Redação - Correio Braziliense
18/06/2013 19:13
18/06/2013 20:04
No apartamento da diretora de cinema e fotografia Carla Toledo Dauden, 23 anos, em Los Angeles, o telefone não para de tocar. No Facebook, ela recebe solicitações de amizade de pessoas do mundo inteiro. Tanto interesse pela brasileira — que diz não dormir direito há duas noites — vem do vídeo “No, I’m not going to the World Cup (Não, eu não vou para a Copa do Mundo, em inglês)”, postado no Youtube na manhã de segunda-feira. Nele, vários questionamentos sobre os altos gastos da Copa em contraste com algumas das mazelas brasileiras. O vídeo já tem 649 mil visualizações.
Carla passou grande parte da infância e da adolescência em Florianópolis (SC) e foi para os Estados Unidos há quatro anos, para estudar cinema. Ela se formou em maio do ano passado e, depois de trabalhar em uma empresa de comerciais para televisão, decidiu se demitir em busca de oportunidades como cineasta e roteirista. O vídeo que se tornou viral na internet surgiu como um projeto pessoal e só contou com a ajuda de um amigo. Foi filmado em sua própria sala, com uma câmera própria e equipamentos de luz emprestados. Ficou pronto há duas semanas, antes da onda de protestos que levou milhares de pessoas às ruas das principais capitais brasileiras.
De malas prontas, Carla chega em Florianópolis hoje, para visitar a família, mas, antes, falou com o Correio sobre o vídeo.
Como surgiu a ideia de fazer o vídeo?
Veio antes das manifestações começarem. Eu tinha acabado de pedir demissão do local onde estava trabalhando, porque não estava feliz, e estava tentando achar um projeto legal. Como sempre me incomodou o fato do pessoal dos EUA não conhecer o Brasil, decidi fazer sobre esse tema. Foi coincidência ser na época dos protestos. Nunca imaginei que ia gerar tanta discussão. Várias coisas me motivaram. A primeira foi mostrar como a situação das pessoas é precária. Também tive vontade de divulgar para o mundo o que se passa no Brasil, poucos estrangeiros sabem o que realmente acontece aí.
Ficou surpresa com a repercussão?
Nunca imaginei que poderia ser compartilhado por todo mundo. Pessoas de vários países, de todos os cantos do mundo estão me mandando mensagens. É muito legal ver isso. A maioria dos estrangeiros diz que não tinha ideia e agradece pelo vídeo mostrar o que está acontecendo no país. Também recebi contato de pessoas que trabalharam na Copa do Mundo da África do Sul, que falaram que é isso mesmo.
O dinheiro já foi gasto. Não é pior se os estrangeiros não vierem ao Brasil?
A intenção não é boicotar a ida de estrangeiros ao Brasil. Muitas pessoas estão mudando o título do vídeo, que é “Eu não vou para a Copa do Mundo”, para “Não vá para a Copa do Mundo”. Não é isso. A minha intenção é chamar a atenção para os problemas do país. A ideia é gerar uma discussão sobre isso.
Como foi feito o vídeo?
Eu mesma escrevi e editei, só tive ajuda de um amigo que é diretor de fotografia. Peguei imagens e pesquisei sobre o assunto na internet.
A sua família apoiou?
O meu pai estava me visitando quando eu resolvi fazer. Ele assistiu e até ajudou a editar. Todos eles gostaram muito, estão felizes, mas ninguém imaginava a repercussão.
O boicote dos estrangeiros na Copa do Mundo é uma forma de solucionar o problema?
Não sei se essa seria uma solução. Mas é preciso que tentem melhorar os problemas sociais. Não é necessariamente boicotar. O meu papel como uma pessoa que mora fora é trazer a atenção das pessoas para os problemas, gerar discussão. Quando comecei a fazer a pesquisa sobre a situação do Brasil, meu olho encheu de lágrima. Quando o brasileiro está longe, sente muito pelo nosso povo.
E qual seria a sua solução?
Não sou a melhor pessoa para dar essas respostas. Mas o fato é que não tá bom. Grupos como o Copa para quem talvez saibam responder melhor.
Você gosta de futebol?
Eu gosto. Mas me irrita um pouco essa obsessão que o Brasil tem pelo futebol. É muito pão e circo, esses caras (jogadores) ganham um dinheiro absurdo e são idolatrados.
Pretende voltar para o Brasil?
Eu amo o meu país. Quero voltar para aí um dia. Mas é difícil saber, depende do meu visto americano. Uma coincidência é que estou indo para o Brasil amanhã (hoje).
E vai participar dos protestos?
Pretendo sim. Minha irmã está super engajada.
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