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FUTEBOL INTERNACIONAL

Alemanha já ensaia uma nova geração após o 7 a 1 imposto ao Brasil na Copa do Mundo

Federação Alemã de Futebol vai investir 89 milhões de euros (R$ 335 milhões) na construção de uma academia na cidade de Frankfurt que, de forma ambiciosa, é chamada de o maior centro de reflexão sobre o futuro do futebol no mundo

postado em 02/08/2015 09:51 / atualizado em 02/08/2015 09:59

Divulgação/dfb.de

Terminado os 7 a 1 entre Alemanha e Brasil na Copa do Mundo, os cartolas decidiram se reunir e montar uma estratégia para os próximos 10 anos. Era fundamental pensar em uma renovação do grupo e reavaliar as estratégias para a próxima geração. Um plano para os 10 anos seguintes foi montado e uma parte substancial do orçamento da federação seria usado para erguer uma academia para criar uma nova geração de jogadores e treinadores.

O problema é que isso não aconteceu entre os dirigentes da CBF, que foram humilhados pelo resultado no Mundial. Quem colocou em prática uma renovação foi justamente a Alemanha, que deixou claro que não poderia se iludir nem com os 7 x 1 nem com a conquista da Copa de 2014. A meta era clara: se manter no topo do mundo por uma geração inteira e, em 10 anos, ser a maior nação do futebol mundial, com as mesmas cinco estrelas do Brasil.

A partir de janeiro de 2016, a Federação Alemã de Futebol vai investir 89 milhões de euros (R$ 335 milhões) na construção de uma academia na cidade de Frankfurt que, de forma ambiciosa, é chamada de o maior centro de reflexão sobre o futuro do futebol no mundo.

Descrita como “a catedral”, o local terá pelo menos cinco campos oficiais, dos quais dois estariam em locais cobertos. Além dos escritórios administrativos, o local será o epicentro do desenvolvimento do futebol alemão, com foco nos jovens. Projetos científicos sobre o jogo serão desenvolvidos em salas fechadas, assim como a preparação de novos treinadores.

Desde o ano 2000, a Alemanha já havia revolucionado o mundo do futebol ao adotar uma estratégia de longo prazo para formar novos craques. Estabeleceu a obrigatoriedade para que todos os clubes tenham escolinhas e, mesmo aqueles sem dinheiro, recebem recursos dos grandes times para montar as suas categorias de base. O resultado foi a criação de uma geração com Lahm, Thomas Muller, Schweinsteinger e dezenas de outros craques.

A federação, porém, não estava satisfeita. Além de difundir o jogo pelo país e enviar centenas de olheiros, a meta era a de criar um supercentro e um plano para tornar a Alemanha praticamente uma concorrente ao título em qualquer torneio que dispute. “Esse projeto é muito importante para o desenvolvimento de nossos talentos e para educar nossos treinadores”, indicou o diretor esportivo da federação, Hans-Dieter Flick. “Queremos reunir o nosso conhecimento sobre o futebol e desenvolver não apenas novos jogadores, mas novas ideias para que possamos nos manter competitivos por muitos anos”.

Nada ocorreu sem uma consulta popular. Para a construção ser aprovada, os cidadãos de Frankfurt foram consultados, já que a federação ganharia incentivos fiscais. Em junho, o projeto ganhou o sinal verde.

“Somos os campeões do mundo”, escreveu o treinador Joaquin Löw aos moradores da cidade alemã onde o centro será erguido. “Mas não devemos relaxar agora que atingimos nossa quarta estrela”, apontou. “Precisamos de condições ideais para continuar a jogar num nível elevado no futuro. Isso implica os times juvenis, de mulheres e a seleção principal, assim como a educação para treinadores”, escreveu. “A academia será onde vamos desenvolver nossos jovens jogadores e nossas ideias”, completou.

O presidente da federação também deixou claro que a ordem não é a de relaxar. “O ano de 2014 foi extraordinário. Mas ele não deve ser algo isolado. Não vamos ficar sonhando com as nossas conquistas e por isso temos um plano de dez anos”, declarou Wolfgang Niersbach. A meta é ambiciosa: conquistar em 2016 a Eurocopa na França, o pentacampeonato mundial na Rússia em 2018 e sediar, em casa, a Eurocopa de 2024.

BERÇÁRIO

Mas a federação já alertou que não vai esperar para que a academia abra suas portas para implementar a nova estratégia. Um manual distribuído nas escolas de todo o país revela a dimensão da estratégia alemã. No livreto, a meta é de que crianças a partir dos 3 anos de idade sejam introduzidas ao futebol nos jardins de infância.

Mas isso não ocorreria de qualquer forma ou apenas deixando uma bola com a garotada. Com metas bem estabelecidas, o manual traz até orientações de como fazer os meninos, que nem sequer sabem escrever ou falar direito, a jogar.

Pelo sistema criado, equipes de quatro meninos deveriam ser formadas e jogando entre si, sem goleiros. O gol deve ter dois metros, em um campo de 20 x 15 metros. O manual ainda sugere que as crianças de 3 a 6 anos de idade sejam levadas a jogos amistosos para começar a conhecer as “emoções” do estádio e que treinadores tenham um papel afetivo que vai além de ensinar a chutar.

Mas é a faixa etária entre 11 e 15 anos que deve receber a maior atenção da federação para que se identifique os novos craques. No total, a entidade e clubes terão mil treinadores pelo país para preparar essa nova geração e colocar em campo 14 mil garotos nessa fase pré-adolescente com chances de serem profissionais.

No centro da estratégia estão as escolas do sistema público alemão, que servem de laboratórios para esses jovens. Para isso, aprenderão técnica, mas também serão educados para ter “a vontade de vencer”, entender “conceitos táticos”, manter o aspecto lúdico do jogo e ainda reconhecer a “hierarquia e espírito de equipe”.

No total, a Alemanha quer avaliar em todas as faixas etárias até 18 anos mais de 600 mil crianças pelo país, na busca dos novos campeões do mundo. “Queremos deixar uma marca em toda uma geração”, completou Löw.

Mas além de ganhar campeonatos e chegar às finais de todos os torneios, o plano explícito dos dirigentes é a de não depender de ninguém para garantir o sucesso da seleção. Nem dentro nem fora de campo.

A geração de ouro do futebol alemão de Lahm e Muller, porém, corre um sério risco: a de que não haja nem sequer tempo para que as crianças memorizem os nomes de todos os titulares que venceram o Mundial de 2014, antes que uma nova geração ainda mais competitiva os force ao banco de reservas.

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