Futebol Nacional

DÍVIDAS DOS CLUBES

Graças à "vaquinha", Vasco consegue abater R$ 1 milhão dos débitos

Fãs de Flamengo e Botafogo seguem o exemplo dos cruz-maltinos na ajuda aos respectivos clubes. Especialista reprova a iniciativa

postado em 16/10/2014 11:34

Amanda Martimon

Arquivo Pessoal
Brasília - Torcedores do Vasco — pioneiros na estratégia de união de fãs para ajudar times a pagarem suas dívidas — estão perto de atingir a marca de R$ 1 milhão de arrecadação — valor abatido nos débitos do cruz-maltino. Há quase um ano e meio, um grupo de torcedores começou a campanha “Vasco Dívida Zero”. Hoje, o projeto tem a adesão de mais de 15 mil pessoas e já pagou 11 débitos do clube. No mesmo caminho, outras torcidas, entre elas os rivais flamenguistas, também adotaram a vaquinha para tentar diminuir os rombos financeiros dos times.

O motivo para tirar dinheiro do próprio bolso em prol da equipe foi resumido em uma única e igual palavra pelos entrevistados da reportagem: paixão. Essa é a justificativa para se envolver nas pendências financeiras do time, apesar de os próprios fãs considerarem que se trata de uma atitude extrema e injusta. “O clube tem que pagar. Eles recebem patrocínio, precisam ser mais responsáveis”, argumenta Isabel Cardoso, 43 anos. Ela contribui desde o início da campanha vascaína, em maio do ano passado, e estima ter desembolsado até agora mais de R$ 500. Atrás do Rio de Janeiro, o Distrito Federal é a unidade da Federação com mais adeptos e que mais contribuiu com a proposta.

Um dos idealizadores da campanha pelo cruz-maltino, Fernando Veiga, 54 anos, afirma que o grupo tinha a expectativa de recolher mais, ainda que a cifra — para uma arrecadação espontânea e voluntária — seja significativa. “Pelo tamanho da torcida, a gente esperava um rendimento melhor. Mas há vários motivos. O time não está em boa situação, caiu para a segunda divisão, e a administração do clube não transmite confiança, recebe muitas críticas”, argumenta.

Contrário ao envolvimento dos torcedores nas dívidas dos clubes, Paulo Henrique Azevêdo, professor da Universidade de Brasília e especialista em marketing e gestão do esporte, define a estratégia como “totalmente emocional”. “É uma resposta errada. O torcedor, que já consume produtos, não pode pagar por uma gestão ruim e, às vezes, até desonesta”, defende. “Os dirigentes é que precisam responder pelos débitos, até com o seu próprio patrimônio. Eles têm toda autonomia na gestão, assim também devem responder por ela sem recorrer ao torcedor.” Para o especialista, os maus resultados das agremiações e as provocações dos adversários pressionam a torcida, que sai em busca de uma solução por conta própria.

Além de ser sócio, comprar produtos oficiais e ir aos jogos, Veiga decidiu colaborar com o pagamento das dívidas ao ver as receitas do cruz-maltino totalmente bloqueadas no ano passado. Ele reconhece, contudo, que a mobilização não seria necessária se a direção dos times se organizasse melhor. Isabel também cobra mais cuidado dos cartolas com as contas. “Eles gastam muito dinheiro. Não têm de ter dívida perdoada. Isso pode fazer falta para a saúde, a educação. Eu ajudo a pagar porque não quero que feche as portas.”

No mesmo caminho
Torcedores do Botafogo e Flamengo também tomaram a iniciativa de arrecadar dinheiro para arcar com parte das dívidas dos seus times. O “Fla em dia” arrecadou até a tarde de ontem mais de R$ 430 mil. Desde que surgiu, em julho deste ano, a proposta recebeu o apoio de Zico, do presidente do clube, Eduardo Bandeira de Mello, e de quase 16 mil doadores. Já a torcida alvinegra, que iniciou a campanha “Botafogo sem dívidas” no fim de 2013, conseguiu coletar uma quantia mais modesta: cerca de R$ 135 mil, custeados por 4.311 doadores.