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O DIA EM QUE FOMOS ATROPELADOS

Quem apagou a luz?

Em 7 imagens, a desilusão pelo fim do sonho do hexa

postado em 05/07/2015 12:04

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Meu nome é João. Dia desses, lá na escola, pediram à gente que escrevesse sobre um assunto que a gente achava inesquecível. Eu e meus colegas ficamos olhando assim, meio na dúvida, e levantamos os dedinhos. Um perguntou o que eu ia perguntar:

– Professor, tem de ser coisa alegre ou pode ser coisa que é triste?

– Ah... Pode ser o que vocês quiserem.

Quem me conhece sabe como eu amo futebol. Meu sonho é ser jogador quando crescer. Se é para escrever, para contar, é disso que eu gosto de falar. Então, aquela história de ser alegre ou ser triste... era como se eu tivesse levado uma bolada na cara. Dessas bem fortes, que deixam a gente tonto, sem nem saber onde está, parecendo que a gente tá morto e vendo tudo acontecendo sem poder fazer nada.

Pois é... Eu, João, estava no Mineirão, aquele lugar gigante e amarelo. Tinha milhões de pessoas do lado. Meus amigos acham que é de onda, que eu falo querendo fazer piadinha, zoando, mas é verdade: era meu aniversário... de 7 anos. E meu pai repetia e repetia que ver o jogo do Brasil tão de pertinho era meu presente. Que a Alemanha era um time bom, mas... Ah, papai...

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

Mamãe diz que estou mais maduro agora, chegando aos meus 8 anos. Mas tem muita coisa que a gente, mesmo crescendo, não entende. 7 a 1? De vez em quando eu penso que foi só um sonho ruim e daí parece que alguém me puxa, sacode e grita, grita mesmo:

– Vergonha!!! Foi verdade!!!

E eu volto àquele Mineirão gigante e amarelo. Lá eu chorei, mas foi mais por meu pai. Os olhos dele estavam vermelhos. Paradinhos no tempo. As lágrimas pulavam uma a uma, faziam um desenho que ele tentava desfazer com as mãos. Tinha gente também xingando, vaiando, com muita raiva. Outros mudos, tristes, como eu só tinha visto no enterro do vovô.

Mas ninguém, nada tinha morrido ali. Ou tinha? Daí, eu me lembrei da vovó, que um dia, quando eu chorava por Tita, nossa cachorrinha, disse que a morte não mata. Como assim, vovó?

– O que mata é o esquecimento.

Eu continuei sem entender aquela frase... Prometo que vou perguntar a ela. E vou criar coragem e também perguntar ao meu pai que sonho ou pesadelo é aquele que me persegue desde aquele dia. Eu sentado sozinho no meio do campo sobre a bola. Tudo em volta é só silêncio, escuridão, e eu não consigo escapar daquele círculo de giz. Juro que vou perguntar:

– Quem foi, papai, que apagou a luz?

Não sei se ele vai ter a resposta. Mas eu vou insistir e perguntar mais uma:

– Quem vai ajudar a gente a acender?

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


Rodrigo Clemente/EM/D.A Press


Rodrigo Clemente/EM/D.A Press


Rodrigo Clemente/EM/D.A Press


Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

Tags: copa2014 futinternacional alemanha brasil 7 a 1