Mais Esportes

MMA

Depois de uma era de domínio no UFC, Brasil corre risco de ficar sem cinturão

Amanda Nunes defenderá o único título nacional no UFC 213, em 8 de julho

postado em 26/06/2017 10:00 / atualizado em 26/06/2017 13:50

Christian Petersen/AFP
Há cinco anos, o Brasil celebrava um recorde, no momento em que o país ganhava seu quarto cinturão simultâneo no Ultimate Fighting Championship (UFC) — o principal evento de artes marciais mistas do mundo. Hoje, os tempos são outros. Sem os títulos de Anderson Silva, Júnior Cigano, José Aldo e Renan Barão, a presença verde e amarela nos grandes octógonos minguou. Em breve, o Brasil corre o risco de ficar sem nenhum cinturão. Último bastião nacional, Amanda Nunes defenderá o título contra a peruana Valentina Shevchenko em 8 de julho, no UFC 213, de Las Vegas.

Se a leoa baiana não conseguir manter o cinturão, o Brasil voltará à estaca zero. A possibilidade de ficar sem títulos, porém, não assombra atletas e treinadores — ao menos no discurso oficial. Para o técnico Dedé Pederneiras, a má fase é normal. “Ganhar e perder faz parte do esporte, isso é coisa de momento”, avalia. Treinador de campeões, como José Aldo e Renan Barão, ele acredita que os brasileiros seguem competitivos em todas as categorias. “Se você for parar para analisar, viemos de quatro disputas de títulos. Mas, como perdemos, as pessoas já jogam pro pior lado”, reclama.

Para ele, a fase seria preocupante se as disputas de cinturão só ficassem entre os outros países. Nas últimas quatro lutas por cinturão deste ano, os brasileiros estavam presentes, mas a vitória não veio. Mesmo com as derrotas, Pederneiras aponta que seria precipitado dizer que a fase é crítica. “A Amanda (Nunes) tem grandes chances de manter o nosso cinturão. Ela já vai com experiência da última defesa e está em uma ótima fase”, analisa.

Sem apoio

A falta de incentivo ao esporte é o mantra em qualquer modalidade. O discurso se repete até no MMA, uma das práticas que mais cresceram no Brasil nos últimos anos. “A questão não é nem de treinamento, mas aqui você tem que se desdobrar para ser atleta”, diz Pederneiras. Segundo ele, no exterior o lutador pode se dedicar aos treinos em tempo integral. No Brasil, isso ainda é diferente.

Rafael Cordeiro, proprietário e treinador da academia Kings MMA, localizada nos Estados Unidos, concorda com o colega de profissão. O técnico vive nos EUA há 9 anos e explica que os atletas de fora podem abdicar tempo do trabalho para treinar e, dessa forma, viver para o esporte. “O brasileiro com pouco investimento e sem suporte de patrocínio mostra que é bom de porrada lutando contra essas dificuldades”, observa. Ele lembra que, entre os top-5 de cada categoria, há um brasileiro.

Cordeiro já treinou grandes nomes, como Anderson Silva, Maurício Shogun e Rafael dos Anjos. Atualmente, trabalha com Fabrício Werdum. Rafael acredita que o país ficou mal-acostumado ao ver grandes lutadores, como Anderson e Aldo, defendendo títulos por muito tempo. “O esporte é feito de mudanças e o país vai voltar a dominar o cenário”, confia. A próxima aposta dele, além da vitória de Amanda Nunes, é o triunfo do próprio atleta, Werdum.

Werdum planeja recuperar o título

David Manning/USA TODAY Sports
Fabrício Werdum era o campeão do peso-pesado até maio do ano passado, quando perdeu para Stipe Miocic no UFC 198, em Curitiba, logo em sua primeira defesa de cinturão. “O sentimento foi horrível. Foi o primeiro UFC em um estádio de futebol no Brasil e minha luta era a principal. Estava todo mundo esperando uma vitória e eu não consegui entrar 100%”, recorda. Ele chegou a comprar 250 ingressos para os familiares e amigos.

O gaúcho diz que conseguiu absorver a derrota e confia na preparação para a próxima luta e o caminho a ser percorrido rumo a uma nova disputa de título. A próxima disputa é contra Alistair Overeem no mesmo evento em que Amanda Nunes vai lutar, em 8 de julho. “Acredito que se eu fizer uma boa luta, ganhar com um nocaute, impressionar os fãs e o UFC, eu volto direto para disputar o título”, considera. Werdeum enfrentou Overeem duas vezes. Com uma vitória para cada lado, o próximo encontro terá de desempatar a trilogia.

Para o brasileiro, houve muita evolução da própria parte em relação aos confrontos passados. “Acho que eu evoluí muito mais do que ele. Eu desenvolvi outras modalidades que estavam ruins no meu treinamento. Na época, eu fazia só jiu-jitsu e não sabia nada da parte em pé”, constata. O lutador está sem nenhuma lesão e se diz preparado para a vitória. O treinador confirma. “Ele está indo com uma frieza e uma concentração muito grande”, completa Rafael Cordeiro.

Werdum reconhece a fase ruim vivida pelo Brasil no UFC, mas é mais um confiante, dizendo que é uma questão de tempo até o Brasil recuperar os cinturões. “A evolução dentro do esporte é grande. Cada vez chegam mais lutadores novos e isso faz com que exista essa troca direta de campeão”, explica o lutador, que ainda vê o MMA brasileiro como o melhor do mundo. “Temos essa coisa de lutar com o coração, com raça, que diferencia o brasileiro dos outros.”

Um ano depois?

A última vez que o país ficou sem títulos no UFC foi em julho do ano passado, quando Rafael dos Anjos foi nocauteado por Eddie Alvarez e perdeu o cinturão do peso-leve. Apesar do momento temido pelos brasileiros, dois dias depois de ficar sem nada nas mãos, Amanda Nunes venceu a disputa contra a americana Miesha Tate e, desde então, é a campeã da categoria peso-galo. A baiana fará neste ano a segunda defesa do título, pois em 2016 lutou contra a ex-campeã da categoria Ronda Rousey e manteve o cinturão.

As últimas disputas

UFC Kansas (15 de abril)
Luta:
Demetrious Johnson x Wilson Reis
Peso: Mosca
Decisão: Johnson ganhou por finalização no 3º round

UFC 211 (13 de maio)
Luta:
Stipe Miocic x Junior Cigano
Peso: Pesado
Decisão: Cigano perdeu por nocaute técnico no 1º round

UFC 211 (13 de maio)   
Luta:
Joanna Jedrzejczyk x Jéssica Andrade
Peso: Palha
Decisão: Joanna venceu por decisão unânime

UFC 212 (3 de junho)   
Luta:
José Aldo x Max Holloway  
Peso: Pena  
Decisão: Aldo perdeu por nocaute técnico no 3º round