Mais Esportes

ESPECIAL JOAQUIM CRUZ

Medalha de ouro histórica nos 800m de Joaquim Cruz, em Los Angeles, completa três décadas

Em série especial, o Correio Braziliense discute o futuro da modalidade no país

postado em 02/08/2014 22:18 / atualizado em 06/08/2014 11:31

Gustavo Marcondes /Correio Braziliense , Lorrane Melo /Correio Braziliense

Jamil Bittar/Agência O Globo

O dia 6 de agosto de 1984 entrou para a história do atletismo brasileiro como a primeira — e até agora a única — vez que um atleta do país conquistou a medalha de ouro em uma prova de pista dos Jogos Olímpicos. Há 30 anos, que serão completados na quarta-feira, 6 de agosto, o brasiliense Joaquim Cruz, movido a passadas largas e elegantes, disparou rumo à vitória na final dos 800m rasos no Estádio Olímpico de Los Angeles, o Memorial Coliseum. O feito daquele garoto de 21 anos, nascido em Taguatinga, em 1963, porém, de pouco serviu para consolidar um legado para o esporte do país, e o atletismo nacional chega às Olimpíadas do Rio em um dos momentos mais questionados de sua história.

“Não temos base nenhuma no Brasil”, lamenta Joaquim Cruz, em conversa com o Correio por telefone, de San Diego, nos Estados Unidos, onde vive com a família e trabalha como treinador da equipe paralímpica norte-americana. “Se pegássemos 25% do dinheiro que investimos nos atletas de alto rendimento e colocássemos na base, os resultados seriam bem diferentes”, insiste o ex-atleta, medalha de prata na mesma prova em Seul, 1988.

Os resultados minguaram à medida que o ouro de Joaquim ficou para trás. Se nos primeiros 15 anos seguintes ao título em Los Angeles, uma talentosa geração de velocistas (Robson Caetano, André Domingos, Claudinei Quirino) e meio-fundistas (Zequinha Barbosa) conseguiram resultados importantes em olimpíadas e mundiais, o atletismo brasileiro de pista passou a aparecer cada vez menos nos quadros de medalhas das competições mais recentes.

As únicas glórias da modalidade nos últimos 10 anos vieram do campo, com os ouros de Maurren Maggi, no salto em distância, nos Jogos de Pequim-2008; e de Fabiana Murer, no salto em altura, no Mundial de Daegu-2011. Em provas de corrida, o bronze de Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona das Olimpíadas de Atenas-2004 foi o último resultado memorável. Desde então, foram quatro mundiais e três olimpíadas sem pódios.

Há 33 anos vivendo nos Estados Unidos, Joaquim Cruz se ressente da falta de um projeto que o traga de volta ao país. “Sempre pensei em retornar, mas, até este momento, não houve a oportunidade”, diz, com ar de lamentação. Nos últimos anos, o Comitê Olímpico Brasileiro negociou com o campeão olímpico, mas não chegou a um acordo. “Continuo ajudando a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e com os projetos do meu instituto”, afirma, sobre o Instituto Joaquim Cruz, em Brasília, que trabalha com jovens carentes.

As três décadas que separam o ouro de Los Angeles de hoje não diminuíram o desejo de Joaquim mudar a vida dos mais pobres no Brasil. “É até engraçada essa data. A gente que trabalha com o esporte nem vê o tempo passar. Não presta a atenção nos anos. Me surpreendi quando disseram que (a medalha) ia fazer 30 anos.”

Inspirado pelo aniversário de uma das maiores conquistas do esporte nacional, o Correio publica, até a próxima quarta-feira, uma série de reportagens sobre os caminhos do atletismo brasileiro. Dos tempos em que Joaquim começou, nas surradas pistas de Brasília, aos projetos que tentam elevar a modalidade a outro patamar no país.