#VaiTerOlimpíada: a um ano da abertura, Jogos escapam de protestos

Diferentemente do #nãovaitercopa a 365 dias do Mundial, Olimpíadas do Rio passa despercebida das queixas populares. Movimentos sociais prometem ebulição em breve

postado em 05/08/2015 09:26 / atualizado em 05/08/2015 13:44

Alexandro Auler/Agência O Globo
 

 

Quem esquadrinhar as ruas em busca de sinais mal vai perceber que, daqui a exatamente um ano, em 5 de agosto de 2016, o Rio de Janeiro receberá a cerimônia de abertura da 31ª edição da era moderna dos Jogos Olímpicos. Depois da ebulição social do ano pré-Copa do Mundo, quando movimentos sociais — com ou sem pauta definida — dominaram as ruas do Brasil, os últimos meses que antecedem as primeiras Olimpíadas da América do Sul veem uma tranquilidade quase inesperada.

Em 2013, quando restava um ano para o início da Copa, as “jornadas de junho” levaram, no auge, cerca de 1,5 milhão de pessoas às ruas de mais de 400 cidades brasileiras. Os protestos começaram com a demanda de tarifa zero para o transporte público, pauta do Movimento Passe Livre (MPL), e se propagaram com as inúmeras manifestações contra os gastos públicos com o Mundial em detrimento de mais investimentos em educação, saúde e segurança.

Mesmo com os quadros político e econômico mais instáveis do que naquele tempo, a contagem regressiva para as Olimpíadas não tem mobilizado a população nesse sentido. Sociólogos e integrantes de movimentos sociais ouvidos pelo Correio acreditam que o principal motivo para o marasmo popular seja o fato de que o evento do ano que vem se restringe a uma cidade, enquanto a Copa abrangia todas as regiões do país.


Até mesmo o agravamento da crise política ajuda a explicar a calmaria das ruas. “Nosso movimento tem se debruçado mais sobre as questões de ajuste fiscal e intervenções de segurança pública”, conta Vítor Guimarães, integrante da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) no Rio de Janeiro. Mas o aprofundamento das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público em esquemas de corrupção envolvendo empresas estatais arrisca mudar o cenário.

“Há bastante imprevisibilidade do que pode acontecer nos próximos meses”, aponta Marcello Cavalcanti Barra, pesquisador de política social no Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, a visibilidade internacional garantida pelos Jogos deve motivar protestos no Rio em breve. “A sociedade não para, ela tem momentos de calmaria, mas os movimentos sociais estão aí”, concorda o chefe do Departamento de Sociologia da UnB, Brasilmar Ferreira. “É uma ilusão de que está tudo calmo, porque a sociedade muda permanente”, completa.


De fato, os movimentos prometem mobilização no ano que vem. “Sem dúvida. Estar na rua é uma maneira de protestar contra as violações que a gente sofre”, explica Renato Cosentino, integrante do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas há cinco anos. Ele avalia que a insatisfação supera as remoções e as perseguições a trabalhadores informais. “A cidade optou por um modelo totalmente antidemocrático. As pessoas não participam de nada e esse modelo não mudou. Ele se utiliza da Copa do Mundo e das Olimpíadas para se legitimar”, repreende. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto também pretende ir à rua em 2016.

Repressão

Há um protesto marcado para hoje (05/08), às 15h, em frente à Prefeitura do Rio — até agora, menos de mil pessoas confirmaram presença no evento no Facebook que convoca para o “Olimpíadas para quem?”. “Pergunta para alguém que esteve na (Avenida) Presidente Vargas em 20 de junho de 2013 se ela voltaria hoje”, ironiza Cosentino. Militantes e especialistas julgam que a repressão policial crescente contra os movimentos, iniciada um ano antes da Copa do Mundo, afasta a população das ruas.

O poder de repressão também é visto por Gabriel Santos Elias, mestre em ciências políticas, como agente eficaz na redução do poder de mobilização. Para ele, porém, mais importante é o fato de o Executivo não ter dado atenção suficiente às demandas. “O governo fechou as portas para aquele movimento que pedia justiça social. Assim, fortaleceu os protestos que estão nas ruas agora, nos quais muitas pessoas não valorizam a democracia”, critica.

O cenário das manifestações de 2015 não tem mais a mesma natureza do de 2013, na reta final da preparação para a Copa do Mundo. “O ambiente está totalmente politizado, há uma luta de partido e de poderes”, diz Elimar Pinheiro, doutor em sociologia pela Universidade de Paris. Isso afastaria os mais jovens, atores principais dos protestos do Mundial de 2014.

Com Copa e Olimpíadas, o Brasil terá recebido os dois maiores eventos do esporte mundial num intervalo de dois anos, com gastos públicos que — ao menos até a última atualização — chegam a R$ 49 bilhões. Já é certo que os Jogos de 2016 vão custar mais que o Mundial, principalmente para a prefeitura e o estado do Rio, mas, ainda assim, os especialistas acreditam que o Comitê Olímpico Internacional (COI) não terá de lidar com as faixas e cartazes que pretendiam expulsar a Fifa do país, porque a instituição não está envolvida em escândalos de corrupção. Ainda assim, é bom que se prepare: a tranquilidade de hoje, cedo ou tarde, deve acabar.