Futebol Nacional

MERCADO

Campeonato Brasileiro bate recorde de jogadores estrangeiros

Times da elite nacional têm 68 gringos sob contrato. Atlético-GO é o único sem atletas de fora

postado em 18/07/2017 06:00 / atualizado em 18/07/2017 15:45

Rodrigo Gazzanel/Ag. Corinthians
A globalização do Campeonato Brasileiro bateu novo recorde: nunca houve tantos estrangeiros registrados nos times da primeira divisão nacional. A marca de 68 jogadores foi obtida nesta segunda-feira, após o anúncio oficial de mais dois gringos. O Atlético-PR fechou com o volante chileno Esteban Pavéz e o Vitória apresentou o atacante colombiano Santiago Tréllez. Graças à dupla, foram superados os 66 atletas de fora da Série A em 2016. 

O número ainda pode crescer, pois a janela de contratações internacionais do Brasileirão permanecerá aberta até quinta-feira. A força de trabalho estrangeira invadiu 19 dos 20 clubes da elite nacional. O Atlético-GO, único time que não acompanha a tendência, é o lanterna da competição. 

Desde o aumento do limite de jogadores estrangeiros por partida, anunciado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em dezembro de 2013 para as temporadas seguintes, a quantidade de atletas forasteiros nos 20 times da Série A nunca ficou abaixo de 60. 

O novo regulamento expandiu de três para cinco estrangeiros relacionados por jogo. Para muitos clubes, ainda é pouco. O técnico Dorival Júnior, recém-chegado ao São Paulo, deixou o influente uruguaio Diego Lugano fora até do banco de reservas para poder escalar seus cinco titulares estrangeiros. No Flamengo, Zé Ricardo tem ignorado Darío Conca ou Federico Mancuello. A gestão mais delicada de uma comissão técnica é a do Grêmio. O tricolor tem oito gringos no elenco e, devido ao inchaço, a diretoria liberou o meia Gastón Fernández para buscar outro clube.

A iniciativa de brigar pela ampliação de estrangeiros partiu do então diretor de futebol executivo do Grêmio, Rui Costa, hoje gerente da Chapecoense. Para ele, o aumento das compras no mercado internacional se dá pelo novo perfil das diretorias dos clubes brasileiros. “Acredito que o maior diferencial está no entendimento que o executivo brasileiro tem tido dos países vizinhos. Antes, olhávamos mais para Argentina e Uruguai. No Grêmio, por exemplo, eu já conseguia identificar quem era o meia sub-18 promessa no Equador”, conta.

100% nacional

Ponto fora da curva na tendência da internacionalização do futebol brasileiro, o Atlético-GO não tem nenhum estrangeiro no elenco que disputa a Série A. Mas a mudança de paradigma é questão de tempo, segundo o vice-presidente executivo do Dragão, Adson Batista. “Queremos colocar observadores, fazer uma triagem. Temos de trabalhar nesta área o quanto antes”, afirma o dirigente, favorável à cultura de se reforçar com jogadores estrangeiros. 

O Atlético-GO ocupa a última posição do Campeonato Brasileiro e pretende viabilizar maneiras de mapear o mercado sul-americano. Batista credita a invasão ao baixo nível técnico médio dos jogadores nacionais. “Nosso futebol não está conseguindo abastecer os clubes com opção e qualidade, é uma crise técnica profunda”, avalia. 

Adaptação é empecilho 

Pela posição na tabela, é de se supor que o Atlético-GO sofra com qualidade, visto que o time somou apenas oito pontos em 14 rodadas e amarga a última colocação. Mesmo sem ter nenhum estrangeiro no Brasileirão, o vice-presidente executivo do clube, Adson Batista, afirma que o Dragão recebe, diariamente, ofertas de jogadores do exterior. As contratações só não são confirmadas por que o rubro-negro não pode se dar o luxo de errar. “Temos o orçamento pequeno, há a preocupação em acertar com atletas que não precisem de adaptação”, explica. “Não temos margem de erro.”

De acordo com Rui Costa, gerente da Chapecoense, não há um perfil ideal ou específico quando o clube analisa a vinda de atletas estrangeiros, mas o retrato psicológico do reforço e a capacidade de enfrentamento das adversidades precisam ser observados pelo clube interessado. “Esses são fatores fundamentais, mesmo que se queira correr riscos calculados em jogadores que, apesar de questões temperamentais, são indiscutivelmente decisivos e eficazes na sua atividade”, comenta o dirigente da Chape. Ele chegou ao clube no fim do ano passado e, desde então, contratou quatro gringos.

A questão da adaptação é, de fato, uma preocupação dos cartolas brasileiros. Nem todos os estrangeiros conseguem se acostumar tão facilmente ao futebol e à vida no país. Alguns casos mais recentes mostram isso, como o do colombiano Miguel Borja, destaque do Atlético Nacional da Libertadores de 2016, mas que ainda não mostrou o bom futebol da última temporada. “Todos os clubes que trazem atletas de fora do país têm casos de sucesso e fracasso. O clube deve oferecer um acompanhamento próximo, que vai do apoio dos funcionários até a conversa diária com o departamento de futebol”, analisa Rui Costa.
 
 

*Estagiário sob a supervisão de Braitner Moreira