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ESPORTE EM BRASÍLIA

Ginásio abandonado no centro de Brasília não tem data para ser reativado

Cláudio Coutinho fica a poucos metros do Estádio Mané Garrincha, erguido ao custo de R$ 1,7 bilhão

postado em 11/09/2017 06:00 / atualizado em 10/09/2017 21:46

Maria Eduarda Cardim/Esp. CB/D.A Press
Quem vê o estado atual do Ginásio Cláudio Coutinho não imagina que o local já foi palco de diversas competições esportivas, há três décadas. Inaugurada em abril de 1981, a pequena arena no centro da capital tinha capacidade para 2.400 torcedores e recebia treinos e campeonatos regionais. Hoje, depois de 15 anos fechado e entregue à ação do tempo, não tem condição nem de sediar uma partida amadora. 

As entradas, cheias de pichações, estão fechadas com correntes enferrujadas e tapumes, pois alguns portões não existem mais. Pelas frestas, é possível ver o abandono também do lado de dentro, onde lixo e entulho estão empilhados — uma situação parecida com a das quadras poliesportivas ali ao lado. Todo o abandono contrasta com o concreto das colunas do Estádio Mané Garrincha, erguido ao custo de R$ 1,7 bilhão a apenas 200 metros de distância.

A poucos passos do ginásio, distinguindo-se da aparência negligenciada, ainda funciona o complexo aquático de mesmo nome — Cláudio Coutinho, ex-técnico da Seleção Brasileira, morreu aos 42 anos, no ano de inauguração do espaço esportivo. A piscina olímpica dali, uma das melhores da capital, sedia competições e abriga algumas federações esportivas do Distrito Federal. 

Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press
As recordações do ginásio são lembradas diariamente pelos dirigentes que trabalham na estrutura vizinha e, antes do abandono, o utilizavam. É o caso de Sérgio Faria, 70 anos, presidente da Federação de Vôlei do DF. “Dá até depressão passar por ali sempre e ver o local abandonado”, lamenta. 

O dirigente não chegou a atuar na arena como atleta, mas acompanhou algumas partidas na época em que se mudou do Rio de Janeiro para Brasília, em 1994. Na visão dele, a falta do Ginásio Cláudio Coutinho atrapalha o desenvolvimento do esporte da cidade. “O tamanho dele é ideal para equipes que jogam na Superliga (de vôlei) e para competições de tamanho médio”, avalia. Recentemente, a capital declinou do convite para sediar o Campeonato Brasileiro Infantojuvenil de Seleções, em outubro, porque não tinha ginásio para o porte do torneio. 

O Ginásio Nilson Nelson, com capacidade para 11 mil torcedores, é inviável para campeonatos menores, devido ao custo-benefício. A estrutura é cara demais para abrir e manter em dias de competição, o que afugenta até mesmo os times profissionais da cidade. 

Nostalgia

O presidente da Federação de Handebol do DF, Gilberto Cardoso, 49, também enfrenta dificuldade para encontrar espaços para as competições de sua entidade. “Muitas vezes temos de recorrer a ginásios privados, como os de escolas”, conta o dirigente, que exerce seu primeiro mandato. “Para o handebol, o Cláudio Coutinho cairia como uma luva. Faríamos campeonatos locais e nacionais. Como está no centro da cidade, facilitaria a logística”, completa. 

O ex-jogador sente saudade dos anos 1980, tempo em que atuava como jogador na cidade. “Houve uma fase em que o Cláudio Coutinho era praticamente a casa do handebol. Treinei lá por um ano e disputei alguns campeonatos brasileiros”, recorda. A última vez em que treinou no local foi em 1986. “Não dá para acreditar que um ginásio como aquele, que tem estacionamento, comporta um bom público e já fez história em Brasília, esteja daquela maneira”, critica. 

Sem data

A reforma do Ginásio Cláudio Coutinho foi promessa em diferentes governos. Desde quando foi interditado, em 2001, o local recebe a promessa de que vai ser reformado. Oito governadores de seis partidos políticos passaram pelo Palácio do Buriti, mas o equipamento segue trancado. Apesar de o local ser administrado pela Secretaria de Esporte e Lazer, quem é responsável pelo imóvel é a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap). 

Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press
Hoje, o órgão busca parceria com a iniciativa privada para recolocá-lo em funcionamento. O lugar entrou no projeto batizado de ArenaPlex, que também reúne o Estádio Mané Garrincha, o Ginásio Nilson Nelson, o Complexo Aquático Cláudio Coutinho e as quadras poliesportivas da região central de Brasília. 

Em março, o Governo do Distrito Federal emitiu um chamamento no Diário Oficial do DF para que empresas apresentassem propostas para gerenciar o complexo. Até o momento, porém, não houve a publicação do edital de licitação da parceria público-privada, prevista para o fim de julho. O atraso se deu a pedido da Secretaria de Gestão do Território e Habitação (Segeth), que cobrou estudo de impacto de vizinhança. 

Além dos gastos com reformas e manutenção das arenas, a empresa que assumir a administração do ginásio terá de pagar também o ressarcimento do estudo e do projeto de negócio, no valor de R$ 3 milhões. 

Por meio de assessoria de imprensa, a Terracap informou que trabalha na modelagem final do projeto para, em seguida, abrir consulta e audiência pública. A companhia alegou que está finalizando um levantamento das áreas de todo o Centro Esportivo de Brasília para fundamentar o documento da licitação do ArenaPlex e, por isso, não tem previsão para lançar o edital.