Mais Esportes

ESPORTES AQUÁTICOS

Duas adolescentes lideram geração que faz o DF crescer no nado sincronizado

Luana Salvucci e Yasmin Yamamoto foram elogiadas pela técnica da Seleção Brasileira

postado em 04/06/2017 07:00 / atualizado em 02/06/2017 20:57


Conseguir destaque em um esporte pouco divulgado no país, como o nado sincronizado, pode ser difícil. Ainda mais para quem nunca teve tradição no cenário dominado por clubes do Rio de Janeiro e São Paulo. Apesar das dificuldades, Brasília tem superado as expectativas nas últimas competições. No mês passado, a equipe brasiliense que representa o Colégio Mackenzie ganhou medalhas inéditas no 5º Campeonato Interfederativo, em território carioca. Além do terceiro lugar nas categorias dueto, solo e figura, a capital ficou em quarto lugar no ranking geral e provou que tem potencial para brilhar.

A equipe formada por 11 meninas, entre 11 e 15 anos, é nova. Apesar de muitas terem conhecido a modalidade cedo, somente este ano começaram a competir juntas pelo Colégio Mackenzie. Isso só foi possível quando a técnica Simone Montenegro, 32 anos, começou a trabalhar na escola, em maio do ano passado. “Havia umas meninas que estudavam aqui. Eu comecei a dar aulas e iniciamos a modalidade no fim de 2016”, conta. Antes disso, a escola emprestava a piscina para os treinos nos fins de semana.

A direção do Mackenzie viu uma oportunidade e convidou as adolescentes para estudar com uma bolsa de 25% no início deste ano. Hoje, além da escolinha da modalidade, a equipe treina separadamente cinco vezes na semana. Além disso, faz trabalhos de flexibilidade, natação e musculação a fim de alcançar resultados como os do último campeonato. A técnica garante que tanta dedicação fez a diferença. “Elas cresceram muito tecnicamente por conta do apoio que temos”, avalia. Foi a primeira vez que o DF conseguiu uma medalha na competição.

Luana Salvucci, 14 anos, e Yasmin Yamamoto, 15, formam o dueto que ganhou a medalha de bronze na disputa. Além disso, Yasmin conquistou o terceiro lugar no solo e na figura. Ambas começaram o esporte com 11 anos em outra escola, em que Simone era a professora de nado sincronizado. Yasmin entrou nas aulas por recomendação médica; Luana, por causa de uma amiga. Desde então, não pararam de praticar a modalidade.

Carlos Vieira/CB/D.A Press

Dupla dinâmica

Apesar de praticarem juntas desde pequenas, apenas no ano passado começaram a competir como um dueto. “A gente sempre se via no nado e não se falava muito. Então, a Simone nos juntou, nós nos aproximamos e virou uma amizade”, conta Luana. A primeira competição ocorreu em Cancun, onde ficaram em sexto lugar. Depois, competiram na Argentina juntas e subiram uma posição. A evolução tem sido rápida e o objetivo é continuar nesse ritmo. As duas participaram da seletiva para a Seleção Brasileira no início do ano.

Yasmin chegou a passar no teste, mas não foi convocada, pois a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) não vai competir na categoria equipe no Mundial em julho, em Budapeste. “Fomos a fim de ver como seria a experiência. É uma correria para pegar coreografia rápido e treinar os elementos obrigatórios. Só de ter passado foi maravilhoso”, conta Yasmin. Ela afirma, que todos os dias, obstáculos são superados.

“Eu acho que nosso maior desafio é conseguir conciliar o esporte com a escola, porque, cada ano que passa, fica mais difícil”, observa. Luana concorda com a amiga, mas acredita ter se tornado mais dedicada aos livros depois que o tempo ficou escasso. “Nós prestamos mais atenção no colégio porque não temos tanto tempo para estudar depois”, comenta. Elas querem seguir conciliando o esporte e as aulas até quando for possível, uma vez que o grande sonho é estar em uma Olimpíada.

Recompensa e autoestima

Yasmin e Luana não têm dúvida: o esforço é recompensado. A mãe da segunda adolescente também tinha receio de as notas caírem devido a carga horária de treinamento, mas aconteceu justamente ao contrário. Daniela Salvucci, 47 anos, diz que é suspeita para falar sobre os benefícios, já que a família toda é envolvida de alguma forma com atividades físicas. “Eu fiz educação física; o pai corre; e minha filha mais velha é formada em balé”, conta. Ela relata que o nado sincronizado ajudou a filha em diversas áreas.

Carlos Vieira/CB/D.A Press
Aos 8 anos, Luana foi diagnosticada com Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC). O DPAC consiste em uma dificuldade de processar as informações captadas pela audição. Para tentar driblar o problema, os médicos indicaram esportes. “A memorização das coreografias e outras habilidades envolvidas no nado a ajudaram a superar isso”, explica a jovem. Com isso, a autoestima também se fortaleceu.

Daniela se emociona toda vez que vê a filha em uma competição. “É muito legal acompanhar a evolução dela. Luana é um pouco insegura e nosso papel é mostrar que ela é capaz. Quando ela vê que dá conta no final, ela mesmo se fortalece”, diz, emocionada.

Em busca de talentos

Após o campeonato realizado nos últimos dias de maio, as meninas participaram da clínica do projeto Novos Talentos, organizada pela CBDA. A clínica, ministrada pela técnica da Seleção Brasileira da modalidade, Maura Xavier, é destinada a técnicos, árbitros e atletas. Segundo a treinadora, a ideia nasceu há quatro anos e tem o intuito de reunir competidores de todos os estados. “Às vezes, os estados não podem participar de algumas competições por falta de recurso. Aqui na clínica, quase todo mundo vem”, diz Maura. A treinadora explica que o projeto ocorre depois do Campeonato Interfederativo e inclui aulas teóricas e treinamentos práticos ao lado de atletas da Seleção. “O projeto é uma forma de a base se juntar com o alto rendimento. É uma oportunidade de estar com os ídolos”, analisa.

Maura esteve em contato com as atletas de Brasília e nota a evolução da capital há algum tempo. “Brasília vem em crescimento visível. Antes mesmo dessa competição, já havia me chamado atenção”, conta. Apesar do crescimento, ela reconhece que os estados que colocam atletas dentro das seleções ainda são Rio de Janeiro e São Paulo.

Para mudar esse cenário, Maura explica que é necessário um aumento no número de atletas no país. “O último ciclo olímpico foi muito bom para nós. Serviu para divulgar o nado e desmistificar a imagem de um esporte elitizado”. Na época em que Maura era atleta, ela relembra que só havia duas federações. No último campeonato brasileiro, 17 entidades estavam presentes.