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Aos 14 anos, brasiliense Kaká Fumaça tentará vaga na seletiva do Mundial

Rapaz tentará vaga na Red Bull MotoGP Rookies Cup, considerada a porta de entrada para as categorias de base da MotoGP

postado em 21/09/2017 11:00 / atualizado em 21/09/2017 11:17

Minervino Junior/CB/D.A Press
Kaká Fumaça tem apenas 14 anos de idade, mas apresenta o currículo de uma década como piloto de motovelocidade. Competiu pela primeira vez quando tinha 4 anos, em uma minimoto, apenas um mês após aprender a guiar. Tamanha precocidade começa a ser testada para valer a partir do mês que vem, na Espanha, durante uma seletiva para a Red Bull MotoGP Rookies Cup. A competição é considerada a porta de entrada para as categorias de base da MotoGP, principal campeonato da categoria no mundo.

Mas se a idade mínima para tirar a carteira de motorista no Brasil é de 18 anos, como um adolescente de 14 pilota? Assim como vários adolescentes conseguem se aventurar até na Fórmula 1: uma superlicença. Kaká é atleta federado da Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM), o que permite que ele dispute as provas da modalidade. Mas ele só pode guiar em autódromos.

A Red Bull Rookies Cup é uma competição monomarca considerada celeiro de nomes de destaque da motovelocidade, como o francês Johann Zarco, campeão da Moto2 em 2015 e piloto da Yamaha Tech 3 na MotoGP deste ano. “É uma porta importante para a categoria de base da MotoGP. Vários pilotos começaram a carreira profissional lá”, afirma Kaká — na verdade, Kaywan Alves Freire da Costa, que ganhou o apelido de Fumaça por causa de um amigo da mãe e é chamado de Kaká porque era difícil as pessoas acertarem a pronúncia do nome dele. A seletiva será de 16 a 19 de outubro, em Almería, na Espanha. No último dia, os atletas que mais se destacarem recebem o convite para correr na Red Bull Moto GP Rookies Cup 2018.

No ano passado, por exemplo, 117 pilotos de 32 países participaram da seletiva. Apenas 11 foram selecionados para o grid — entre eles, o brasileiro Meikon Kawakami, também com 14 anos na época. Na temporada atual, ele ocupa a 12ª colocação do campeonato de novatos. “Quem se destacar pode ser chamado por olheiros de outros campeonatos também. É muito importante pela visibilidade e pela questão financeira. A estrutura deles conta muito também”, completa o brasiliense.

A oportunidade

Além de começar a guiar cedo, Fumaça fez dois cursos de pilotagem. Um durante o evento Capital Racing, em 2014, e outro no Centro de Pilotagem Wesley Testa, em 2015. Não é rara a presença de crianças nas corridas do Superbike Series, principal campeonato nacional de motovelocidade. A competição tem uma categoria escola só para pilotos de 8 a 16 anos, a Honda Junior Cup.

Minervino Junior/CB/D.A Press
Sem muito dinheiro na carteira, foi campeão brasiliense de minimoto nas categorias de 125cc e 150cc. Em 2016, sagrou-se vice-campeão na categoria especial da Kawasaki Ninja 300cc do Campeonato Goiano. Agora, ele corre com uma moto da Yamaha, de 320cc, mas tem que treinar com a Kawasaki. “Existem diferenças entre as motos. Na pista, o piloto sente isso”, analisa Kaká. Atualmente, Kaywan disputa a Yamaha R3 Cup, na qual ocupa o quinto lugar na categoria STK. A moto que ele pilota tem 320 cilindradas de potência e pesa 167kg, mais que o triplo do peso de Fumaça — 56kg.

Na Espanha, as dificuldades serão maiores. A seletiva será disputada com uma moto Metrakit 125cc pré-GP. Além disso, ele só conhece o circuito de Almería por fotos na internet. “Eu quero sempre evoluir, me destacar mais. É gostoso demais sentir aquele gosto de competição. Fico emocionado”, explica o piloto.

Alto custo

O grande desafio da carreira de Kaká Fumaça é a falta de recursos para continuar numa modalidade extremamente cara. Os pais — Élcio Freire, motorista, e Cida Freire, gestora de imóveis — procuram meios de financiar o teste na Espanha. Eles estimam o valor do montante entre R$ 15 mil e R$ 20 mil. Umas das alternativas encontradas foi a realização de uma feijoada. A Escola Piaget, onde Kaká estuda, abrigará o almoço em 7 de outubro. A entrada custará R$ 25 por pessoa.

E não é de hoje que a família investe no sonho do filho. Em 2016, por exemplo, eles gastaram entre R$ 60 mil e R$ 70 mil para que o garoto pudesse disputar a categoria Kawasaki Ninja 300cc. “Deixei de pagar a prestação do meu carro. Acabou que o banco levou o veículo. Mas é um pai frustrado realizando um sonho do filho”, brinca Élcio.

Este ano, Fumaça foi convidado para ser piloto da equipe da Yamaha na categoria monomarca da fabricante japonesa. Porém, ainda precisa desembolsar R$ 2 mil por etapa. Além disso, caso caia durante as provas, o piloto é responsável pelo conserto do equipamento. “Ele caiu uma vez e pagamos quase R$ 2 mil nos reparos”, continua Élcio. “Às vezes, vem na cabeça (o risco de cair). Isso me impede de fazer algumas coisas, de arriscar um pouco, porque posso tombar”, conta Kaká. Os custos são aliviados pela solidariedade de amigos. O macacão de Kaká, por exemplo, foi uma doação — o modelo custa cerca de R$ 3 mil. Capacete, luvas, botas são outros acessórios que o piloto ganhou. Já a moto Kawasaki 300cc, que custa R$ 22 mil, está sendo paga. As prestações são quitadas com o salário mínimo que a Fenacon, onde Élcio trabalha, doa para a carreira de Kaká, todos os meses. Também é da empresa o plano de saúde que cobre a família e que atende o piloto quando necessário.

*Estagiário sob a supervisão de Leonardo Meireles