Esportes Candango

BIKE BEAT

Adeptos de provas de resistência mostram como melhorar o preparo físico em pouco tempo

Brasilienses se aventuram em circuitos longos e sonham com medalhas de ouro

postado em 31/10/2014 12:26

Bruno Peres/CB/D.A Press

Ana Lídia Martins subiu na bicicleta pela primeira vez aos 49 anos. Com apenas 15% da visão no olho direito e completamente cega do esquerdo desde o nascimento, durante quase meio século pensou que pedalar seria um delírio. Cinco anos depois de quebrar o tabu, fez o percurso Brasília—Goiânia sem parar. Ela, massoterapeuta, está entre as participantes candangas das provas de Audax, um tipo de torneio de resistência com distância mínima de 200km — circuito que tem de ser percorrido em, no máximo, 13 horas e meia.

As provas de Audax surgiram em 1897, na Itália. Elas são diferentes dos principais eventos de ciclismo no mundo, como o Tour de France e a Volta da Espanha. Nessas últimas, há apenas um vencedor, aquele que chegar mais rápido que os outros. No Audax, a competição sai de foco: basta completar o percurso para ganhar medalha de ouro. Um prêmio diante da dificuldade de um tipo de prova na qual o ciclista pode chegar a percorrer até 1.000km de uma só vez. Parar? Só em intervalos rápidos para hidratação.

Durante a infância, Ana Lídia chegou a ouvir da vizinha de muro que nunca faria nada direito por conta da deficiência visual. Ao definir a maior satisfação de completar o primeiro Audax da vida, tantos anos depois, Ana Lídia ensaiou três frases até dar a sentença final. “São duas fases da minha vida. Antes, eu não acreditava no meu potencial. Depois, passei a encarar a vida de outra forma”, compara. “E faria outros 200km tranquilamente no dia seguinte”, jura.

Por causa das longas distâncias percorridas, apenas ciclistas experientes devem se aventurar na modalidade. Musculação e corrida são treinamentos paralelos obrigatórios para quem deseja completar um Audax. O militar Márcio Nascimento, 42 anos, anda de bicicleta há uma década. “Mas eu era só um ‘bicicleteiro’”, brinca, dizendo que não pedalava com frequência. Em outubro, Márcio encarou a primeira prova de 200km. Se a completou com relativa facilidade, não foi por acaso: no último ano, trabalhou os músculos das pernas na academia e nas piscinas. Assim, livrou-se das câimbras.

Se você só pega a bicicleta no domingo, seja no Eixão, seja no Parque da Cidade, acredite: o Audax não é meta inatingível. Lucienne Cesthini, 42, por exemplo, daria risadas se alguém lhe dissesse que um dia ela pedalaria 200km sem parar. Em março, a bióloga buscou grupos de ciclismo numa tentativa de superar a briga de longa data com a balança. Bastaram sete meses — e 14kg a menos — para que ela completasse o Brasília Batom Bike, primeiro Audax exclusivamente feminino no mundo.

“No primeiro mês de treinos, comecei com 20km. Fazer 13 horas seguidas me assustava antes, mas, hoje, ficou natural”, conta Lucienne. Além de cumprir trechos de subidas acentuadas, ela investiu na musculação antes de se arriscar. E esse é o roteiro recomendado para quem pretende se aventurar em um Audax pela primeira vez. Tão importante quanto pedalar é preparar o corpo para um desafio que, de impossível, não tem nada.