Seleção
None

PELÉ

Há exatos 60 anos, Pelé fazia sua estreia pela Seleção Brasileira

Menino franzino, que sequer havia completado 17 anos, Pelé debutou em derrota para a Argentina, no Maracanã, mas deixou sua marca

postado em 07/07/2017 08:00

Mario de Moraes/O Cruzeiro/EM

Em um Maracanã com mais de 60 mil torcedores, Brasil e Argentina reeditam um dos maiores clássicos do futebol mundial. Além dos atrativos naturais de um duelo de tamanha rivalidade, aquela partida no dia 7 de julho de 1957 reservava um ingrediente extra: a estreia com a Amarelinha de um garoto franzino, que ainda não havia completado sequer 17 anos. Seu nome: Pelé. Quem compareceu ao estádio há exatos 60 anos não podia imaginar que estava presenciando o surgimento daquele que viria a ser o maior artilheiro da história da Seleção e o maior jogador de todos os tempos...

Pelé era quase um desconhecido para boa parte dos torcedores. Afinal, havia disputado apenas 34 partidas como jogador profissional! Após se destacar em clubes amadores de Bauru, fora contratado pelo Santos e estreara pelo Peixe apenas dez meses antes, no dia 7 de setembro de 1956, na goleada de 7 a 1 sobre o Corinthians de Santo André. Fenômeno precoce – tinha exatos 15 anos, 10 meses e 14 dias -, já foi logo balançando as redes... Ainda jogou mais uma vez em 1956 (4 a 2 no Jabaquara, com direito a mais um gol), mas só passaria a ser titular a partir de fevereiro de 1957.

No total, antes de estrear pela Seleção, foram 30 jogos pelo Santos (19 vitórias, quatro empates e sete derrotas) e outros quatro por um combinado Santos/Vasco (uma vitória e três empates). Neste período, já foi logo impressionando, com a incrível marca de 24 gols. Era natural que fosse observado com mais atenção pelo então técnico da Seleção, Sylvio Pirillo, que apenas começava seu trabalho.

Impressionado com a garotada do Peixe, em junho Pirillo já havia convocado quatro atletas do Santos (Zito, Pagão, Del Vecchio e Tite) para suas primeiras partidas no comando da Seleção, diante de Portugal: 2 a 1 no Maracanã e 3 a 1 no Pacaembu.

No mês seguinte, para a disputa da Copa Roca (atual Superclássico das Américas) com a Argentina, o ‘acaso’ acabou dando uma forcinha. Mais preocupados com as excursões ao exterior, que ajudavam a engordar seus cofres, os clubes relutaram em ceder seus jogadores. O Botafogo não liberou Nílton Santos, Didi e Garrincha. O Flamengo fez o mesmo com Dida e Dequinha. Para piorar, Boquita (Corinthians) e Riberto (São Paulo), inicialmente convocados, foram cortados por lesão. Pirillo, então, teve a ousadia de convocar dois garotos: Pelé e Mazzola (este prestes a completar 19 anos).
Com 16 anos, oito meses e 15 dias, Pelé ficou como opção no banco de reservas. Em campo, o time brasuca não começou bem. A defesa se apresentava insegura e Zito era o único que se destacava. Os argentinos, mais organizados, eram liderados pelo veterano Labruna (39 anos), autor do primeiro gol.

No intervalo, parte da torcida do Maracanã - que conhecia Pelé pelas suas exibições no torneio Rio-São Paulo - pediu pela entrada do jogador. Pirillo atendeu, o garoto entrou no lugar de Del Vecchio, seu companheiro do Santos, e incendiou o jogo. Não demorou a dar seu cartão de visitas. Aos 32 minutos, recebeu lançamento de Moacir dentro da área e, mesmo bem próximo ao goleiro Carrizo, teve a tranquilidade de um veterano para, de pé direito, colocar à esquerda, no fundo das redes. Era apenas o primeiro dos 97 gols que faria com a camisa da Seleção...

Fato que naquele dia a alegria duraria pouco, pois no minuto seguinte a Argentina chegou ao segundo gol com Juárez. Mas não havia de ser nada... Três dias depois, no segundo duelo contra a Argentina, Pelé começou como titular e fez um dos gols na vitória de 2 a 0 que garantiram o caneco para o Brasil. Era só a primeira de muitas taças que viriam... Começava ali a trajetória que resultaria em três títulos mundiais (1958, 1962 e 1970), muitos gols, dribles, jogadas memoráveis e o status de maior jogador de futebol de todos os tempos. A monarquia Pelé estava definitivamente inaugurada.



