Mais Esportes

CORRIDA DE RUA

Atletas organizam provas em Brasília

Além de empresas e patrocinadores, adeptos do esporte também promovem eventos, apesar da burocracia

postado em 26/07/2014 17:37 / atualizado em 29/07/2014 18:43

Jéssica Raphaela /Correio Braziliense

É difícil imaginar um fim de semana sem corrida de rua no Distrito Federal. Sorte dos atletas, que têm várias opções para colocar os treinos em prática. Mas, afinal, quem são os organizadores por trás de todas essas provas? Embora as mais populares sejam idealizadas por marcas esportivas e empresas especializadas, um novo nicho cresce na cidade: o dos atletas que promovem as próprias competições. Eles organizam eventos em que gostariam de correr, mas enfrentam dificuldades burocráticas do cenário esportivo de Brasília.
Wander Vieira / Divulgação

Ofícios, documentos, autorizações, patrocínios, apoios… A lista de passos assusta. “Quem corre não faz ideia do tanto de coisas que envolvem uma prova”, desabafa a ultramaratonista Madalena de Oliveira, de 42 anos. Participante assídua de corridas de montanha pelo Brasil e pelo mundo, a candanga decidiu mudar de lado e promover, pela primeira vez, uma desafiadora disputa nas trilhas do cerrado. A Corrida Bora Viver, realizada no domingo passado em Sobradinho, na região da Torre de TV Digital, revelou-se uma das mais difíceis da vida dela, mas compensou. “Foi maravilhoso ver as pessoas trilhando o percurso que eu mesma criei. Deu um trabalhão, mas tudo acabou bem”, conta, entusiasmada.

O trabalho ao qual a atleta se refere foi amenizado pelos conhecimentos em organização de eventos, profissão de Madalena. Ainda assim, ela teve de se aprofundar nos trâmites específicos da competição. Primeiro, fez uma pesquisa de mercado para saber os custos. Depois, foi atrás dos órgãos competentes para conseguir autorização: administração regional, Federação de Atletismo, Secretaria de Segurança Pública, Detran, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil.

“É preciso muito cuidado com as exigências porque, se faltar algum documento, a corrida é cancelada”, ressalta a organizadora, que calcula o gasto em R$ 42 mil. “Cobri parte do custo com o valor das inscrições e com um apoio que pagou 50% das camisetas. O resto foi dinheiro meu. Terminei com R$ 3 mil negativos na conta.”

Em Brazlândia
Também sem apoio de grandes instituições, o corredor Geisifran Martins chega à nona edição da Corrida de Rua do Incra 8, em Brazlândia. Ao lado da entidade social MoLEC, ele organiza a prova para dar visibilidade aos atletas que treinam em seu projeto de atletismo. O custo da disputa é bem mais modesto, segundo o diretor da MoLEC, Fernando Gomes. “Nós gastamos em torno de R$ 5 mil na edição deste ano. O valor foi coberto pelas inscrições e pelos patrocínios que conseguimos dos comerciantes locais”, explica. Segundo Gomes, a colaboração individual de padarias e mercados da região costuma ser de R$ 150.

Apesar de estar atenta às autorizações necessárias para a prova, a organização da corrida do Incra 8 reclama da falta de suporte do governo. “Neste ano, conseguimos cones do Detran, mas nenhum agente foi deslocado para cá. Também não conseguimos ambulância. A sorte é que deu tudo certo”, conta Fernando Gomes, aliviado. “É o único projeto esportivo da região. Na luta, conseguimos realizar todos os anos e, mesmo assim, continuamos marginalizados”, protesta.


Sem improviso
Uma corrida não é feita só com o cronômetro. Confira nove exigências da Confederação Brasileira de Atletismo para provas de rua.

-Fornecimento de água ao longo do percurso
-Atendimento médico com ambulância e postos de apoio
-Interdição do tráfego de veículos
-Apresentação do regulamento da prova em meio on-line
-Cronometragem de todos os corredores
-Disponibilidade de guarda-volumes para todos os participantes
-Oferta de banheiros químicos em quantidade suficiente
-Autorização dos órgãos de trânsito e de segurança, das administrações regionais e da Federação de Atletismo