Futebol Nacional

FUTEBOL FEMININO

Jogadora do DF encontra em clube da Amazônia a chance de viver da bola

Danyelle Helena defende o Iranduba, destaque do Brasileirão feminino e equipe com mais público em Manaus do que as masculinas

postado em 05/05/2017 10:30 / atualizado em 08/05/2017 20:12

Michael Dantas/ALLSPORTS

No país do futebol, o protagonismo nos gramados passa longe do maior dos estados. No Amazonas — com extensão territorial de 1,5 milhão de km² —, os 4 milhões de habitantes têm de se ver representados nacionalmente por dois clubes, ainda assim, na Série D: Fast Club e Princesa do Solimões. Isso em relação à modalidade masculina, pois, ironicamente, é do seu menor município que o estado tem a melhor projeção no mundo da bola, e por meio das mulheres. O Iranduba é destaque do Brasileirão feminino, competição que conta também com Corinthians, Audax, Santos, Flamengo, Grêmio e Ferroviária. O time do Norte foi o primeiro a se classificar para as quartas de final, restando quatro rodadas para o fim da primeira fase. Com uma campanha de nove vitórias em 10 jogos, soma 27 pontos e lidera o Grupo 1.

“É a primeira equipe na qual eu jogo que vejo os torcedores apoiarem e comparecerem ao estádio”, comemora Danyelle Helena, camisa 7 do Iranduba. “Temos mais público do que o futebol masculino daqui, acho que é o único time do Brasil que tem isso”, emenda a dona de quatro gols na competição. A jogadora encantada pelo apoio recebido em Manaus é brasiliense. Aos 25 anos, a atleta trocou o emprego como professora de educação física e o contrato com o clube Cresspom, na capital federal, pelo sonho de ser realmente jogadora profissional.

Em Brasília, Dany Helena dava aulas durante o dia e treinava à noite. Mesmo sem dedicação exclusiva ao esporte, foi vice-artilheira da Copa do Brasil de 2016, com nove gols, na campanha em que o Cresspom chegou pela primeira vez às semifinais. Na trajetória na competição, a equipe brasiliense eliminou o Iranduba, inclusive com dois gols de Dany Helena. Sem ressentimentos, o time amazonense convidou a algoz para integrar o elenco na temporada 2017.


Da seca do planalto central, Dany Helena passou ao calor intenso e úmido do Amazonas. A rotina mudou drasticamente: se restringiu a treino, jogo, viagem e descanso. Isso praticamente toda semana. “O cenário é bem diferente daquele de Brasília nas estruturas dos campos e nas quantidades de treinamentos. Aqui, treinamos todos os dias e isso faz uma diferença enorme nos componentes físicos e técnicos”, compara a atleta. Fundado em 2011, o time conhecido como Hulk da Amazônia — uma alusão ao super herói pela cor verde do uniforme — é o único da Região Norte entre os 10 primeiros colocados do ranking de clubes do futebol feminino da CBF: ocupa a sexta posição.

Atrações turísticas

Michael Dantas/ALLSPORTS
Nos momentos de folga, Dany aproveitou a visita da mãe para conhecer pontos turísticos de Manaus. Andaram de barco e viram o Encontro das Águas, fenômeno decorrente da união dos rios Negro e Solimões. No estado que abriga a maior população indígena do país, a brasiliense não desperdiçou a oportunidade de conhecer uma tribo.

No Amazonas, vivem 120 mil indígenas de 66 etnias, que falam 29 idiomas, segundo o Programa Amazonas Indígena, elaborado em 2015 pela Fundação Estadual de Política Indigenista (Fepi), da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Não por acaso, a simulação do lançamento de uma flecha virou marca registrada nas comemorações de gol das jogadoras do time de Manaus. 

Iranduba é um município com menos de 50 mil habitantes, localizado na região metropolitana de Manaus, à margem do Rio Negro. Do outro lado do rio, a cerca de 40km, ficam situados os dois estádios usados pela única equipe: o Ismael Benigno, com capacidade para 10 mil pessoas; e a Arena Manaus, construída ao custo de R$ 605 milhões para a Copa do Mundo, onde cabem até 44 mil torcedores. Embora carregue o nome do município, o elenco do Iranduba mora, treina e joga em Manaus.

 

Ocupação da Arena Amazônia

Bruno Kelly/ALLSPORTS

No início do mês, a Arena Amazônia recebeu a Seleção Brasileira Feminina para torneio amistoso. Com Marta, Cristiane e cia., 16 mil pessoas foram assistir à goleada por 6 x 0 sobre a Bolívia. Entre os torcedores que marcaram presença nas arquibancadas estava outro grupo que também tem atraído muita gente ao estádio da Copa do Mundo. O elenco do Iranduba encorpou o público, que se tornou mais frequente na arena depois que o time feminino passou a atuar naqueles gramados.

“O futebol feminino aqui (em Manaus) é bastante valorizado e divulgado. Onde a gente vai, as pessoas nos reconhecem, desejam boa sorte e comparecem ao estádio para dar força ao time”, orgulha-se Danyelle Helena, jogadora da equipe amazonense. Na edição do ano passado do Brasileirão, o Iranduba contou com um público médio de 6.299 pagantes nos jogos disputados na Arena Amazônia. O confronto com o Corinthians foi acompanhado por 8.454 torcedores; diante do Flamengo, 7.135; e frente ao São José-RS, 3.310.

Assim, o Iranduba surge como alívio para a Arena Amazônia. Com a transformação dos estádios da Copa do Mundo em elefantes brancos, o de Manaus é um dos menos usados pelo futebol masculino em 2017. Foram apenas quatro jogos neste ano: um pela Copa do Brasil, outro na Copa Verde e dois pelo Campeonato Amazonense. O Fast Club, que entrou em campo em três dessas partidas, teve média de 1.361 pagantes, contra Vila Nova-GO, Santos e Rio Negro.

O Brasileirão feminino — que em 2017 contará pela primeira vez com a Série B — tem apenas o Iranduba como representante do Amazonas entre os 32 times que integram as duas divisões. Na elite da modalidade, São Paulo aparece com o maior número de times: sete. Bahia e Pernambuco têm dois cada um; e Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Amazonas um. Na segunda divisão, há mais unidades da federação representadas: são 13 entre os 16 clubes na disputa. Apenas Maranhão, Pará e São Paulo contam com dois times. Os demais, apenas um, caso do Distrito Federal, com o Cresspom.