Longe das competições — e dos ginásios —, o jeito era improvisar como fosse possível para bater uma bola na rua. A quadra era desenhada de giz no chão, o placar era marcado por pedrinhas na calçada. De oficial, mesmo, só a rede, que Gê comprou, para a alegria dos vizinhos do Guará, onde morava. Mesmo assim, faltavam os mastros para sustentar a rede. “A gente prendia a rede em uma grade até o outro lado da rua, e jogava no asfalto mesmo. Só parava quando um carro queria passar. Então, alguém levantava a rede e depois seguia o jogo”, conta. “O clima era maravilhoso, vinha gente de várias ruas jogar.”

 Depois de mais de 30 anos, o retorno de Dona Gê ao vôlei foi luxuoso. Em um ginásio. Para quem estava acostumada a ficar o dia todo jogando na rua — por mais tempo que tenha passado —, o único problema apontado das aulas é que acabam muito rápido. “Conseguimos aumentar meia hora de treino, porque todo mundo está empolgado e quer jogar mais”, anima-se.

A volta de Gê às quadras proporcionou o encontro dela com a neta. A pequena Mel, 9 anos, filha de Paula, treina na escola da mãe. A administração do empreendimento fica por conta do irmão de Paula, um dos principais incentivadores da irmã a seguir carreira profissional no esporte. Outros tios e tias não ficam de fora, e também aderiram às aulas. São gerações unidas pelo esporte.