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CAMPEONATO BRASILEIRO

Como os 50 mil km de viagens em um mês atrapalham a Chapecoense

A agenda cheia de homenagens contrasta com momento difícil: o time está na zona de rebaixamento

postado em 30/08/2017 10:16 / atualizado em 30/08/2017 11:49

AFP/Luis Acosta
A Chapecoense tornou-se mundialmente conhecida após o acidente aéreo de 29 de novembro de 2016, que deixou 71 mortos na cidade de Rio Negro, próximo de Medellín, na Colômbia. A fama da equipe catarinense fez com que o clube fosse convidado para disputar alguns amistosos na Europa em agosto deste ano. Com o Campeonato Brasileiro em andamento e os compromissos firmados no Velho Continente, o time terá viajado mais de 50.000km neste mês, sem contar as escalas. A distância equivale a mais de 127 viagens de ida e volta a Goiânia.

Detalhe: com o triunfo do Vitória sobre o Coritiba por 1 x 0 na segunda-feira, a Chapecoense entrou na zona de rebaixamento para a Série B. Está em 17º lugar, com 25 pontos. Na sexta-feira, os reservas enfrentam a Roma, no Estádio Olímpico. Antes, a delegação foi recebida pelo papa Francisco, no Vaticano, nesta quarta-feira (30/8).

A saga do Verdão do Oeste começou em 7 de agosto, quando o time disputou o Troféu Joan Gamper contra o Barcelona, no Camp Nou. Um dia antes, a Chapecoense havia sido derrotada pelo Coritiba, no Couto Pereira, pela última rodada do primeiro turno do Campeonato Brasileiro. Cinco jogadores atuaram tanto em Curitiba quanto em Barcelona: Fabrício Bruno, Douglas Grolli, Luiz Antônio, Túlio de Melo e Arthur, todos titulares ou escalados frequentemente por Vinícius Eutrópio entre os 11.

A distância de Chapecó para a capital catalã é de 9.480km. Depois do compromisso no Camp Nou, os atletas ainda disputaram amistoso contra o Lyon, na França, e decidiram a Copa Suruga, contra o japonês Urawa Red Diamonds, no Japão. A Chape foi derrotada em todas as partidas. Ao fim dos embarques e desembarques, contando também os compromissos do Brasileirão, somou mais de 42.328km percorridos no mês de agosto.

O PhD em genética da performance humana, Rudy José Nodary Júnior, afirmou, em entrevista recente ao Correio, que o elevado número de viagens prejudica o desempenho de jogadores de alto nível: “O atleta tem uma grande sobrecarga no seu corpo e não vai conseguir se reabilitar em um banco de avião. A qualidade do atleta cai bastante, tornando essas viagens uma agressão irreparável ao indivíduo”.

Após 11 dias de excursão pela Europa e Ásia, a Chapecoense está entre os quatro últimos do Campeonato Brasileiro. Nos cinco jogos disputados em agosto, venceu apenas uma vez, perdeu três partidas e empatou outra.
 
 

Fuso horário

Outro fator que pode ter atrapalhado o rendimento dos jogadores da Chapecoense é a diferença entre os fusos horários entre Brasil, Espanha, França e Japão. Quando deixou o país rumo a Barcelona, o clube foi para uma região com fuso 5 horas à frente do Brasil. O mesmo aconteceu quando o clube desembarcou na França. Em Saitama, cidade japonesa que recebeu a Copa Suruga, a diferença para o Brasil é de 12 horas.

“A conta é mais ou menos de um dia de readaptação por hora de fuso. O organismo tem seu ritmo biológico controlado. Quando você vai para longe do fuso habitual, significa algo ruim. Não há adaptação rapidamente”, afirma o fisiologista José Juan Blanco Herrera, ex-membro da comissão médica da Federação Internacional de Natação e médico da Seleção Brasileira de Maratonas Aquáticas.

A Chape retornou do Japão em 16 de agosto. Pelas contas do médico, só estaria totalmente readaptada ao fuso brasileiro após 12 dias. O clube entrou em campo quatro dias depois com o mesmo time que perdeu para o Urawa Reds. Curiosamente, neste dia, conquistou a única vitória no mês: triunfo sobre o Palmeiras no Allianz Parque. Ainda no período de adaptação estipulado pelo fisiologista, a Chapecoense foi derrotada pelo Avaí, na Ressacada, no último dia 27. “Com certeza o time da Chapecoense será prejudicado, não tenha dúvida”, diz Herrera.

Reservas

Os catarinenses têm mais um compromisso amistoso na Europa. O elenco viajou para Roma na tarde de segunda-feira, onde enfrentará o time que leva o nome da capital italiana.

Porém, desta vez, a Chapecoense levou jogadores menos utilizados para a excursão. Titulares como Wellington Paulista, Reinaldo, Apodi e Luiz Antônio não embarcaram rumo ao Velho Continente.

Os destaques da delegação que enfrenta a Roma são o zagueiro Douglas Grolli, que recebeu propostas de clubes italianos e pode acertar a saída do clube, e o lateral Alan Ruschel, sobrevivente do acidente da Lamia.
 
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima