Futebol Nacional

POLÍTICA ESPORTIVA

Senado aprova MP que prevê renegociação das dívidas dos clubes sem contrapartidas

Após passar pela Câmara em manobra audaciosa, Senado também aprova MP sobre importação de aerogeradores que contém emenda para renegociar dívidas dos clubes sem contrapartidas, em 20 anos. Dilma Rousseff ainda pode vetar o projeto

Carlos Moura/CB/D.A Press

Imagine ter a sua pendência financeira renegociada com parcelas a perder de vista e sem nenhuma exigência em troca. Pode parecer impossível, mas é o que pode acontecer com os endividados clubes brasileiros. Um rombo estimado em R$ 4,8 bilhões deve ser dividido em 20 anos, sem contrapartidas. Na madrugada desta quinta (18/11), o Senado aprovou - depois de manobra na Câmara - a Medida Provisória 656/14, sem qualquer relação com o futebol, e abriu brecha a mais para os times driblarem os cofres públicos. A manobra, chamada de contrabando legislativo, ainda pode ser vetada pela presidente Dilma Rousseff, que deve fazê-lo, segundo fontes ouvidas pelo Correio.

Transformada na proposta de Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE), a renegociação das dívidas dos times está em discussão no Congresso há mais de um ano e chega ao fim de 2014 sem um consenso. Com indicativo de que o novo parcelamento não sairia neste ano, e sob a justificativa de “urgência em salvar os clubes”, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), dirigente do Atlético-GO, ousou criar um atalho. Apresentou a proposta de renegociar as dívidas, sem contrapartidas, como emenda em uma MP de isenção fiscal para importação de aerogeradores — uma MP que nada tem a ver com futebol.

“A contrapartida dos clubes não consta no texto porque está inserida fora de contexto . Sou favorável à moralização do esporte”, defende-se o parlamentar. Otimista, Jovair Arantes duvida do veto de Dilma. “Ela tem conhecimento da penúria dos clubes de futebol”, desafia. O deputado propôs o parcelamento em 180 meses. Porém, curiosamente, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator da medida provisória, aumentou o benefício para 240 meses (20 anos).

Além de refinanciar as dívidas das entidades esportivas em 20 anos, o benefício concede reduções de 70% nas multas, de 30% nos juros e de 100% em encargos e não define nenhuma punição ou contrapartida.

No Congresso, se fala em um acordo prévio. Nos bastidores, a presidente Dilma Rousseff teria indicado que vai vetar o ítem e sofrerá pressão. “Uma medida feita de forma unilateral, sem que os clubes assumissem compromisso, é inadequada e irresponsável”, detona o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA).

No Ministério do Esporte, a ordem é pela manutenção dos compromissos levantados pela proposta original da LRFE. “Vamos propor que seja feita outra MP com as contrapartidas”, afirma Toninho Nascimento, secretário de futebol da pasta.

Desrespeito x vitória

Enquanto os clubes veem a manobra como uma primeira vitória, o movimento Bom Senso questiona o “desrespeito ao diálogo”. “Não incluir as contrapartidas é uma ofensa grave. Nos alertaram, desde o início, que era preciso ter muito cuidado, mas não imaginávamos que seria assim”, lamenta Ricardo Martins, diretor executivo do Bom Senso.

Representante dos clubes, o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, cujo mandato expira hoje, comemora com ressalvas. “Ganhamos uma batalha, mas não a guerra. O bom é que o assunto voltou a caminhar depois de 90 dias”, ponderou, em entrevista ao Correio. Constrangido com o modo como a proposta foi aprovada, o dirigente afirma que as contrapartidas serão inclusas depois. “Do contrário, vamos voltar a cometer os mesmos erros absurdos do passado”, reconheceu.