A primeira vítima

Enquanto Zaluar, arqueiro reserva do Corinthians de Santo André no final da década de 1950, chegou até a fazer um cartão de visitas se identificando como o goleiro a sofrer o primeiro gol de Pelé, com o argentino Carrizo a história é diferente. Lenda viva do futebol hermano, ele não vê como ‘honraria’ ter sofrido o gol de estreia do Rei na Seleção... “Levar gol nunca é motivo de orgulho para um goleiro”, cravou em rara entrevista concedida ao Globoesporte.com, ainda em 2007.

O argentino recordava claramente do lance. “Não foi uma jogada tecnicamente elaborada, ele recebeu na área e teve oportunismo. Como grande artilheiro que seria depois, já tinha intuição”, destacou. Carrizo afirmou não ter percebido que estava diante de um fenômeno. “Não reparei muito nele, era muito garoto, não era conhecido pelos argentinos. Não tinha como prestar atenção só no Pelé, pois o time brasileiro era muito bom, tinha Zito, Bellini, Mazzola. Não sabia que ele viraria o famoso Pelé”, reconheceu.

Amadeo Raul Carrizo Larretape fez história no River Plate, onde começou a carreira em 1945. Também precoce, estreou com apenas 18 anos. Foi titular de 1948 a 1968, defendendo o clube em 521 partidas, um recorde. Um dos pioneiros no uso de luvas e em jogar afastado do gol, era apelidado de Tarzan, por suas defesas ‘acrobáticas’.

Defendeu a Seleção Argentina de 1954 a 1964, mas ficou marcado pela derrota de 6 a 1 para a Tchecoslováquia na primeira fase da Copa de 1958. Magoado com a ‘recepção’ da torcida (jogadores foram recebidos com chuva de moedas e pedras), recusou inúmeras convocações nos anos seguintes. Acabaria fora das Copas de 62 e 66. Curiosamente, seus reservas no River (Domínguez e Gatti, respectivamente), seriam os titulares.
Nascido em Santa Fé em 12 de junho de 1926, Carrizo vive hoje em Buenos Aires. Aos 91 anos é presidente de honra do River Plate. Foi eleito o 10º maior goleiro do século XX pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol), o melhor sul-americano da lista. Em sua homenagem, o senado instituiu o dia 12 de junho como o “Dia do goleiro argentino”.
 
Peito para bancar o futuro Rei
 
A passagem de Sylvio Pirillo no comando da Seleção Brasileira em 1957 durou tão somente quatro jogos – dois contra Portugal e dois contra a Argentina -, mas colocou seu nome na história como o primeiro a convocar Pelé para vestir a Amarelinha.

Ex-atacante, Pirillo havia se aposentado dos gramados há menos de cinco anos. Começara a carreira de treinador no Botafogo, onde, em sua última temporada, acumulava funções de jogador e técnico. Em 1957, no Fluminense, sagrou-se campeão do Torneio Rio-São Paulo. Acabou convidado a dirigir a Seleção.

Adepto do futebol ofensivo, teve peito para convocar vários garotos, principalmente do Santos, que encantava o país. Entre eles, é claro, estava Pelé. Só viria a ter nova chance na Seleção em 1962, no Campeonato Sul-americano de novos, disputado no Peru. Após comandar equipes como Internacional, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Bahia, encerrou a carreira de treinador em 1980, dirigindo o modesto Taubaté.

Como jogador, Pirillo havia marcado época no Flamengo. Com a dura missão de substituir a Leônidas da Silva, correspondeu e se tornou o 4º maior artilheiro da história do clube (204 gols em 236 jogos). Só teve chance de atuar pela Seleção no Sul-Americano de 1942. Apesar de ter feito seis gols em cinco partidas (três nos 6 a 1 sobre o Chile e outros três no 5 a 1 sobre o Equador), não seria mais convocado.

PERFIL - Sylvio Pirillo
Nascimento: 26/7/1916, em Porto Alegre
Falecimento: 22/4/91, em Porto Alegre
Clubes como jogador: Americano-RS (1934/35); Internacional (36/39) Peñarol (39/41), Flamengo (41/47), Botafogo (48/52).
Como técnico: Botafogo (1952); Bonsucesso (53/55); Náutico (55 - 70); Fluminense (56/58); Internacional (59); Corinthians (59/60 – 74/75); Seleção Olímpica (62); Palmeiras (63/64); Juventus (65); São Paulo (67/68); Ferroviário-PR (69); Bahia (72); Desportiva Ferroviária (74); Paysandu (77); Santo André (79); Rio Claro (80); Taubaté (80).

Tags: copa2018 eliminatorias futinternacional santossp futnacional selefut pelé