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MUNDIAL DE ESPORTES AQUÁTICOS

Brasil comemora medalhas em Mundial, mas formação da base preocupa

Especialistas buscam disseminar um plano para padronizar o treinamento da natação nas regiões do Brasil

postado em 25/07/2017 11:55 / atualizado em 25/07/2017 14:32

AFP
O Mundial de Esportes Aquáticos da Hungria marca o início de um novo ciclo olímpico. Depois de o Brasil subir apenas uma vez ao pódio nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, graças ao bronze de Poliana Okimoto na maratona em águas abertas, os resultados conquistados até o momento no Leste Europeu dão um sentimento de alívio. O país contabiliza três medalhas: ouro na maratona aquática com Ana Marcela Cunha, e duas pratas, uma no revezamento 4 x 100m livre masculino e outra nos 50m borboleta, nesta segunda-feira (24/7), com Nicholas Santos, de 37 anos. A preocupação  dos especialistas, no entanto, não é com Tóquio-2020. O foco é nos Jogos de 2024 e de 2028, em Paris e Los Angeles.

“A natação de base do Brasil está um pouco defasada. A metodologia usada desde as escolinhas não contempla as novas técnicas mundiais”, alerta Cezar Bolsan, gerente técnico de natação, que trabalhou no Comitê Organizador da Rio-2016. Para o treinador, a natação do país parou no tempo, inclusive, no ensino da modalidade. “O que compromete muito o futuro da natação olímpica e dos nossos resultados internacionais”, reforça Bolsan.

O especialista em natação explica que, décadas atrás, havia uma corrente muito ampla segundo a qual nadar é brincar, se locomover na água. Consequentemente, as crianças brasileiras passam a compor equipes de natação sem fundamentos e treinam intensamente. Porém, na adolescência e na idade adulta, param de praticar o esporte. “A desistência ocorre pelo fato de os jovens atletas não terem mais sustentação para continuar dando resultados. Isso é devido ao excesso de treinamentos ou falta de capacidade técnica para avançar a um nível internacional”, aponta.

Na opinião do técnico Emerson Ramires, com experiência no Brasil e na Espanha, o país precisa entender que os nadadores do Brasil nos Jogos Olímpicos de 2024 e 2028 já estão cursando aulas de natação e tendo a iniciação esportiva. “É fundamental ter uma escola nacional de treinadores da natação, com congressos anuais, com todas as regiões do país ou por proximidade geográfica”, argumenta Ramires.

O ano pós-olímpico da natação brasileira teve escândalos envolvendo a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). O ex-presidente da entidade, Coaracy Nunes, foi preso. “O momento é difícil. Passamos por uma turbulência política. Espera-se uma renovação a partir de agora”, projeta Moacyr Pestana, treinador brasileiro que também integrou o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016.

Ídolos 

A volta de César Cielo é comemorada por Moacyr Pestana. Mas não necessariamente por causa da prata no revezamento 4 x 100m, mas por ser uma referência brasileira em atividade. “Como temos poucos ídolos na natação do Brasil, eles sempre têm de ser referência, como é com Gustavo Borges, Ricardo Prado, Fernando Scherer, Fabíola Molina, Adriana Salazar Pereira. O Cielo, hoje, no Mundial, um ano depois das Olimpíadas, é muito importante para dar referência, principalmente a essa meninada. Mas precisamos ter reforços”, adverte Pestana.

Alternativa é um plano nacional de integração

Preocupados com o futuro nos Jogos de Paris e Los Angeles na próxima década, os treinadores Cezar Bolsan, Emerson Ramires e Moacyr Pestana buscam disseminar um plano de trabalho para padronizar o treinamento da natação em todas as regiões do Brasil. Em Brasília, os três se reúniram para uma clínica na academia de natação Raia 10, em que os professores Fernando Monancheli, Pedro Bernardo e Noely Sarmanho adotam a nova técnica proposta por eles. 

A iniciativa deve contemplar desde o ensino da modalidade em todas as escolas do país até uma escola de formação de treinadores nacional em que haja conexão com todas as regiões do país. “Embora a natação seja um esporte individual, o coletivo é muito importante. Você tem de ter um time, uma equipe, formar uma coisa boa para todo mundo sair ganhando”, justifica Pestana.

A primeira regra é que as crianças precisam aprender a nadar. Para isso, as escolas seriam a principal ferramenta de impulsão, com a detecção de talentos nas escolas. Até então, nada de muito novo na teoria. Porém, na prática, a intenção é que se tenha um plano de iniciação esportiva. “Temos de capacitar professores e treinadores de todo o Brasil para falarem a mesma língua e ter uma filosofia brasileira de aprendizagem, de iniciação esportiva”, defende Ramires.

Os resultados desse plano seriam contar com nadadores mais motivados e profissionais capacitados. Além de dar oportunidades aos potenciais nadadores que vivem fora do pólo concentrado em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. “Não adianta ter dois ou três nadadores ou um clube muito forte em Manaus, se o restante não os acompanhar. Quanto maior competitividade em todas as regiões, mais competitividade vamos ter no Brasil e, claro, em nível internacional”, resume Ramires.