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CAMPEONATO BRASILEIRO

A casa é sua, Ibrahikayke

Nascido no DF, cria do Flamengo e subaproveitado no Brasiliense em 2008, Kayke atuará pela primeira vez no novo Mané, quinta, contra o Coritiba, com estádio cheio

postado em 15/09/2015 11:10 / atualizado em 15/09/2015 11:22

Vítor de Moraes /Correio Braziliense

Gilvan de Souza/Flamengo

A descrição no site oficial do atacante deixa a modéstia de lado. “Kayke é um daqueles grandes talentos já nascidos no Brasil”, exalta o início da biografia. No mapa do Brasil, o atacante do Flamengo nasceu no quadrado: em Brasília. Nesta quinta-feira, Kayke estará em casa. Devido à venda do mando de campo, o rubro-negro enfrenta o Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro, no Mané Garrincha. Sete anos depois de vestir a camisa do Brasiliense, o jogador retorna ao Distrito Federal com status de vice-artilheiro do clube de maior torcida do país.

Ao lado de Emerson Sheik e Everton, Kayke tem quatro gols no Brasileirão. A nova arma de Oswaldo de Oliveira, porém, passou despercebido pelo futebol candango na Série B de 2008, quando foi contratado pelo Brasiliense. Encostado no Flamengo — clube que o revelou —, Kayke chegou por empréstimo ao Jacaré, com quem o rubro-negro mantinha parceria. Em 28 de abril daquele ano, vestiu a camisa amarela do clube de Taguatinga.

A chegada não teve pompa. Às vésperas do início da segunda divisão, o Brasiliense contratava o 12º reforço — o oitavo atacante do elenco. A declaração do reforço, na Boca do Jacaré, foi sucinta e insossa. “O Brasiliense é um clube de ponta e mais uma vez está montando um time forte para subir”, resumiu o então comandado de Gerson Andreotti, hoje técnico do Friburguense.

O anúncio da contratação de Kayke fez menos barulho, à época, do que o afastamento do zagueiro Padovani. Aos 20 anos, o atacante começava a rodar o Brasil. Do Brasiliense, ele partiu para Vila Nova-GO, Hacken (Suécia), Tromsø Idrettslag (Noruega), AaB Aalborg (Dinamarca), Paraná, Nacional (Portugal), Atlético-GO e ABC, antes de voltar ao Flamengo, no início de agosto deste ano, com a missão de ser o reserva de Guerrero.

“O Kayke estava muito bem, mas não foi titular porque era atacante. Tínhamos o Dimba e o Warley, que faziam muitos gols. Mas eu via que ele tinha qualidade”, lembra Andreotti. Kayke, recorda Gerson, veio para “compor elenco”. Sete anos se passaram, e o técnico não se esquece do início do jogador. “Além de bater muito bem na bola e ter boa colocação, era um bom profissional, um bom garoto.”

Gustavo Moreno/CB/D.A Press
Ex-camisa 23
A passagem pelo Brasiliense tem poucas linhas dedicadas na biografia do site oficial. O desempenho de Kayke é considerado decepcionante no Jacaré, embora ele não tenha atuado durante os 90 minutos nenhuma vez. O faro de gols comemorado pela torcida rubro-negra atualmente não marcou os meses do jogador no DF. Ele não fez muito além de acertar o travessão do Marília, em agosto de 2008, e balançar a rede em jogo-treino.

Ausente cada vez mais dos jogos, Kayke começou a ter sua saída estudada pelo Brasiliense. Um dos impedimentos para o adeus era o valor da rescisão. Até que, em 14 de outubro, o camisa 23 — no Flamengo, ele veste a 27 — foi dispensado. Andreotti havia sido substituído por Reinaldo Gueldini, que falou sobre a saída do atacante em 2008. “A gente está precisando de gente para jogar. Muita fofoquinha não resolve. Se deixar, vai voltar tudo como era antes de novo”, argumentou, sugerindo que Kayke estava insatisfeito.

Em entrevista ao Correio, o meia Iranildo, maior ídolo do Brasiliense, lembrou-se de Kayke, com quem costumava treinar cobranças de falta após o treino no Serejão. “Naquela época, o Kayke era novo, muito jovem. Talento, ele sempre teve, mas não estava focado, como agora. Chega uma hora em que você roda, roda, roda e fica mais profissional, se dedica mais. Talento, ele tem demais. Não é qualquer um que faz 200 gols na base”, lembra.

O mundo deu voltas. Kayke retornou à Gávea. Em seis jogos neste Campeonato Brasileiro, marcou quatro vezes. A rodagem mundo afora ajudou o camisa 27 a definir seu estilo. “Hoje, eu o vejo como um atacante mais de área. Acho que evoluiu muito”, elogia Gerson Andreotti, técnico do atacante nos tempos de Brasiliense.