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Atletas brasilienses esbarram na falta de patrocínio para viagem à Argentina

Caratecas têm desejo de ir ao Pan-Americano Interestilos, em Córdoba

postado em 16/05/2015 19:19

Carlos Moura/CB/D.A Press

Quem passa pela carateca Maria Eduarda Lima dos Santos Moura, 9 anos, moradora de Samambaia Sul, não imagina a quantidade de medalhas que ela já conquistou. Em 12 competições desde 2012, foram quatro pódios brasilienses, dois regionais e três nacionais, além de um Gran Prix, um Pan-Americano e um Sul-Americano.

Apesar do currículo recheado, mesmo com tão pouca idade, Maria Eduarda enfrenta problemas para conseguir disputar mais um Pan, desta vez, na Argentina, em julho: a falta de patrocínio. “Há uma dificuldade tremenda. Principalmente porque são crianças ainda, e as pessoas acham que eles não têm a disciplina de um atleta adulto. Mesmo eu mostrando os resultados deles, não há credibilidade com os meninos”, desabafa Valéria de Jesus dos Santos. Ela é mãe de Maria Eduarda, mas tem outro atleta em casa: Marcos Vinícius Lima dos Santos Moura, 11. Ambos começaram a competir juntos e colecionam vitórias. A mãe afirma que, em média, gasta R$ 3 mil a cada campeonato que ocorre fora de Brasília. Os custos são vários: inscrição, passagem, alimentação, hospedagem.

As despesas também pesam no bolso do representante comercial Geraldo Giovanni de Magalhães. A filha de 11 anos, Giulia Giovanna Xavier de Magalhães, foi prata no Campeonato Brasileiro de Karatê Interestilos em 2014. Embora a atleta tenha capacidade de disputar o ouro pelo Brasil na disputa do Pan, o sonho de ir à Argentina ainda é algo distante. “Falta incentivo das federações”, lamenta o pai.

O vice-presidente da Federação Brasiliense de Karatê Interestilos (FBKI), Ricardo Pinheiro, afirma que “a maioria das competições tem o patrocínio do GDF para transportar a Seleção daqui a Córdoba, mas hospedagem e alimentação dependem de cada um conseguir patrocínio para si”. Segundo Pinheiro, aproximadamente 1.150 atletas estão filiados à federação. Desses, 22 vão embarcar rumo à Argentina.

Em nível nacional, são 100 mil membros filiados à Confederação Brasileira de Karatê Interestilos (CBKI), afirma o fundador e presidente da entidade, Osvaldo Messias de Oliveira. Para ele — carateca há mais de 50 anos —, a principal dificuldade de obter apoio financeiro se dá pelo fato de o esporte ainda não ser uma modalidade olímpica e por estar dissolvido em muitas entidades. Segundo Messias, são mais de 50 confederações de caratê espalhadas pelo país. “Milhares deixam de competir por falta de patrocínio: são atletas de ponta, que defendem o Brasil, e quando precisam sair (do país), não têm condições”, conta.

A queixa é compartilhada pelo professor de caratê Alexandre Márcio Felisberto da Silva. “A dificuldade em conseguir patrocínio se dá por não ser um esporte televisionado. As tevês e rádios não fazem cobertura, então as empresas pensam que é um esporte menos sério.” Ele dá aula desde 1997 e é o sensei da academia na qual oito atletas estão preparados para encarar o Pan-Americano de Karatê Interestilos deste ano. Nenhum deles tem certeza de que participará do campeonato.

Frustração
Terceiro lugar no kumite individual masculino juvenil no Zonal Centro-Oeste de Karatê Interestilos de 2015, que ocorreu em Goiânia, em abril, Arthur Melo Sims, 16, também ostenta o título de campeão brasileiro na categoria infantojuvenil do kumite em equipe em 2012. Mesmo assim, não consegue disputar todas as competições. “É frustrante, porque você se prepara, treina, dá o máximo para conseguir alcançar aquele campeonato”, diz. “E não representar só você. E com isso, deixa que o seu estado e o seu país tenham uma pessoa a menos justamente pela falta de dinheiro e pela falta de patrocínio.”

Quem também encara a frustração é Júlia Fernanda Veloso de Oliveira, 13. Ela começou a ter aulas de caratê ainda no maternal e leva o treinamento a sério, com disciplina. Chegou a disputar o Campeonato Sul-Americano, em São Paulo, em 2014, machucada. A equipe médica a orientou a não entrar no tatame. Contudo, nada impediu a atleta, que recebeu o troféu de campeã por equipe carregada no colo. “Participar das competições é essencial, uma forma de incentivo ao atleta. Tudo o que a gente aprende aqui na academia, a gente exercita lá. É uma maneira de a gente conhecer também a forma de lutar de outras pessoas”, ressalta.