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Fora da Copa do Mundo, locutora do Mineirão se consola por não ser a voz do histórico 7 a 1

Funcionária do Mineirão, Pollyanna se ausentou do ofício durante o Mundial

postado em 08/07/2015 09:15 / atualizado em 08/07/2015 09:22

ARQUIVO PESSOAL
Incrédula, Pollyanna Andrade acompanhou em silêncio a goleada da Alemanha sobre o Brasil por 7 a 1. Acostumada a anunciar os placares dos jogos do Mineirão pelo sistema de som, a locutora oficial do estádio se limitou ao papel de torcedora após ser vetada pela Fifa para trabalhar na Copa do Mundo. Ao alegar a necessidade de utilizar equipe própria no evento, a instituição salvou Pollyanna do envolvimento com o maior vexame da Seleção em Mundiais.

Presente no Mineirão no dia da partida, ela se divide entre o alívio de escapar de anunciar os sete gols alemães e a vontade de trabalhar em um acontecimento histórico do futebol.“São sentimentos contraditórios. Por um lado, mesmo sendo 7 a 1, seria um sonho realizado trabalhar em uma Copa do Mundo, independentemente do resultado. Por outro, não foi necessariamente um alívio, mas tem essa questão de não ficar marcada como a locutora do 7 a 1”, explicou a jornalista.

Funcionária do Mineirão há mais de 16 anos, Pollyanna se ausentou do ofício durante a Copa após a determinação da Fifa de manter um padrão de vozes masculinas nos estádios. Longe da cabine de locução, seu habitual posto de trabalho, acompanhou a partida no setor laranja do estádio, localizado atrás do gol de Júlio César no primeiro tempo. Mesmo com todo o conforto das cadeiras retráteis colocadas na arena após a reforma para a Copa, a sensação de incômodo a acompanharia durante os 90 minutos seguintes. A visão privilegiada dos lances da Alemanha, com direito a cinco gols bem na sua frente, ficou gravada na memória da torcedora assustada.

“Foi um vexame histórico, uma derrota humilhante, um dos resultados mais notáveis da história do futebol, um jogo do qual nunca vou me esquecer”, lamentou. “Já acompanhei muitas goleadas no estádio, mas, com certeza, nenhuma delas foi tão expressiva e tão notória como essa da Alemanha em cima do Brasil”, completou.

O incidente trocou o fantasma do Maracanazo, da derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950, pelo Mineirazo de 2014. Apesar do placar negativo, Pollyanna observou que o desastre daquela tarde acabou se tornando uma atração à parte no Mineirão.

“Não existe nenhum tabu no estádio para falar sobre a vitória histórica da Alemanha em cima da Seleção Brasileira. Oferecemos, inclusive, a visita guiada ao Mineirão e ao Museu Brasileiro do Futebol, que possui peças alusivas àquela partida. A nossa equipe percebe uma curiosidade grande dos visitantes para saber detalhes sobre o jogo. E posso afirmar que o número de alemães interessados em conhecer o estádio aumentou após a semifinal da Copa do Mundo”, comentou.

Com o fim do Mundial, o Mineirão precisou retomar a rotina. Mesmo relembrando o ocorrido todos os dias, os funcionários da Minas Arena, administradora do estádio, também conseguiram seguir as tarefas cotidianas sem nenhum tipo de trauma no local de trabalho. “A equipe que trabalha no estádio não entra em campo, não é mesmo?”, brincou a locutora, que vê um papel coadjuvante do Gigante da Pampulha na tragédia. “O Mineirão não foi protagonista do vexame. O estádio foi, sim, palco de uma das partidas mais marcantes da história do futebol e de uma vergonha da Seleção Brasileira”, observou.

Imponente, o Mineirão segue com a vida após o 7 a 1. O resultado entrou para a história do estádio, que já viveu bons e maus momentos em competições distintas que ocorreram no último ano. Apesar da tristeza de ver uma derrota tão simbólica no local que considera sua segunda casa, Pollyanna fez jus ao nome otimista.

A exemplo da homônima protagonista do clássico literário “Pollyana”, de Eleanor H. Porter, a locutora tentou extrair algo de bom da goleada. Assim como no livro, no qual a personagem tenta ver a beleza por trás das coisas, Pollyanna Andrade assegurou que acompanharia o vexame outra vez por se tratar de uma partida marcada para a posteridade.

“É uma lembrança. Há gente que diz que, se soubesse do placar, não teria ido ao estádio no dia. Mas, mesmo se eu soubesse, eu iria, porque é uma história para contar para os filhos no futuro”, concluiu a voz do Mineirão, e não do 7 a 1.

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