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SÉRIE B

Líder da Série B pelo Guarani, Vadão diz: 'Fumagalli é a minha Marta'

Inspirado no futebol feminino do Brasil, da França e da Alemanha, Vadão explica o "carrossel alviverde" que faz do Guarani o líder da Série B

postado em 27/06/2017 16:30 / atualizado em 27/06/2017 16:35

Memory Press
O futebol feminino inspira o Guarani a voltar à elite do Campeonato Brasileiro. Em entrevista ao Correio, o técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, disse nesta terça-feira que os dois anos e meio de experiência à frente da Seleção Brasileira de Marta e Cristiane são alguns dos segredos do sucesso do Guarani na liderança da Série B. Longe da primeira divisão desde 2010, o Bugre passou quatro anos na segunda divisão (2011 e 2012) e quatro na C (2013, 2014, 2015 e 2016). De volta à Série B, divide o topo com o Juventude. Cada um tem 19 pontos.
 
Responsável pelo último acesso do Guarani à elite em 2009, Vadão configura o time taticamente como jogam as principais seleções de futebol feminino do mundo. “Jogamos nos moldes europeus. Nesses dois anos e meio em que trabalhei na Seleção, eu sempre prestei muita atenção ao sistema tático das novas adversárias. Enfrentamos em amistosos times como França e Alemanha. Elas são basicamente um espelho das respectivas equipes masculinas. Elas aprendem desde cedo aquele estilo de jogo europeu, de fechar as pontas, travar os laterais dos adversários. Como eu nunca havia feito um intercâmbio na Europa, comecei a assimilar aquelas movimentações táticas das seleções europeias. O Guarani tem um pouco disso. Aprendi a enxergar o jogo também com o olhar do futebol feminino”, diz.
 
Oswaldo Alvarez lembra que comandou equipes masculinas em competições na América do Sul, mas a experiência de enfrentar seleções femininas europeias, segundo ele, foi a mais enriquecedora para o seu currículo.  “Por exemplo: aqui no Brasil, gostamos de tocar a bola, não gostamos de esticar a bola. Não temos o hábito de pressionar a saída de bola. As seleções europeias que enfrentei fazem muito isso, pressionam a saída de bola, e aí, você precisa aprender a estica-la nas costas da última linha da defesa. Esse é um dos detalhes que que tem funcionado no trabalho que fazemos aqui no Guarani”, explica o treinador.
 
Gabriel Ferrari/Guarani Press
Vadão diz que a experiência na Seleção também o ensinou a ser insistente no treinamento de bola parada. “O futebol feminino dá muita ênfase às cobranças de falta e de escanteio, principalmente devido ao tamanho das goleiras. Nós treinávamos bastante esse tipo de lance”.
 
O técnico do Guarani até brinca. “O Fumagalli é o equivalente à minha Marta, o cara que faz o time jogar, o cara da bola parada, da experiência, da liderança, do equilíbrio”, compara, referindo-se ao meia de 39 anos, um dos três artilheiros do time alviverde na Série B com três gols. Bruno Samudio e de Eliandro também contabilizam três bolas na rede após 10 rodadas. No fim de semana, Fumagalli fez os dois gols da vitória sobre o Náutico.   

Novo carrossel caipira?

Questionado se vem aí um novo carrossel caipira, como aquele montado por ele nos anos 1990 no Mogi Mirim, com Rivaldo, Valber e Leto, Oswaldo Alvarez brincou: “Agora é carrossel alviverde”. Em seguida, falou sério. “Estamos com os pés no chão. Sou sincero. Estamos jogando acima do nosso limite. Não é sempre que vai ser assim. Estamos na liderança, mas sabemos que concorrentes de grande investimento, como Goiás, Inter e Ceará ainda não engrenaram. Eles gastaram bastante. Estamos aproveitando que eles estão em baixa”, diz.
 
Vadão conta que o orçamento do Guarani na Série B é um dos mais baixos da segunda divisão. “A folha salaria completa custa R$ 600 mil. Estou falando do meu salário, da comissão técnica, elenco, roupeiro, tudo isso. O comprometimento do grupo é exemplar. Além de um grupo fechado, temos lideranças no grupo, como o Fumagalli, o Richarlyson, que chegou agora. Isso tudo tem nos possibilitado sonhar com algo grande na Série B, em brigar pelo G-4.
 
Vendido em 2014 por R$ 44,5 milhões para a empresa Magnum, o Estádio Brinco de Ouro da Princesa  — palco das finais do Brasileirão de 1978 e de 1986 — tem sido um alçapão. Em seis partidas no estádio, o Guarani venceu cinco (Náutico, Paysandu, Boa, Figueirense e Brasil-RS) e empatou apenas um (Oeste). Dos 19 pontos ganhos, 16 foram em Campinas. Longe de casa, uma vitória diante do Paraná e três derrotas para Criciúma, Vila Nova e Santa Cruz.
 
Depois que deixou a Seleção em novembro do ano passado, Vadão ficou cinco meses desempregado. Em março, topou o desafio de tentar repetir o feito de 2009, quando levou o Guarani de volta à primeira divisão como vice-campeão da Série B, atrás apenas do Vasco.

Frustração

Oswaldo Alvarez deixou a Seleção Brasileira feminina em novembro do ano passado, mas o eco da eliminação nas semifinais dos Jogos do Rio-2016 ainda tira o sono do treinador. “Nós finalizamos umas 40 vezes naquele jogo. A Suécia chutou só umas cinco vezes e ganhou nos pênaltis (4 x 3). Aquilo ali é jogo para você não dormir nunca mais, foi uma pena”, lembra.
 
Vadão foi substituído no cargo por Emily Lima e não guarda mágoa da CBF. “Pelo contrário. Eu tive toda a estrutura necessária para desenvolver o meu trabalho enquanto trabalhei lá. Só tenho a agradecer o apoio das meninas, da comissão técnica e dos dirigentes”.