Mais Esportes
None

NATAÇÃO

Prata aguardada há 30 anos

Bronze no revezamento 4x100m livre nos Jogos de Moscou'1980, brasileiros lutam pelo reconhecimento de doping da equipe da Alemanha Oriental para herdar o segundo lugar

postado em 30/04/2016 11:00

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Um encontro entre Marcus Mattioli, Cyro Delgado e Jorge Fernandes, três dos quatro integrantes do time brasileiro medalha de bronze no revezamento 4x100m livre da natação da Olimpíada de Moscou’1980 (Djan Madruga completou a equipe), durante o Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro, marcou oficialmente o início da luta dos nadadores pela prata que escapou naquela prova. O segundo lugar, na ocasião, ficou com a extinta Alemanha Oriental, que era formada por Frank Pfütze, Jörg Woithe, Detlev Grabs e Rainer Strohbach. No entanto, existe a denúncia – e, mais importante, a confissão de integrante da equipe – de que eles estavam dopados.

A luta do mineiro Marcus Mattioli é antiga, já dura quase 10 anos. O que despertou sua atenção foi o fato de o cavaleiro Rodrigo Pessoa ter recebido a medalha de ouro da prova individual dos Jogos de Atenas’2004 depois de comprovado o doping do cavalo Waterford Crystal, do irlandês Cian O’Connor. O Comitê Olímpico Internacional (COI) retirou a medalha de O’Connor e declarou o brasileiro campeão olímpico. A medalha foi entregue posteriormente, no Rio. “Estamos dentro do nosso direito, já que existe uma confissão e uma ampla investigação que comprovam o uso de doping em nadadores da Alemanha Oriental”, diz Mattioli.

A princípio, somente Cyro concordou com Mattioli na tentativa de resgatar a medalha. Jorge Fernando não havia demonstrado interesse. “Já se passaram 30 anos. Não vão nos dar a medalha”, afirmava. Contudo, o pensamento agora é outro e, depois de um contato dos trio com Madruga, decidiu-se por voltar à carga na briga pela prata.

Segundo Mattioli, a morte de um dos integrantes do time alemão, Frank Pfütze, aos 32 anos, por problemas cardíacos, acendeu o sinal de alerta: “Logo depois, a família entrou na Justiça contra o governo alemão pedindo indenização. Segundo eles, Pfütze teria tido os problemas em decorrência do doping a que era submetido”.

Logo depois, outros dois nadadores confirmariam a história. “Detlev Grabs e Rainer Strohback anunciaram que queriam devolver a medalha conquistada em Moscou por vergonha, pois estavam dopados. Mas, na época, o então presidente do COI, Jacques Rogge, não aceitou, argumentando que queria mais provas”, conta Mattioli.

NOVOS RUMOS Todas as tentativas de entrar com o recurso via Comitê Olímpico Brasileiro (COB) foram frustradas. A entidade não demonstrava interesse. Mas, segundo os nadadores, a explicação poderia estar no fato de que, na época da primeira tentativa, o Brasil ainda brigava para sediar os Jogos Olímpicos e, por isso, não tinha o interesse de bater de frente com o COI. Aliás, até hoje, não existe qualquer manifestação de apoio do COB à causa dos nadadores.

Por esse motivo, a ideia do trio é que o presidente da Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos (CBDA), Coaraci Nunes, entre com o requerimento junto à Federação Internacional de Natação (Fina) e esta requeira a medalha de prata junto ao COI.

Mesmo com a retificação do caso, o Brasil não subiria na classificação geral dos Jogos: permaneceria na 37ª colocação, com 23 medalhas de ouro e passaria a ter 31 de prata e 54 de bronze. Além disso, a Suécia herdaria o bronze com a desclassificação dos alemães orientais.

SAIBA MAIS
Mulher vira homem
No período em que a Alemanha Oriental era um país independente e ligado ao bloco comunista, uma série de atrocidades e arbitrariedades foram cometidas no esporte, tudo em nome da política, pois o objetivo era mostrar que o sistema era superior e melhor que o capitalismo. Vários atletas foram flagrados posteriormente ou confessaram ter sido vítimas de pesado esquema de doping. O caso que mais chamou a atenção foi o de Andreas Krieger, que nasceu mulher e se chamava Heidi Krieger. Atleta do arremesso de peso, tendo conquistado vários títulos – entre eles o ouro no Campeonato Europeu de 1986, pouco antes da queda do Muro de Berlim –, ela revelou que, em função das altas doses de esteroide anabolizante, seu corpo se masculinizou, o que a forçou a parar de competir. Heidi acabou passando por uma cirurgia para mudança de sexo: “Acabaram com a minha vida. Mataram Heidi e me transformaram nisso aqui”.

Tags: natacao rio2016