OPERAÇÃO PANATENAICO

A situação caótica do futebol do DF: estádio sob suspeita, times na miséria

Responsáveis pela construção do Mané Garrincha foram presos pela Polícia Federal

postado em 23/05/2017 12:20 / atualizado em 09/08/2017 19:30

Carlos Vieira/CB/D.A Press

Brasília tem o estádio mais caro do país. Erguer o Mané Garrincha rendeu um prejuízo de R$ 1,3 bilhão à Terracap e, quatro anos depois, custou a liberdade de diversos políticos. Foram presos dois ex-governadores, um ex-vice-governador, uma ex-presidente da Terracap, o dono de uma empreiteira e uma longa lista de assessores, nesta terça-feira (23/5), pela Operação Panatenaico, da Polícia Federal.

O motivo da construção de um colosso com capacidade para 72.788 torcedores sentados ainda não conseguiu ser desvendado. Passada a Copa do Mundo de 2014, razão da reconstrução do velho Mané Garrincha, só nos Jogos Olímpicos de 2016 as arquibancadas voltaram a estar cheias.

Além dos confrontos de Mundial e Olimpíadas, o Mané Garrincha recebeu 92 partidas, com média de 14 mil presentes em cada uma. A visão habitual é de um estádio às moscas. No dia do 100º jogo do estádio, por exemplo, apenas 78 pessoas compraram ingresso para ver Real x Santa Maria.

Ainda assim, a manutenção da estrutura custa mais de R$ 7 milhões ao ano. E, em 2017, o Mané só voltará a receber uma partida de futebol na hipótese de algum time da segunda divisão do Campeonato Brasiliense decidir levar para lá algum jogo. As partidas da elite do Brasileirão estão vetadas.

O futebol que não evoluiu

Uma das promessas políticas era simples: erguer o Mané Garrincha melhoraria a estrutura do futebol na capital do país. De 2012 a 2014, esta frase saiu da boca de quase todos os presos na Operação Panatenaico.

Passados quatro anos, nenhum time de Brasília está nas Séries A, B ou C do Campeonato Brasileiro. A participação da cidade se limita à Série D, à qual o campeão e o vice do Candangão têm direito. Mas o histórico no ponto mais baixo do futebol profissional do país é de vexames.

A quarta divisão nacional existe desde 2009. Jamais uma equipe do Distrito Federal conseguiu o acesso para a Série C. Enquanto isso, vive de migalhas: nesta semana, o grande feito do futebol local foi conseguir que seus dois representantes (Ceilândia e Luziânia) vencessem na partida de estreia, algo que nunca havia ocorrido.

Num torneio com finais marcadas para o tal estádio de R$ 1,8 bilhão, sete dos 12 times do último Candangão tinham patrocínio do BRB. O banco pagou R$ 7 mil por jogo da primeira fase a seus patrocinados. Na melhor das hipóteses, o acordo poderia significar R$ 190 mil ao campeão. Isso é menos do que qualquer zagueiro reserva do Palmeiras ganha, sozinho, em um mês.

Como se não bastasse, a última edição do Campeonato Brasiliense teve como atração o título do Brasiliense exibido em TV aberta para a cidade. O campeão ergueu a taça enquanto seu patrocinador estava detido na Papuda. O senador cassado Luiz Estevão foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), em 2006, pelo escândalo das obras do TRT-SP. Ele ficará preso por 26 anos, ao menos um sexto disso em regime fechado, pelos crimes de corrupção ativa, estelionato e peculato.