Futebol Nacional

Gramado do Mané Garrincha é um dos mais caros do país, mas sofre com reclamações

Empresa que cuida do piso verde atribui preço alto a "déficit de iluminação"

postado em 08/06/2015 09:10

Marcos Paulo Lima /Correio Braziliense

Gustavo Moreno/CB/D.A Press

Licitação polêmica do governo de Agnelo Queiroz assumido às pressas pela gestão atual de Rodrigo Rollemberg. Insegurança do GDF em relação ao trabalho da única empresa concorrente e vencedora do edital. Falta de dinheiro para honrar o compromisso fechado em dezembro do ano passado, mas assinado apenas na semana passada para manutenção do gramado. Necessidade de “bronzeamento artificial” em um campo que sofre cada vez mais com a falta de iluminação devido a uma suposta falha no projeto do estádio mais caro entre os 12 que receberam partidas da Copa do Mundo de 2014.

Todos esses itens contribuem para que o gramado do Mané Garrincha, abandonado nos últimos cinco meses, seja pivô de uma guerra fria entre empresas que cobiçam, nos bastidores, a prestação de serviço de manutenção de um “tapete” que é criticado por quem lida diretamente com ele: técnicos e jogadores de futebol.

Bastaram dois jogos do Campeonato Brasileiro na arena. O primeiro a detonar o campo foi Levir Culpi, do Atlético-MG. “O gramado está muito ruim, especialmente para uma arena tão cara como essa. Eu lamento como contribuinte”, reclamou. “Para uma arena tão cara, o gramado está horroroso”, endossou René Simões, do Botafogo. O problema é antigo. Em 2013, Paulo Autuori também havia reclamado das condições do estádio recém-inaugurado. Na Copa das Confederações, o então técnico da Seleção, Luiz Felipe Scolari, detonou. “O campo do Centro de Capacitação dos Bombeiros estava melhor.”

Sob pressão, o GDF assinou, na semana passada, o contrato engavetado há cinco meses com a empresa vencedora da licitação realizada no fim do ano passado pelo governo Agnelo. Responsável pelas instalação e manutenção do gramado desde a inauguração do novo Mané Garrincha, a Greenleaf Projetos e Serviços concorreu sozinha. Em 12 de dezembro, foi declarada vencedora do certame. O martelo acabou batido com custa anual de R$ 1.126.882,20. O edital, ao qual o Correio teve acesso, diz: “O valor ofertado pela única empresa licitante está condizente com o preço estimado pela Diretoria de Obras Especiais”.

A licitação e o valor são questionados por empresas que esperavam, ao menos, ter a chance de concorrer com a Greenleaf. Uma delas aponta uma discreta restrição impressa no edital como barreira para que a firma vencedora tivesse adversários na licitação feita pelo governo passado. O candidato deveria ter atestado técnico de iluminação artificial. Prejudicado pela cobertura do Mané Garrincha, o gramado praticamente não pega sol. O setor norte é o mais prejudicado. Sem os raios, o campo depende de uma espécie de “bronzeamento artificial”. O edital exige, no mínimo, quatro torres de iluminação capazes de emitir calor semelhante ao da energia solar a fim de acelerar a fotossíntese e impedir a asfixia das mudas.

Valor no alto

O preço da manutenção é questionado. O contrato do GDF com a Greenleaf prevê investimento de R$ 1.126.882,20. O custo mensal é de R$ 94 mil. Sete das 12 arenas da Copa de 2014 informaram o valor da manutenção ao Correio (veja Tratamento VIP). O Mané só perde para o Maracanã. Contatado pela reportagem, Flávio Piquet, um dos sócios da Greenleaf, admite que o contrato é, de fato, um dos mais altos. A justificativa é uma suposta falha no projeto da cobertura do estádio, que protege o torcedor, mas prejudica a grama. “É uma das manutenções mais complicadas do Brasil. Parte do gramado passa aos menos seis meses sem receber raio solar”, argumenta.

Flávio Piquet coloca outras duas arenas ao lado do Mané Garrincha na lista das mais caras. “No Maracanã, por exemplo, teoricamente o valor é até maior. Quem fornece as lâmpadas artificiais é o próprio consórcio que administra o estádio. No caso de Brasília, já está inclusive no contrato”, explica, sem divulgar o custo dos gramados atendidos pela empresa. “Eu tenho cláusula de confidencialidade em todos.” No Maracanã, o custo mensal é de R$ 100 mil, o mais alto do país. A arena também tem problemas de iluminação.

Ao menos duas empresas dominam o mercado de instalação e manutenção de gramados de campos de futebol. Uma delas é a Greenleaf, com sede no Rio de Janeiro. A outra é a World Sports, em São Paulo. Ambas praticamente monopolizam o mercado nacional, mas há outras menores, que se se associam a essas duas em grandes licitações.

Quanto custa (valores mensais)

1. Maracanã: R$ 100 mil
2. Mané Garrincha: R$ 94 mil
3. Arena Corinthians: R$ 90 mil
4. Arena Amazonas: R$ 73 mil
5. Mineirão: R$ 60 mil
6. Arena Pernambuco: R$ 56 mil
7. Castelão: R$ 50 mil

Não informaram
Arena Fonte Nova
Arena Pantanal
Beira-Rio
Arena da Baixada
Arena das Dunas

Eles detonaram o gramado

“O campo do Centro de Capacitação dos Bombeiros estava melhor”
Luiz Felipe Scolari, em 2013, depois da estreia da Seleção na Copa das Confederações

“O gramado está muito ruim, especialmente para uma arena tão cara como essa. Eu lamento como contribuinte”
Levir Culpi, neste ano, após Atlético-MG 4 x 1 Fluminense

“Para uma arena tão cara, o gramado está horroroso”
René Simões, técnico do Botafogo, neste ano, após Atlético-GO 0 x 0 Botafogo