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Uma taça para o novo Levir

Sete anos no Japão transformaram o treinador, que voltou mais ousado dentro e fora de campo e sem medo de se expor nem perder as características antigas

postado em 27/11/2014 10:00 / atualizado em 27/11/2014 09:04

Roger Dias /Estado de Minas

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Treinador de pulso firme e língua afiada não aparece a todo momento. Mas apenas o jeito sincero não é garantia da consolidação de um bom profissional. Ele precisa ter também conhecimento técnico e tático, sensibilidade e experiência para ser enaltecido entre os grandes. O paranaense Levir Culpi, de 61 anos, aliou sua conduta pessoal à alta capacidade de motivar atletas para dar ao Atlético o título inédito da Copa do Brasil. O antigo zagueiro de Coritiba, Botafogo e Santa Cruz soube resgatar o brio e a vibração do time campeão da Libertadores de 2013 e, ao mesmo tempo, incrementar nele o próprio estilo, dando-lhe homogeneidade.

Em sua quarta decisão, o técnico obteve a segunda conquista. Antes, havia vencido com o Cruzeiro em 1996, em cima do Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo. Nas outras, experimentou o gosto da derrota: com a própria Raposa em 1998, diante do mesmo alviverde, então comandado por Felipão; e com o São Paulo em 2000, batido pela Raposa. Em 2002, no Atlético, caiu nas semifinais diante do Brasiliense. Em 2007, depois de ser campeão mineiro, deixou o Galo rumo ao Japão no meio da Copa do Brasil e não viu a equipe ser eliminada pelo Botafogo, no Maracanã, em noite de pênalti claro em Tchô nos minutos finais, não marcado pelo gaúcho Carlos Eugênio Simon.

Os sete anos no Oriente ajudaram a moldar um novo Levir, mais crítico em relação à gestão do futebol brasileiro e à organização dos calendários e dos clubes. Sem medir palavras, ele apontou falhas na supervalorização dos jogadores, no excesso de jogos no Brasil e na precariedade de muitos estádios do país. Bateu de frente com o presidente Alexandre Kalil – que havia demitido Paulo Autuori em maio e ido a Curitiba buscar o sucessor – quando afirmou que o grupo estava de “salto alto” depois de conquistar “a tal da Libertadores”.

Levir teve atritos com Diego Tardelli, Jô e Ronaldinho Gaúcho e foi responsável pela despedida do maior ídolo da história recente do clube. “É claro que fui dos responsáveis pela saída do Ronaldinho, mas posso adiantar que grandes estrelas, como o Kaká, por exemplo, ajudam muito. Depende do profissionalismo, de como o jogador funciona no grupo. É uma pena que ele não queira pagar o preço de ser um atleta profissional, até porque já fez tudo. Mas não o condeno por nada. A passagem dele foi marcante e deve ser guardada com bons olhos”, afirmou, em entrevista recente ao Estado de Minas.

O treinador bancou a dispensa do lateral Emerson Conceição e dos atacantes Jô e André, por atos de indisciplina em outubro, depois da derrota para o Atlético-PR, em Curitiba, e confessou ter ficado muito decepcionado com o incidente. Também ousou ao implantar o fim da concentração nas vésperas de jogos em Belo Horizonte e vem colhendo bons frutos: o alvinegro está invicto em casa. E foi corajoso ao escalar o time com apenas um volante de ofício, contrariando um consenso da classe, nos jogos contra Flamengo e Corinthians pela Copa do Brasil. Em todos os momentos, teve amplo apoio dos jogadores, dirigentes e torcida.

Ele não definiu se vai dirigir o Atlético na Libertadores de 2015, mas afirma que um fator o influencia a ficar: justamente a carga de dramaticidade nas partidas, algo peculiar ao Galo, segundo o próprio técnico. “Aprendi muito no Japão, mas só sinto esta emoção aqui. Somos muito mais divertidos. É uma coisa impressionante o que vivi aqui nos últimos meses. É isso que faz o futebol ficar bonito e apaixonante.”

TÍTULOS E RECORDES
Em julho, Levir ajudou a levar mais de 54 mil torcedores ao delírio quando o Galo conquistou a Recopa Sul-Americana em cima do Lanús, no Mineirão. Conseguiu administrar bem a disputa simultânea da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro, mesmo com o alto número de jogos e o desgaste físico. Agora, com mais um título no currículo, o experiente treinador sabe que terá outros desafios na carreira, como dar o bicampeonato da Libertadores ao Galo e obter números mais positivos no comando da equipe: neste ano, ultrapassou a marca de 200 jogos pelo alvinegro, só ficando atrás de Telê Santana, Barbatana e Procópio Cardoso.

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