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Projetos da capital ajudam a integrar deficientes ao esporte

Tênis e vela adaptada são as modalidades ensinadas para promover a integração

postado em 21/07/2017 09:20 / atualizado em 21/07/2017 09:41

Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press
Nem sempre o esporte serve apenas para formar atletas de alto rendimento. Promover qualidade de vida e lazer são alguns dos papéis das práticas esportivas na sociedade. Para alguns, o esporte representa mais do que isso. Permite aos deficientes intelectuais e físicos, por exemplo, a integração na sociedade. Essa é a missão de alguns dos projetos existentes na capital.

Um é praticado em quadras e o outro, no Lago Paranoá. Um, recém-lançado, e outro com mais tempo de existência na cidade. Tanto o projeto Tô no Jogo quanto o Vela para Todos promovem a integração e abrem novas portas para deficientes por meio do esporte. Desde março deste ano, o projeto Tô no Jogo movimenta a rotina e ensina tênis a alguns deficientes intelectuais. A ação partiu da ex-tenista Cláudia Chabalgoity, 46.

Cláudia foi um dos principais nomes do tênis brasileiro nos anos 1980. É conhecida por trabalhar com projetos sociais que envolvem esportes e deficientes desde 2000. Ao longo de sete anos, ela coordenou o Programa Inserir, de desenvolvimento do tênis em cadeira de rodas. O programa acabou em 2007 por falta de patrocínio. Desde então, Cláudia pensava em voltar para o ramo.

A ideia começou na faculdade de psicologia que ela começou a cursar em 2010. “A faculdade me fez entender ainda mais a importância da união do esporte com o desenvolvimento do ser humano integralmente”, explica. Além dos professores de tênis, o projeto conta com psicólogos e terapeutas. Desenvolvidas com o apoio do BRB, as aulas acontecem todas as tardes de segundas e quartas. A faixa etária é ampla. Podem participar crianças a partir de cinco anos até adultos e idosos.

A primeira turma de alunos veio de uma parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Distrito Federal (APAE-DF). Vinte alunos estão sendo assistidos pelo projeto e os resultados começaram a aparecer. Para Cláudia, é emocionante observar os avanços. “Eles chegaram meio fechados e, hoje, te cumprimentam e chegam com um sorriso no rosto”, conta. Cláudia observa que a evolução pode ser notada também na questão motora e na confiança que ganham com o processo todo.

Equipe profissional

Em esquema de circuito, os alunos passam por quatro estações, nas quais o corpo é trabalhado em todos os aspectos. A área que trabalha o esporte é dividida em duas. Na quadra de tênis, os alunos jogam e praticam a modalidade. Ao lado, na quadra de areia, a proposta é trabalhar a coordenação para que aprimorem a forma de jogar.

De acordo com o professor de tênis de praia Júlio César Rocha, 36, o processo é mais lento porque o trabalho não é tão dinâmico. “Aqui nós vamos no tempo deles. Damos a opção se eles querem fazer ou não o exercício e eles têm o poder de escolha”, explica. As outras duas estações trabalham mais a mente. Uma desenvolve a consciência corporal e a outra, a terapia psicológica.

Isabel Nabuco, 46, é a responsável pela estação de terapia corporal. Ela explica que o trabalho consiste em estimular a percepção por meio do movimento. “Nosso objetivo é que o aluno tenha maior consciência de si mesmo e possa ter um corpo mais equilibrado”, esclarece. A terapeuta corporal nunca havia trabalhado com deficientes intelectuais e vê a motivação dos alunos como uma característica marcante.

Um deles é Henrique Guimarães, 21. A motivação do jovem é o próprio esporte. A parte preferida das aulas é estar dentro de quadra. Além do tênis, o vôlei, futsal, natação e futebol estão na lista de atividades. “Tudo que me colocam pra fazer eu corro atrás, porque acredito que é uma nova oportunidade”, observa Henrique.

Vela para Todos

Carlos Vieira/CB/D.A Press
Os projetos não ocorrem apenas em quadras esportivas. O cenário de um deles é o Lago Paranoá. Desde 2009, o projeto Vela para Todos oferece barcos de vela adaptados para que pessoas com qualquer tipo de deficiência possam velejar. O coordenador técnico do programa e da Federação Brasiliense de Vela Adaptada (FBVA), Bruno Pohl, 54, explica que a intenção é evitar a exclusão e facilitar o acesso de mais pessoas ao esporte.

“No esporte adaptado, a pessoa passa por uma classificação. Nós vimos que muitas tinham uma lesão mais branda, não se enquadraram e ficaram de fora”, conta. Em 2012, a FBVA foi criada para auxiliar a captação de recursos e a coordenação do projeto. No mesmo ano, a Embaixada da Austrália doou 12 barcos da classe Hansa 2.3.

Hoje, o projeto também tem o apoio do BRB, e Brasília conta com 18 barcos da classe Hansa 2.3 e 303. Os 25 alunos têm aulas de terça a sábado e a faixa etária não deixa quase ninguém de fora. A partir de 7 anos, pode-se participar das aulas gratuitas no Cota Mil Iate Clube. Além dessa atividade, a federação oferece passeios esporádicos para entidades parceiras que auxiliam deficientes.

O alto rendimento também se mostra presente. A mais recente conquista foi o título de vice-campeã da velejadora Ana Paula Marques, 34, no Campeonato Mundial de Vela Adaptada, em Kiel, na Alemanha. A gaúcha radicada em Brasília ficou paraplégica após ser atingida na coluna por um tiro, quando tinha 20 anos. O brasiliense Estevão Lopes também representou a cidade e terminou na 17ª colocação da classe masculina.