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ESPORTE PARALÍMPICO

Do camisa 10 ao sobrevivente: os brasilienses do Parapan de Jovens

Competição reúne jovens de até 21 anos em São Paulo

postado em 23/03/2017 14:59 / atualizado em 23/03/2017 15:53

Alexandre Urch/MPIX/CPB

Brasília está bem representada entre as promessas de 13 a 21 anos do esporte paralímpico que se reúnem em São Paulo para os Jogos Parapan-Americanos de Jovens, nesta semana. É do Distrito Federal João Victor Cortes, o camisa 10 da equipe que busca o tricampeonato no futebol de 7, modalidade praticada por atletas com paralisia cerebral, decorrente de traumatismo craniano encefálico ou acidentes vasculares cerebrais. Da mesma cidade, vem Wellington Maximo, que estampa por meio do carisma a satisfação por ter sobrevivido a um tiro acidental que atingiu o pescoço dele há sete anos. Aos 19, ele é um dos talentos da Seleção Brasileira juvenil de basquete em cadeira de rodas.

Nos gramados, o destaque do Brasil, que chega à final do Parapan invicto com três vitórias, chama-se João Victor. Trata-se de um meia armador forte, que, no auge dos 19 anos, carrega a braçadeira de capitão pela experiência que já acumula – conquistou o ouro com a Seleção no Parapan de Jovens de Buenos Aires, em 2013. Autor de três gols até o momento, ele nasceu em Santo Antônio do Descoberto com paralisia cerebral. O curioso é que o craque da Seleção “não era muito chegado em jogar bola”, como ele próprio conta, quando foi convidado por um professor para experimentar a modalidade paralímpica. Tanto que o convite para conhecer o futebol de 7 surgiu após o professor ver João Victor jogar basquete nas ruas de Vicente Pires.

Na mesma época, só que pelas quadras de Ceilândia, outro garoto chamava a atenção de um desses professores que mais parecem anjos da guarda dos talentos brasileiros. Aos 15 anos, Samuel Henrique Lima, que não tem a perna esquerda, jogava futebol com os amigos “de muletas mesmo”, como ele ressaltou, ao contar o episódio. Pois, neste caso, a situação se invertia: o convite era para o garoto que jogava bola com uma das pernas ir testar as habilidades com as mãos no basquete em cadeira de rodas.

Samuel foi revelado para o basquete em cadeira de rodas há dois anos. Hoje, aos 19, ele faz parte da Seleção Brasileira juvenil que venceu as duas primeiras partidas do Parapan. O camisa oito da equipe divide o gosto pelo basquete com a paixão pelo breakdance, um estilo de dança de rua que faz parte da cultura do hip-hop. Ele integra o grupo de dança New Old School, também de Ceilândia.

Na equipe verde-amarela, Samuel conta com outros dois conterrâneos: Milley Nunes, 17, e Wellington Maximo, 19. Os dois são de Planaltina e começaram a jogar basquete da mesma forma: a convite de um professor. Diferentemente dos outros brasilienses, nenhum deles estava brincando na rua quando isso ocorreu. Foram chamados enquanto estavam na escola.

Milley tem baixa mobilidade nas pernas em decorrência de uma paralisia cerebral e três derrames cerebrais que sofreu ainda quando nasceu prematuro de cinco meses. No basquete, ele começou aos 11 anos e, atualmente, se mostra um talentoso jogador. Tanto que foi visto por um olheiro da Seleção Brasileira enquanto jogava pelo atual time CEE Cetefe, de Brasília. Com um sorriso estampado no rosto e muita simpatia, ele conta orgulhoso que o basquete já lhe rendeu muitas conquistas.

Sobrevivente

O outro brasiliense da Seleção de basquete em cadeira de rodas juvenil escapou por pouco de não fazer parte desta equipe de vitoriosos. Wellington Maximo, vítima de um tiro acidental no pescoço enquanto o amigo mexia com uma arma dentro de casa, ficou entre a vida e a morte. O acidente afetou os movimentos do lado direito dele, mas quem o vê todo brincalhão ao sair de quadra nem imagina o drama que passou – ou, para os que sabem, talvez entenda o motivo de tamanha alegria, que parece não caber no largo sorriso. Aos 19 anos, o brasiliense sonha estar na seleção principal nas Paralimpíadas de Tóquio-2020. Talento e força de vontade, ele vem provando que tem.

O Distrito Federal conta com 12 representantes entre os 170 atletas que compõem a Seleção Brasileira no Parapan-Americano de Jovens. Antônia Vitória de Sousa representa a cidade na bocha; Lucas Lima, no judô; David Santos Neto, no tênis de mesa; Jade Moreira e Maria Fernanda Alves, no tênis em cadeira de rodas; Élcio Pimenta Júnior e Lucas Barros, na natação; e Jhonatas de Souza, no vôlei sentado.

Esta é a maior delegação levada pelo Brasil ao evento. Também é a primeira vez que o país recebe o Parapan de Jovens. Ao total, cerca de 800 competidores de 20 países estão reunidos em São Paulo para a competição, que está na quarta edição.

A repórter viaja a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro