Futebol Internacional

ESCÂNDALO

Joseph Blatter será reeleito em congresso da Fifa

Beneficiado pelo sistema de voto secreto, atual presidente deve ganhar sem dificuldade

postado em 29/05/2015 10:18

Braitner Moreira /Correio Braziliense

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, será reconduzido nesta sexta-feira (29/5) ao cargo por mais quatro anos, após eleição no congresso da entidade. A prisão de sete dirigentes do alto escalão na quarta-feira, acusados de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro foi brisa, e não tsunami, na candidatura do homem que está há 17 anos no comando do futebol. Mais uma prova de que as paredes de mármore do prédio de R$ 430 milhões construído no meio de um parque de Zurique, na Suíça, são blindadas contra a opinião pública.

Para ganhar em primeiro turno, serão necessários 139 dos 209 votos. Caso haja um segundo turno, bastará alcançar 105. Parte do mérito de Blatter se deve ao sistema de votação: as escolhas são secretas, em papel, e depositadas em uma urna. A não ser que o voto seja declarado, é impossível descobrir quem se responsabiliza pela continuidade do cartola suíço. Sem uma possível pressão futura, a candidatura do príncipe jordaniano Ali Bin Al Hussein, único opositor de Blatter, está fadada ao fracasso.

O Correio rastreou as declarações feitas, neste ano, pelos dirigentes com direito a voto. Dos 209, 46 adiantaram suas escolhas — 22% do total. Desses, 27 se colocaram ao lado de Blatter e 19 estão com Al Hussein. A maior parte dos outros votos pode ser prevista pelo que disseram os presidentes das federações internacionais, que não votam, mas influenciam seus filiados. Blatter será reeleito logo em primeiro turno, com ao menos 145 votos, e provavelmente mais de 150.

Quatro votos estão em aberto, os dos dirigentes presos. A Fifa ainda não divulgou se as federações presididas por algum dos detidos perderão o direito da escolha ou se eles acabarão substituídos por outro integrante da associação. Os presos votariam em Blatter: Eduardo Li, da Costa Rica; Jeffrey Webb, das Ilhas Cayman; Julio Rocha, da Nicarágua; e Rafael Esquivel, da Venezuela. O regulamento não previa um problema do tipo.

Também é incerto o direito a voto da Confederação Brasileira de Futebol. O presidente da CBF, Marco Polo del Nero, deixou a Suíça na noite de ontem sem dar explicações (leia reportagem na página 2). A assessoria da entidade não soube informar se o país participará da escolha, mas disse que, hoje, a CBF poderá indicar alguém para exercer o voto em seu nome.

AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI


Blasfêmia?
Na África, mesmo depois do escândalo de corrupção desmantelado pelo FBI, só um dirigente cogitou publicamente não apoiar Blatter: Tebogo Sebego, presidente da federação de Botsuana. O continente tem direito a 54 votos, um quarto de todo o pleito, e ele prega a continuidade. “As pessoas estão sempre tentando derrubar Blatter, uma conspiração de Estado”, minimizou o presidente da federação de Guiné-Bissau, Manuel Nascimento Lopes, em entrevista ao Daily Mail. “Eu sou cristão e isso é blasfêmia”, completou.

Desde 1998, quando Blatter foi eleito pela primeira vez, a Fifa bancou 700 obras em países mais pobres por meio do programa Goal — a maior parte delas na África. Foram construídas sedes de federações e centros de treinamento. O maior deles, na Zâmbia, custou US$ 800 mil. No auge da valorização do continente (e de seus votos), levou a Copa de 2010 para a África do Sul. O processo de escolha da sede entrou nas investigações norte-americanas. O Marrocos era dado como favorito, perdeu a eleição, mas não ficou de mãos abanando: ganhou o direito de sediar o Mundial de Clubes em 2013 e 2014. Além disso, o Egito sediou o Mundial Sub-20 e a Nigéria recebeu o Mundial Sub-17.


O processo eleitoral

Quando
Hoje. É o 17º dos 19 itens previstos para o congresso da Fifa. Previsão de início por volta das 16h, horário de Brasília.

Sistema
Voto secreto, em uma cédula de papel.

Corpo eleitoral
Todas as associações presentes no congresso da Fifa participam. Cada uma tem direito a um voto e cada um tem o mesmo peso.

Ordem de votação
Alfabética, em inglês. Cada integrante do congresso recebe sua cédula e a deposita em uma urna em estrutura montada na frente de todos os dirigentes.

Votos necessários
Para o primeiro turno, dois terços dos votos. Se as 209 associações participarem, o número será de 139. No segundo turno, metade e mais um: 105.


Em quem votam os dirigentes


AFC
Ásia e Austrália
47 votos

Jordânia e Austrália vão com Al Hussein. A Coreia do Sul até titubeou, mas está com Blatter, assim como Catar e Japão. A orientação da AFC é de apoiar a continuidade.

OFC
Oceania, exceto Austrália
11 votos

Uma reunião na Nova Zelândia definiu que todos os associados do continente apoiarão a reeleição de Joseph Blatter. Ainda que apenas a própria Nova Zelândia tenha declarado apoio público, federações como Tonga, Nova Caledônia, Vanuatu e Taiti a seguirão

Uefa
Europa
54 votos

Aqui, Blatter perde de lavada. Al Hussein tem Bélgica, Dinamarca, Escócia, Holanda, Ilhas Faroe, Inglaterra, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Macedônia, Montenegro, País de Gales, Polônia, Portugal, Romênia e Suécia. No máximo nove europeus estarão com Blatter. Um deles é a Rússia.

Conmebol
América do Sul
10 votos

Marco Polo del Nero, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), apoia Blatter. A tendência é de que todo o continente — o que menos influencia no pleito, com apenas 10 associações — vote pela continuidade.

Concacaf
Caribe e Américas do Norte e Central
35 votos

Tradicional zona de apoio a Blatter. Apenas os Estados Unidos manifestaram apoio público a Al Hussein. México e Trinidad e Tobago estão com a atual direção da Fifa. Os caribenhos também estão fechados com Blatter. O Canadá não se posicionou.

CAF
África
52 votos

Expectativa de que Blatter receba praticamente todos os votos do continente. Já são públicos: Burundi, Djibouti, Egito, Eritreia, Etiópia, Guiné-Bissau, Lesoto, Malawi, Marrocos, Nigéria, Quênia, Ruanda, Somália, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, Uganda e Zâmbia. Botsuana cogita “traição”.