Futebol Nacional

Time paulista leva 79 dias para arrecadar um salário mínimo com sócio torcedor

Realidade do Grêmio Prudente se repete em times menores país afora

postado em 25/05/2015 08:54

Vítor de Moraes /Correio Braziliense

Sérgio Borges/Grêmio Prudente

Nas cabeças, Internacional, Palmeiras e Corinthians lutam pelo posto de clube brasileiro com maior adesão de sócios torcedores. O colorado lidera a lista desde que lançou seu programa — hoje, é apoiado financeiramente por 136.980 torcedores. A realidade da elite do futebol passa bem longe do interior do país. Em São Paulo, há até equipe com apenas cinco associados: o Grêmio Prudente tem em suas fileiras menos da metade de um time titular completo.

Esse tipo de programa representa menos de 10% das receitas totais da maioria dos times das séries A e B do Campeonato Brasileiro, segundo estudo da consultoria Ernst & Young em parceria com o grupo de marketing esportivo CSM Brasil. Foram analisados os balanços de 2014 de 24 clubes. Se, para os gigantes do país, o sócio torcedor não conseguiu tanta representatividade, que dirá para o Grêmio Prudente.

A “zona de rebaixamento” na lista de 61 equipes com programas de sócios é completada por Taboão da Serra-SP, Democrata-MG e Rio Branco-PR. Os dados dos números de sócios são do Movimento por um Futebol Melhor, programa que reúne todos os clubes nacionais com esses projetos.

Ainda que não acumulem prejuízo financeiro, as agremiações mais modestas ficam no zero. Também é o caso do Gama. O campeão candango ocupa a 46ª posição do ranking, com 408 associados — embora o presidente do alviverde, Antônio do Nascimento, calcule ter “por volta de mil”.

“Nosso programa está no banho-maria, esperando que o torcedor acredite, crie confiança na diretoria. Tínhamos uma expectativa maior, mas não a alcançamos”, lamenta o dirigente. Ele evita falar de cifras, mas admite não obter lucro com os sócios torcedores. Para tanto, estima Tonhão, seriam necessárias cerca de 10 mil adesões.

Geralmente, os programas são tocados por empresas de marketing. Elas oferecem pacotes de serviços e, neles, incluem a manutenção do sócio torcedor. Funciona assim no Gama e no Grêmio Prudente, o lanterninha. Por isso, os dirigentes têm dificuldade em mensurar gastos e receitas. Embora o vice-presidente do time paulista também se negue a comentar sobre arrecadação, o número não ultrapassa R$ 300 mensais. Leva 79 dias para conseguir somar um salário mínimo. O plano mais caro à disposição dos cinco sócios custa R$ 50, incluindo a anuidade.

Inexpressivo

“O clube tem gastos com a distribuição da camisa oficial, destinada aos sócios do plano ouro, panfletos, artes e publicidade local em geral”, enumera o vice-presidente do clube, Murilo Mello. Na avaliação do cartola, disputar a última divisão do Campeonato Paulista e já oferecer ingressos baratos ao torcedor comum dificulta a adesão de novos sócios. “Outro ponto que percebemos é que a maioria da nossa torcida tem uma faixa etária avançada, ou seja, não tem prática de usar a internet. Já solicitamos à empresa outras formas de fazer o cadastro”, continua Mello.

Embora tenha 20 adesões a mais que o Grêmio Prudente e some arrecadação mensal de R$ 1.800, segundo dados internos do clube, o Taboão da Serra, vice-lanterna na lista de sócios, reconhece: o valor não significa absolutamente nada nas contas. “Hoje, o projeto não tem representatividade alguma no orçamento”, admite o executivo de futebol do clube, Marco Gama. O Taboão da Serra está na quarta divisão do Campeonato Paulista.

Sem saída

Mesmo sem representatividade no orçamento dos clubes considerados menores, o programa de sócio torcedor tornou-se uma das poucas fontes de renda. Sem cotas de televisão, as equipes não têm muitas opções de arrecadação. “Eles acabam não tendo muitos gastos, não fazem ações de marketing e pegam alguém da secretaria para cuidar disso, em vez de alocar alguém especificamente para o programa”, pondera Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria.

Para o especialista, no entanto, os planos precisam ser divulgados, e são necessários incentivos e benefícios para os torcedores. Outra alternativa dos clubes pequenos é apelar para grandes empresários da região das equipes. “Talvez seja melhor tentar apoio direto de mecenas. É muito difícil alguém pagar regularmente para ver um jogo do Taboão da Serra”, sugere Ferreira.

A situação de clubes menores, mas com importância para a cidade, como o São Bernardo (121 sócios torcedores), é menos complicada quando se precisa angariar novas adesões. “Com os clubes-empresas, que estão de passagem, é que há menos envolvimento da cidade”, explica o especialista. É o caso do Grêmio Prudente, por exemplo.

Os cinco primeiros... (em número de sócios)

1. Internacional 136.980
2. Palmeiras 122.745
3. Corinthians 110.146
4. Grêmio 83.020
5. Cruzeiro 70.867

...e os cinco últimos (em número de sócios)

57. Mixto-MT 66
58. Rio Branco-PR 53
59. Democrata-MG 41
60. Taboão da Serra-SP 25
61. Grêmio Prudente-SP 5